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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

#CORRUPÇÃO Na terra da Branca de Neve


30 de outubro de 2011 | 10:00 | Crônica |

Houve um tempo em que ser ministro era o máximo da glória e da honraria; quando um ministro entrava numa sala, as pessoas emudeciam, tremendo de respeito e orgulhosas de dividir o ambiente com tão nobre figura. Ser filho de ministro, então, não havia nada de melhor; conheci alguns que praticamente pegaram por osmose a honradez do pai. Um deles, louquíssimo, chegava causando às festas do Rio, sempre com um copo de uísque na mão, mas era tratado quase como um filho de papa — caso papa tivesse filho, é claro.

Quando se pensa num ministro, vêm logo à cabeça figuras do naipe de Rui Barbosa, Disraeli, Metternich, Otto von Bismarck, Winston Churchill, Margaret Thatcher, gente sólida, quase de ferro, intransigente em sua posição na defesa de um governo e de um país. Um ministro povoava o imaginário coletivo com a imagem de um bigodão bem farto, a cara amarrada, a silhueta corpulenta. Com ele não se brincava.

O aburguesamento das funções de Estado, que começou no pós-Revolução Francesa, preparou terreno para o surgimento dos grandes ministros dos séculos 19 e 20. Antes, eles eram escolhidos entre a casta da nobreza que moscava em torno dos reis. Quem não se lembra de Fouquet, o ministro de Luís XIV, que deu uma festa nababesca em seu castelo de Vaux-le-Vicomte a título de homenagear seu soberano? A festa foi tão maravilhosa, tão impressionante, que o rei decidiu prendê-lo por malversação de dinheiro público — Fouquet morreu preso no castelo de Pignerol, nos Alpes da Saboia, depois de 16 anos sem pôr os pés na rua.

Em comum, Barbosa, Disraeli, Metternich, Bismarck, Churchill e Thatcher tinham o firme propósito de ultrapassar suas funções políticas para fazer História, aquela com “h” maiúsculo. Nem sempre suas decisões foram acertadas ou o sucesso esteve a seu lado; Rui Barbosa, por exemplo, foi protagonista da desastrosa política econômica do encilhamento, o partido conservador de Churchill, mesmo depois da vitória do ministro na Segunda Guerra, não conseguiu ganhar as eleições na Inglaterra em 1945. Mas esses revezes não os apequenaram. Ao contrário, eles pareciam até ter saído maiores da momentânea desgraça.

Mas isso é passado. O Brasil viveu este ano o máximo da avacalhação do papel do ministro de Estado. Cinco pediram demissão após denúncias de corrupção e outro caiu por causa da língua que não cabia na boca. Se não entregassem a famosa carta à presidente Dilma, seriam mandados embora do mesmo jeito. Aos relembrarmos os últimos 20 anos, o currículo da Esplanada dos Ministérios é triste, de Zélia, que confiscou nossa tão suada poupança, a Lula, que perdeu nove ministros. Nos últimos nove anos, o Brasil viu cair 15 ministros acusados de envolvimento em escândalos de corrupção.

Fico imaginando o momento do pedido da demissão. Devem imperar aquela situação embaraçosa, a lembrança dos abraços e apertos de mão da cerimônia de posse, os bajuladores que imploravam favores, o constrangimento de não entregar o que foi prometido à patroa, o peso de saber que sua cabeça seria cortada de qualquer jeito, mesmo que ele não a oferecesse numa bandeja de prata, ou melhor, ferro oxidado. Como voltar para casa e explicar à família que você decepcionou uma nação inteira, que chegou à Brasília alçado ao mais alto cargo de confiança do país e que saiu de lá tendo que prestar explicações à Justiça, investigado?

E não me venha com a conversa mole de que a presidente está fazendo uma faxina essa história não cola mais. Por acaso alguém limpa a casa só depois que aparecem os ratos e que a poeira forma uma crosta negra em cima dos móveis? Ou faxina é um ato diário e infinito de culto ao perfume do lar e à saúde? Pelo menos ela demite, dizem alguns. Há outra opção?

As soluções que Dilma encontrou para preencher as cadeiras vazias tampouco convencem. Quem disse que a ministra Ideli Salvatti ficou feliz ao sair do produtivérrimo Ministério da Pesca para assumir o das Relações Institucionais? E se ela tivesse nascido com a vocação para o Ministério da Pesca e fosse umbilicalmente apegada à causa dos peixes? Aliás, alguém saberia recitar o nome de todos os ministros, como os dos apóstolos e os dos jogadores da Seleção Brasileira? Na verdade, ninguém se interessa por uma lista que pode mudar amanhã ou depois.

Aproveitando a onda de indignação no país em relação à queda em série (indignação de boteco, porque ninguém vai de verdade às ruas levantar a voz), Dilma deveria dar um tempo na lista de indicações políticas mostrada por ÉPOCA na semana passada e recrutar profissionais com experiência nos domínios desses ministérios, que se disponham a moralizar suas pastas, que tenham uma sede incontrolável de alcançar metas e prestar o bem a esse povo tão sofrido, tão roubado, tão desprezado. Pessoas com paixão pelo que fazem e que conhecem profundamente as áreas em que vão atuar, que saibam ressaltar as virtudes das boas ações e estancar os vícios desse Estado manco e aparelhado.

Pessoas que não se apequenem diante da sedução de seu cargo, que almejem se tornar grandes ao fazer do Brasil um grande país. Quando o sétimo ministro cair (a essa altura do campeonato, ninguém tem dúvida de que isso vá acontecer), quem poderá culpar os humoristas que apelidarem a presidente de Branca de Neve? Nessa fábula política, os ministros viraram sapos, a madrasta é a corrupção e o final infeliz sobrou para todos nós, povo brasileiro.

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São lula, o padroeiro dos blogues e blogueiros alugados. Festejar a doença ou a morte de alguém, mesmo que seja um kadafi, é uma mesquinharia sem tamanho, Assim como querer santificar um governo tão corrupto como este liderado por este senhor.

LAST







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