DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Ao menos 2.000 manifestantes deixaram a praça Tahrir, palco de protestos que exigem a renúncia de Hosni Mubarak há 17 dias, e marcham agora rumo ao palácio presidencial, onde está o ditador, indica a emissora CNN.
A TV árabe Al Jazeera também confirma a informação e seu correspondente no centro do Cairo diz que entre a multidão ouvem-se gritos de "Estamos indo ao palácio presidencial. Estamos indo como milhões de mártires".
Os protestos ocorrem em reação ao pronunciamento do ditador Hosni Mubarak, que nesta quinta-feira recusou-se a deixar o comando do país, frustrando expectativas de que renunciaria. Ele apenas passou grande parte de seus poderes de governo ao vice, Omar Suleiman.
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Ainda de acordo com o correspondente do jornal britânico "Guardian", o prédio das emissoras de rádio e TV estatais do Egito também está sendo cercado pelos manifestantes, que prometem mostrar sua fúria frente à permanência de Mubarak no cargo.
Às 2h14 locais (22h14 em Brasília), o clima nas ruas do centro do Cairo é de raiva e antecipação pelas primeiras horas da manhã de sexta-feira, dia das orações sagradas para os muçulmanos.
Estima-se que o dia registre violentos protestos em todo o país. Mais cedo, milhares demonstraram sua frustração após o discurso de Mubarak e pediram que o Exército se unisse a eles contra o ditador.
Centenas de manifestantes tiraram os sapatos e os agitaram em frente aos telões pelos quais assistiam ao discurso de Mubarak --um insulto em sociedades árabe--, enquanto outros gritavam: "Abaixo Mubarak, saia, saia!"
Outros, ainda, pediram a convocação de uma greve geral e dirigindo-se aos militares, que mobilizaram grande número de tropas na região central do protesto: "Exército egípcio, o momento da escolha é agora, o regime ou o povo!".
Patrick Baz/AFP | ||
Manifestantes lotam as ruas do Cairo; multidão se rebela depois que Mubarak anuncia que continuará no poder |
ELBARADEI E IRMANDADE MUÇULMANA
Mais cedo, o líder da oposição egípcia Mohamed ElBaradei reagiu em sua conta no Twitter. "O Egito explodirá. O Exército deve salvar o país agora", afirmou o vencedor do prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica das Nações Unidas).
Já o porta-voz da Irmandade Muçulmana egípcia, Issam al Arian, garantiu que não farão nesta quinta-feira nenhum comentário sobre o discurso pronunciado nesta quinta-feira à noite pelo ditador Hosni Mubarak, no qual delegou poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman.
Membro da direção do grupo islâmico, o maior da oposição egípcia, al Arian insistiu que a Irmandade não se pronunciará oficialmente até a sexta-feira.
Nesta quinta-feira, em entrevista coletiva, os integrantes da Irmandade Muçulmana classificaram de "monólogo" o diálogo iniciado, junto de vários grupos políticos e personalidades com Suleiman e exigiram uma transição rápida "a partir da antiga legitimidade".
"Rejeitamos o monólogo, o que queremos é diálogo. Queremos soluções em dias e não em meses", afirmou nesta quinta outro porta-voz da organização islâmica, Mohammed Mursi.
VOLTEM PARA SUAS CASAS
Pouco após receber parte dos poderes de governo do ditador Hosni Mubarak, o vice-presidente egípcio Omar Suleiman falou à nação na TV estatal pedindo aos manifestantes que voltem para casa e para seus postos de trabalho, solicitando assim o fim dos protestos que há 17 dias acontecem no país.
"Aos que estão preocupados com a estabilidade do Egito, peço que se unam para o bem do país", afirmou Suleiman em seu primeiro pronunciamento após receber poderes do ditador Mubarak.
O vice causou polêmica ao dizer que os manifestantes não devem dar atenção às emissoras por satélite (estrangeiras como as árabes Al Jazeera e Al Arabiya, a britânica BBC e a americana CNN) "que não têm interesse no benefício do Egito".
Cris Bouroncle/Khaled Desouki/AFP | ||
Vice egípcio, Omar Suleiman (à esq.) receberá parte dos poderes do ditador Hosni Mubarak |
Desde o início da crise Suleiman tenta sugerir que agentes israelenses ou membros de países ocidentais estejam entre os organizadores dos protestos como "espiões", defendeu-se a CNN minutos depois.
"O movimento '25 de Janeiro' conseguiu atingir mudanças importantes. Já em seu outro discurso o presidente [Hosni Mubarak] tinha mencionado reformas nacionais. Ele é responsável pelas ações nacionais para preservar a segurança e a estabilidade do Egito, para restaurar a paz e a tranquilidade e a normalidade nas ruas do país", disse.
Analistas indicam que a primeira fala de Suleiman aos manifestantes --que estão enfurecidos e desapontados com o fato de que Mubarak não renunciou-- envia sinais cruzados ao saudar o movimento como uma "revolução" mas ao mesmo tempo pedir para que todos "voltem para casa".
"Abrimos a porta do diálogo e esta porta ainda está aberta para mais diálogo. Neste contexto, me comprometo a fazer o que for preciso para que a transição de poder ocorra", concluiu.
MUBARAK
No esperado pronunciamento desta quinta-feira, o ditador egípcio, Mubarak rejeitou a influência de outros países em acontecimentos políticos em seu país, e prometeu fazer uma transição democrática até setembro deste ano. Parte de seus poderes foram passados para o vice-presidente Omar Suleiman, mas Mubarak permanece no cargo até as novas eleições.
"Não vou deixar-me influenciar por demandas ou ingerências de outros países", disse ele. "Começamos um diálogo nacional construtivo, e isto resultou em harmonia para que consigamos avançar a um cronograma e para que implementemos uma transição democrática até setembro".
AP/Egypt TV via APTN | ||
Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, não renunciou e disse que apenas passa parte dos seus poderes ao vice |
Além de prometer punir os responsáveis pela repressão violenta aos protestos, o ditador admitiu as exigências dos manifestantes. "Sua demandas são justas e legítimas. Posso lhes dizer que eu, como presidente da República, respondo às causas de vocês e estou também constrangido", disse.
No entanto, deixou claro que se mantém à frente do país até as novas eleições, embora com parte de seus poderes sendo repassados a Suleiman. "Já disse antes que não vou concorrer às eleições de setembro e que me mantenho como protetor da Constituição e do povo egípcio. Esta promessa eu vou manter e me comprometo a transferir o poder a quem vencer as eleições de setembro", afirmou.
Mubarak dirigiu-se ao povo egípcio, mas destacou os jovens, que deram início aos protestos no dia 25 de janeiro e compõem a maior parte dos manifestantes.
"Estou falando a vocês, como um símbolo da nova geração do Egito, eu lhes posso contar, antes de qualquer coisa, que o sangue de seus mártires não foi derramado em vão e que vou condenar todos aqueles que cometeram crimes contra vocês", afirmou.
Comentando sobre os quase 300 mortos, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), o ditador disse: "posso dizer também a todos os familiares dessas pessoas que tudo o que aconteceu me causou dor".
MUDANÇAS
Mubarak defendeu sua permanência no cargo, apenas passando parte de seus poderes ao vice, dizendo que os trabalhos para a transição de poder já estão avançando.
Dylan Martinez /Reuters | ||
Multidão retira os sapatos, em gesto ofensivo no mundo árabe; Mubarak não renuncia e causa revolta |
"Começamos um diálogo nacional, construtivo, e isto resultou numa harmonia para que consigamos avançar a uma espécie de cronograma e plano de trabalho para que implementemos uma transição democrática até setembro. Hoje recebi do comitê que formei o primeiro texto das emendas à Constituição", disse.
O ditador comentou ao menos cinco artigos que devem ser alterados na Constituição egípcia: 76, 77, 88, 93 e 189, e disse ainda que o artigo 179 deve ser abolido.
Quanto ao estado de emergência, disse que é preciso garantir que o cancelamento da medida não comprometa a segurança do país.
"A prioridade agora é restaurar a confiança entre os próprios egípcios, na nossa economia e na nossa imagem internacional, demonstrando que estamos comprometidos com as mudanças propostas", disse.
O ditador afirmou que a economia está sendo danificada dia após dia e que os manifestantes que pedem pelas mudanças serão as vítimas desses danos econômicos.
"Nunca sucumbi a pressões internacionais. Lutei pelo Egito, e nunca tentei ter mais autoridade", disse.
RUMORES
Mais cedo, vários funcionários do alto escalão no Egito afirmaram à imprensa que Mubarak, no poder há 30 anos, deve atender nas próximas horas "às exigências" dos manifestantes da oposição, que querem sua renúncia imediata.
Os rumores deram a entender que ele deixaria o cargo, o que não aconteceu.
Mubarak resiste há 17 dias aos protestos que reúnem milhares de egípcios nas ruas de Cairo e de outras cidades, inspirados na revolta popular que derrubou o ditador da Tunísia no mês passado. Os manifestantes exigem reformas democráticas e criticam o alto desemprego e pobreza durante o governo de mão de ferro de Mubarak.
Amr Nabil/AP | ||
Manifestantes antigoverno reunidos na praça Tahrir, no Cairo; ditador diz que continua no poder |
"Eu espero que o presidente responda às reivindicações do povo porque, no fim das contas, o que importa para ele é a estabilidade do país", declarou Badrawi.
O dirigente não disse se estava se referindo a uma possível renúncia de Mubarak, mas um alto oficial militar, que pediu para não ser identificado, afirmou estar "esperando ordens que farão o povo ficar feliz".
Badrawi afirmou ainda que Mubarak deve fazer na noite desta quinta-feira (esta tarde em Brasília) um discurso à nação, aumentando a especulação de renúncia.
O canal de TV Al Arabyia afirmou que Mubarak viajou para o resort de Sharm El Sheikh com o chefe das Forças Armadas, sem dar mais detalhes.
Nos Estados Unidos, o diretor da CIA (agência de inteligência americana), Leon Panetta, afirmou que há uma "forte possibilidade" de Mubarak renunciar ainda na noite desta terça-feira. A declaração foi feita em audiência no Congresso americano.
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