Em São Paulo
O Exército egípcio afirmou nesta sexta-feira (11) em um comunicado que vai garantir as reformas prometidas pelo presidente Hosni Mubarak, que na quinta-feira anunciou que permanecerá no cargo, apesar dos protestos populares que exigem sua renúncia.
Os militares do Egito afirmaram também que podem encerrar a Lei de Emergência, vigente no país desde 1981, "imediatamente depois que se termine a situação atual", referindo-se aos protestos. O Egito vive em um estado de emergência desde a morte do presidente à época Anwar Sadat. No regime de estado de emergência, o Estado egípcio tem poderes para prender qualquer pessoa a qualquer momento sem ter um motivo legal. Mubarak governa o Egito escorado na lei, que dá ao Estado amplos poderes repressivos, que tem sido usados sem parcimônia para coibir militantes islâmicos.
O comunicado emitido após a reunião do Conselho Supremo das Forças Armadas, presidido pelo ministro da Defesa Mohamed Husein Tantaui, também se comprometia a não perseguir os "honoráveis (cidadãos) que rechaçaram a corrupção e pediram as reformas".
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O Egito se preparava para novos protestos nesta sexta-feira de oração, depois que o presidente Hosni Mubarak se negou a renunciar ao cargo, como exigem milhares manifestantes reunidos nas ruas há mais de duas semanas.
Na praça Tahrir (Libertação) do Cairo, centro nervoso dos protestos contra o regime de Mubarak, milhares de pessoas passaram a noite na rua indignadas com a obstinação do presidente, que se agarra ao poder.
O número de barracas na praça aumenta a cada dia. Durante a madrugada, os manifestantes discursaram e gritaram frases contra o regime.
Mubarak diz que não renuncia
Ontem, Mubarak fez um discurso em rede nacional e anunciou a transferência de poderes ao vice-presidente Omar Suleiman, mas frustrou as expectativas ao afirmar que permanecerá no cargo até as eleições de setembro, nas quais prometeu não ser candidato.
Também disse que está determinado a viver e morrer no Egito, uma notícia que frustrou aqueles que esperavam que Mubarak partisse para o exílio, abrindo caminho para as reformas democráticas exigidas pela população.
O presidente de 82 anos, no poder desde 1981, frustrou todas as expectativas. "Decidi delegar poderes ao vice-presidente com base na Constituição", disse Mubarak, com uma voz rouca. "Estou consciente dos perigos desta encruzilhada... e isso nos força a priorizar os altos interesses da nação".
Ele continuou o discurso com um aparente ataque aos Estados Unidos e a outros países que o pressionaram para acelerar a transição para a democracia, afirmando: "nunca me curvei a ingerências externas".
Obama critica Mubarak
O presidente americano, Barack Obama, alertou que o presidente egípcio falhou ao apresentar uma mudança crível, concreta e irreversível e afirmou que o governo deve mostrar um caminho claro em direção à democracia.
Obama divulgou um comunicado duro após um dia em que se esperava o anúncio da renúncia de Mubarak. "O povo egípcio foi informado de que ocorreu uma transição de autoridade, mas ainda não está claro se esta transição é imediata, significativa ou suficiente", disse Obama.
"Muitos egípcios ainda não se convenceram de que o governo é sério em relação a uma transição genuína em direção à democracia, e é responsabilidade do governo falar claramente ao povo egípcio e ao mundo", acrescentou.
"O governo egípcio deve mostrar um caminho crível, concreto e inequívoco em direção a uma democracia genuína", afirmou.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que os egípcios devem decidir o próprio futuro político, reiterando o pedido de transição para eleições livres.
"Ban acompanha de perto os acontecimentos no Egito", informa um comunicado do gabinete do secretário-geral divulgado após o discurso de Hosni Mubarak.
O secretário-geral "reitera o pedido de uma transição transparente, ordenada e pacífica que cumpra as legítimas aspirações do povo egípcio e inclua eleições livres, justas e confiáveis", completa o comunicado.
Para a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, o discurso de Mubarak não respondeu aos desejos revelados pela crise no Egito.
"O discurso de Mubarak está longe da ruptura necessária com o sistema abusivo dos últimos 30 anos", afirmou Kenneth Roth, diretor executivo da ONG que tem sede em Nova York.
"Não bastam mudanças cosméticas para satisfazer as reivindicações do povo egípcio de democracia e direitos humanos. Estados Unidos e União Europeia deveriam usar sua influência e ajuda para estimular uma verdadeira reforma", completou.
A ONG defende o fim do estado de emergência no Egito, em vigor desde 1981, e o início de um "processo legítimo e sério de transição democrática, independente do governo atual, para fazer as mudanças legislativas e constitucionais necessárias para eleições livres e justas".
A HRW exige ainda o fim da tortura. "O Exército egípcio, há muito tempo parte integrante do governo, foi uma peça chave na criação e defesa do sistema repressivo atualmente vigente no Egito", diz a ONG.
* Com as agências internacionais
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