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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ambíguo, Exército alimenta boatos de golpe no #Egito


Publicada em 10/02/2011 às 23h35m

Renata MalkesCom agências internacionais

Comandante do Exército no Cairo, general Hassan al-Roweny, fala à multidão reunida na Praça Tahrir / Reuters

RIO - Mesmo quando deu o primeiro sinal de posicionamento ante a crise no Egito, o Exército deixou expostas rachaduras internas naquele que é considerado o maior pilar do governo Hosni Mubarak. Depois de 17 dias de uma política de contenção, os militares deixaram a caserna, convocaram uma reunião na ausência do presidente - deflagrando rumores de um golpe de Estado - e foram à Praça Tahrir garantir ao povo que suas exigências seriam atendidas.

O que parecia um avanço, no entanto, transformou-se em dúvida, levando muitos a acreditarem que toda a movimentação não passou de um teatro orquestrado pelo ditador. Após a demonstração de controle, a insistência de Mubarak em permanecer no poder e com a fúria popular cada vez maior, como se comportarão os generais e os milhares de oficiais de baixa e média patentes deslocados às ruas?

Atuando como um coringa, os primeiros sinais de controvérsia apareceram pela manhã, quando o Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito se reuniu no Cairo para discutir a crise. A reunião - tradicionalmente liderada pelo comandante-em-chefe do Exército, o presidente Hosni Mubarak - não só foi conduzida pelo ministro da Defesa, Mohamed Tantawi, como não teve a participação de Mubarak ou mesmo do vice-presidente, Omar Suleiman.

Comunicado Número 1 elevou temores de golpe

Num anúncio à TV estatal intitulado "Comunicado Número 1", os militares informaram a milhares de egípcios atônitos que adotariam medidas "para garantir a segurança da pátria e as demandas do grande povo do Egito" - conforme determina o artigo 74 da Constituição, que prevê a ação militar em caso de qualquer ameaça à unidade nacional, a segurança da pátria ou tentativa de obstrução das instituições do Estado.

- É a primeira vez no Egito que enfrentamos uma situação determinada pelo artigo 74 - explicou ao GLOBO o cientista político Mustapha Kamel al-Sayyid, da Universidade do Cairo. - No entanto, essa manobra só pode ser autorizada pelo próprio presidente. É um artigo bastante teórico, não estabelece em detalhes o que significa essa proteção à nação, mas se Mubarak não autorizou os militares, trata-se de um golpe.

Acirrando os boatos sobre as ações e intenções do Exército, o chefe do Estado-Maior, general Sami Anan, ainda ousou ir à Praça Tahrir, epicentro das manifestações no centro da capital, reafirmar à multidão que a segurança estava garantida. O gesto foi repetido pelo comandante da região do Cairo, general Hassan al-Roweni, que cercado por seguranças uniformizados, fez um pequeno discurso ao público.

- Todas as suas demandas serão atendidas hoje - afirmou de maneira enigmática, despertando comemorações frenéticas aos gritos de "Deus é o maior" e "Abaixo o regime".

Desde o início da revolta popular, analistas vinham debatendo a importância da cúpula militar para o Egito. Enquanto muitos destacavam como positiva a política de contenção nas ruas, o fato é que os velhos generais são tecnocratas, descendentes diretos de oficiais que derrubaram a monarquia, em 1952, e bastante favorecidos pela ditadura.Tradicionalmente, o trabalho de repressão a opositores era feito pela polícia - controlada pelo Ministério do Interior.

E o motivo, alegam observadores, é a clara discrepância entre a rica e confortável cúpula militar e os pobres e mal pagos oficiais de baixa patente: sempre se temeu que, numa emergência, o baixo escalão pudesse desobedecer ordens superiores, desertar e, consequentemente, rachar de vez as Forças Armadas.

Denúncias de prisões e abusos durante os protestos

A suposta neutralidade durante os protestos populares, no entanto, foi posta à prova na quinta-feira pelo diário britânico "Guardian". Fontes ouvidas pelo jornal afirmam que os militares prenderam secretamente centenas - talvez milhares - de opositores antiditadura, tendo sido registrados pelo menos três casos comprovados de tortura.

Entre os métodos utilizados, estariam o espancamento e o choque elétrico. Segundo o diretor da ONG Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, Hossam Bahgat, várias famílias ainda buscam por parentes detidos e levados à custódia militar, ainda desaparecidos.

- O alvo é muito amplo, de pessoas que estavam nos protestos ou infringiram o toque de recolher àqueles que responderam a um membro das Forças Armadas ou foram entregues ao Exército por parecerem suspeitos ou estrangeiros. Isso não é comum, é algo sem precedentes no Exército - afirmou Bahgat.

A denúncia ecoou em Nova York. Num comunicado, a organização Human Rights Watch afirmou ter registro de 119 prisões e cinco casos de tortura desde que as Forças Armadas foram às ruas.





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