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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tragédia de Angra - Cabral tem razão


Tuca, prefeito de Angra

Sem essa de que a chuva foi a principal razão dos deslizamentos de terras que mataram 50 pessoas em Angra dos Reis.

Socorro-me do governador Sérgio Cabral. Ele disse que aquela foi uma tragédia anunciada.

Por que? Cabral não explicou direito. Mencionou que "não se pode brincar com o solo". E que "não se pode ter construção perto de montanha e de espalho d´água". Em Angra tem de sobra.

Sinto-me tentado a seguir o exemplo de um antigo e sagaz repórter do Diário de Pernambuco.

Nos anos 60 houve um incêndio no Recife que os bombeiros não conseguiram debelar. Apagou-se sozinho.

O repórter tentou, sem sucesso, entrevistar o chefe dos bombeiros. De volta ao jornal, escreveu:

- O chefe dos bombeiros não quis dizer nada. Mas pelo seu semblante dava para notar que ele estava irritado com a pouca água dos hidrantes, com a falta de escadas para atingir grandes alturas...", e por aí foi.

O que Cabral quis dizer quando chamou de "anunciada" a tragédia de Angra?

"Anunciada" virou um cacoete de linguagem desde que o colombiano Gabriel García Márquez publicou "Crônica de uma Morte Anunciada", uma novela.

Por "anunciada", deve-se entender "previsível".

Como sempre chove forte nesta época no Rio, e como o volume da chuva não bateu nenhum recorde, imagino dado ao semblante exibido na ocasião por Cabral que ele quis livrar a chuva da condição de única culpada pelo que aconteceu.

(Vejam que caminho com excesso de cuidado pela vereda que o repórter do Diário de Pernambuco inaugurou.)

A tragédia de Angra só pode ser classificada de "previsível" ou de "anunciada" se levarmos em conta a combinação mortal de chuva forte com habitações plantadas em locais inseguros.

Não lhes parece uma conclusão óbvia? Estamos, pois, de acordo?

Nesse caso cabem várias perguntas.

A prefeitura de Angra nunca avaliou que estava pronto o cenário para uma tragédia?

Nunca alertou a respeito o governo do Estado?

Por sua vez nenhum órgão do governo estadual se tocou para o que estava por vir?

Tuca Jordão (PMDB), atual prefeito de Angra, não pode fingir que não sabia. É sobrinho do prefeito anterior que governou Angra durante oito anos. Trabalhou com ele. Preparou-se para sucedê-lo.

Transcrevo do site da prefeitura um resumo do seu currículo:

* Tuca Jordão é engenheiro civil. Nascido e criado em Angra, começou sua vida pública em 2002 como engenheiro de projetos. Logo depois assumiu a subsecretaria de Obras e Serviços Públicos, quando reestruturou todas as regiões administrativas e criou as subprefeituras, levando cidadania para quem mora longe do Centro.

* Em 2005, Tuca assumiu a Secretaria de Habitação e realizou o sonho da casa própria de milhares de pessoas, com destaque para o primeiro condomínio vertical da cidade. Ele também implantou o maior projeto de regularização fundiária da história de Angra, que garante o direito à terra e à moradia de milhares de famílias.

* Em 2007, Tuca participou da fusão das secretarias de Habitação e Serviços Públicos - que incorporou ainda as quatro subprefeituras -, mostrando toda sua experiência técnica e administrativa. Mas o desafio maior veio em 2008 quando Tuca acumulou a responsabilidade pela Secretaria de Obras, dando maior agilidade aos projetos e realizações no Município.

É impossível acreditar que um homem com tal experiência desconhecesse o perigo que rondava seus governados.

Aqui não se discute se Tuca é um político honesto ou venal, sensível à cobrança de propinas para facilitar construções irregulares.

Sequer precisa ser venal. Um mês depois de eleito, os vereadores de Angra reajustaram seu salário em 39%. E Tuca passou a ganhar R$ 23 mil - quase o dobro do que ganhava o prefeito de São Paulo.

É fato que Tuca está sendo processado - mas por outro motivo. Beneficiou-se, segundo a acusação, do transporte gratuito de barco entre Provetá (Ilha Grande) e Angra dos Reis oferecido pelo tio-prefeito à população. Em troca, moradores de Provetá e de Angra votaram nele.

Descarte-se a hipótese de Tuca e Cabral serem desafetos. E de que isso tenha dificultado o entendimento entre os dois. Não são. Pertencem ao mesmo partido - o PMDB. Dão-se muito bem.

Em junho último, Cabral baixou um decreto que afrouxou as regras para construções em áreas de preservação ambiental de Angra dos Reis e de suas ilhas.

Os ambientalistas de Angra e do Estado subiram nas tamancas. Tuca não subiu.

Dedução óbvia: o prefeito avaliza o decreto de Cabral que está sendo contestado na Justiça.

Digo aos apressadinhos que a recente tragédia de Angra nada teve a ver com o decreto.

Futuras tragédias, se o decreto não for revogado, essas, sim, poderão carregar a indelével impressão digital de Cabral.

A tragédia que ainda se chora é uma obra coletiva dos governos passados em todos os níveis, mas também dos atuais.

Se Cabral anunciou que há 3 mil construções irregulares em Angra, e também que para desapropriá-las o "Orçamento não é problema", por que não agiu antes de modo a evitar a consumação de uma "tragédia anunciada"?

Só agora descobriu as construções irregulares?

Só agora descobriu que o "Orçamento não é problema?"




Sulamérica Trânsito












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