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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A reconstituição da era de ouro


Publicação: 05 de Janeiro de 2010 às 00:00

Patrícia Villalba - Agência Estado

Toda reconstrução de época, no cinema e na TV, depende de truques - de colagens de imagens, direção de arte, figurino e, principalmente, cenários. Na minissérie “Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor”, que estreia ontem na Globo, dois cenários em especial trazem de volta os anos mais glamourosos do Rio de Janeiro: o palco do Cassino da Urca e o auditório da Rádio Nacional. São dois lugares que fazem parte da história da música popular brasileira, reconstruídos pelo diretor de cenografia da Globo, Mário Monteiro, depois de muita pesquisa e uma dose importante de imaginação.

“A minissérie abrange cinco décadas, começa em 1934 e vai até 72. Atravessa quase todas as épocas mais significativas da música brasileira, em cinco capítulos. Isso é ilustrado não só com o repertório da Dalva e dos cantores da época, mas também pelo visual”, explica ele, referência na cenografia de televisão, em entrevista.

Também são cenários da história os teatros Carlos Gomes e João Caetano, além do auditório da Rádio Mayrink Veiga, que lançou a era de ouro. Mas Mário tem ligação especial com o Cassino da Urca porque é um cenário construído com a ajuda do material de trabalho de seu pai, Alcebíades Monteiro Filho e seu avô, Alcebíades Monteiro, ambos arquitetos e cenógrafos. “Meu pai foi cenógrafo do cassino, usei várias plantas de palcos de shows que ele fez lá”, conta ele. Monteiro Filho trabalhou também no projeto do Hotel Quitandinha, em Petrópolis, onde o palco do Cassino da Urca foi montado para as gravações - o original está bastante deteriorado.

Mário fala sobre Dalva de Oliveira por meio dos cenários da minissérie de Maria Adelaide Amaral. É um trabalho especial, entre outras coisas, por dar uma imagem a artistas que brilharam, principalmente, na imaginação dos fãs, que os acompanhavam pelo rádio.

Por que vocês montaram o palco do Cassino da Urca no Hotel Quitandinha?

Mário Monteiro - A gente aproveitou a arquitetura do Quitandinha, que é bem próxima à do cassino. A Urca está muito deteriorada. Quando fizemos a minissérie AEIO... Urca (1990), gravamos lá mesmo, depois de uma restauração. Agora não dá, por isso fomos obrigados a procurar outro lugar. E transformamos o teatro do Quitandinha no Cassino da Urca.

Fizemos os arranjos e os abajures de cena iguais aos originais, colocamos 400 figurantes na plateia, todos vestidos a caráter. O palco tem uma mecânica como o original, que girava e possuía elevações de cenário. Fizemos também uma pista iluminada, onde os shows se desenvolviam. Meu pai trabalhou diretamente no cassino, como cenógrafo. Sempre uso as coisas dele quando faço trabalhos de época, mas desta vez deu para usar mais.

Quantos números musicais foram gravados lá?

São oito, mas só vão ao ar fragmentos deles. No DVD, devem colocar os shows inteiros, como extras. E não é só lá. Há cenas de show também no Ginásio do Fluminense, onde havia um concurso de carnaval nos anos 40, e no Teatro Fênix, que ficava no centro da cidade, mas já foi demolido. Era onde a companhia da Dercy Gonçalves se apresentava. No cassino, um número do Orlando Silva e outro do Rick Valdez (um cantor fictício). E um da Dalva com o Francisco Alves. Os outros são shows do Trio de Ouro. Essa parte foi dirigida pelo Cláudio Botelho e o Charles Möiller, que deram o conceito de como seriam esses shows. O Dennis (Carvalho, diretor) resolveu convidá-los para fazer essa parte especial, só da Urca.

E como foi fazer a Rádio Nacional, no Projac?

Pesquisei muito sobre ela. Por coincidência, ela funcionava no prédio do jornal A Noite, onde meu pai trabalhava também. Foi um templo da música brasileira durante décadas, com programas de auditório tipo César de Alencar e Trem da Alegria, onde se apresentavam mitos da música, como Carmen Barbosa, Noel Rosa, Aracy de Almeida. A Rádio Nacional era uma concentração de ídolos. O legal de reproduzi-la é que todo mundo só a conheceu através do rádio propriamente dito. Mas lá, os espetáculos eram uma coisa muito popular, porque o auditório era para 800 pessoas. Os artistas se preparavam para se apresentar.

Era um espetáculo visual também, mesmo pelo rádio.

Era, para as pessoas que estavam lá. Quem ouvia pelo rádio ficava tentando imaginar como seriam aquelas pessoas, como elas estariam vestidas. Então, pôr uma imagem nessa lembrança é um dos charmes da minissérie. A Rádio atravessa a minissérie toda. Pela primeira vez vamos ter a oportunidade de ver com imagem o que rolava lá, e como eram as pessoas ali. Me lembro das pessoas ouvindo aqueles programas, coladas no rádio. Talvez a imaginação delas tenha ido até além do que se passava de fato no auditório. Para não criar essa decepção, a gente fez uma coisa supercharmosa. Acho que vai ser um grande momento da minissérie, com as figuras mais carismáticas da época se apresentando ali. Durante a produção, a gente se perguntava “como eram aqueles caras? O que acontecia ali?”

E como é a imagem que vai ser apresentada?

Fui à Rádio Nacional, peguei as plantas originais. Infelizmente não deu para fazer do tamanho real, porque ela era imensa. Reproduzimos dois terços, fizemos um auditório para 500 pessoas. Foi legal pra burro. A produção de arte reproduziu até a parte técnica da rádio. Documentamos toda a época, para chegar à estética. Conversei também com várias pessoas que trabalharam lá. Por meio disso tudo, acho que fizemos uma reprodução bem próxima da realidade.

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