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domingo, 22 de novembro de 2009

Como entender a maior rebelião popular iraniana desde a Revolução Islâmica de 1979


O levante do Irã

Guilherme Evelin e Ricardo Mendonça
Olivier Laban-Mattei
PROTESTO
Marcha com milhares de iranianos na capital do país, Teerã. Eles reclamam de fraudes na eleição presidencial

Há 30 anos não se via no Irã nada parecido com o que ocorreu na semana passada. O levante avassalador que surpreendeu o mundo em 1979 e resultou na Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, é o único evento comparável às cenas vistas na semana passada. Marchas de protestos, com participação de milhões de iranianos, tomaram conta do país após o anúncio da vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad na eleição presidencial do dia 12. Estimulada por denúncias de uma fraude maciça na reeleição de Ahmadinejad, a rebelião ocorreu nas ruas, mas também com uma intensidade surpreendente na internet, por meio de redes sociais como o Facebook e o Twitter e sites como o YouTube (leia a reportagem). Os protestos dão uma dimensão das fissuras políticas na sociedade iraniana e apontam possíveis mudanças na república clerical xiita, um dos regimes mais fechados e opressores do mundo.

As consequências da crise iraniana, porém, podem atravessar as fronteiras do país. Em certa medida, a própria paz no planeta depende de seu desfecho. O Irã possui a segunda maior reserva de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita. Com um território enorme para os padrões do Oriente Médio e uma população de 71 milhões de habitantes, o país é também o maior reduto de muçulmanos xiitas do mundo, numa região onde a estabilidade depende do equilíbrio de forças entre os dois principais ramos do islã: xiitas e sunitas. Seu governo financia grupos extremistas, como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na Faixa de Gaza – e está num estágio avançado do programa nuclear que pode lhe dar uma bomba atômica. O presidente Mahmoud Ahmadinejad professa um islamismo ultraconservador. Já negou o Holocausto na tribuna das Nações Unidas e, por diversas vezes, demonstrou hostilidade ao Estado de Israel.

A onda de protestos no Irã começou imediatamente após a divulgação do triunfo de Ahmadinejad pela agência iraniana de notícias, apenas duas horas após o fechamento das urnas. A proclamação oficial do resultado da eleição deu 63% dos votos para Ahmadinejad, contra 33% para seu principal adversário, o ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mousavi, um oposicionista considerado pouco carismático, mas que, ao longo da campanha, ganhou o apoio entusiasmado de reformistas, jovens e mulheres de classe média dos grandes centros urbanos. O resultado espantou, entre outros motivos, por causa da velocidade da apuração, já que a participação de quase 40 milhões de eleitores em todo o território iraniano é feita por meio de cédulas preenchidas à mão. O tempo gasto para a apuração nas disputas anteriores era de dois a três dias. Além disso, a larga vantagem obtida por Ahmadinejad contrariou as expectativas de uma diferença pequena de votos, alimentadas por uma campanha muito acirrada. Na contagem oficial, Ahmadinejad venceu com folga inclusive nas áreas em que a etnia azeri, a mesma de Mousavi, é predominante.

A apuração rápida e a vantagem larga de
Ahmadinejad levantaram as suspeitas de fraude

Mousavi acusou o governo de cometer “irregularidades em massa” e pediu nova eleição. Foi a senha para o país entrar em convulsão. Multidões nas ruas gritavam “morte ao ditador”, em repúdio a Ahmadinejad, palavra de ordem que em pouco tempo evoluiu para “morte ao aiatolá”, em referência ao líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, que ratificara rapidamente a vitória do atual presidente como uma “bênção divina”. No sistema político iraniano, o líder supremo é o comandante em chefe das Forças Armadas e controla o Judiciário, a mídia e o Conselho de Guardiães, um órgão de notáveis com poderes de vetar candidatos e supervisionar as eleições. O presidente cuida das questões administrativas e tem poderes sobre os programas de gastos e investimentos do Estado.

Aos protestos, seguiu-se a reação. As marchas com centenas de milhares de pessoas, durante toda a semana, foram seguidas de forte repressão promovida pela polícia ou por integrantes de uma milícia islâmica, a Basij, uma numerosa força paramilitar formada por voluntários à paisana. Em uma semana, centenas de políticos oposicionistas e manifestantes foram presos, jornais foram censurados, comícios foram proibidos e universidades foram fechadas. O cerco à informação começou com o bloqueio de sites e terminou com a não renovação da autorização de permanência dos jornalistas estrangeiros, o que praticamente fechou o país aos observadores. ÉPOCA obteve com exclusividade o depoimento de um jornalista que conseguiu permanecer em Teerã. Há confirmação de sete mortos nos confrontos, mas muitos acreditam que o número é irreal. No terceiro dia de protestos, o jornal britânico The Guardian já falava em pelo menos 12 mortos.

O que explica essa erupção iraniana? Grande parte dela se deve à figura de Ahmadinejad. Carismático e profundamente conservador, esse engenheiro civil de 52 anos foi eleito presidente pela primeira vez em 2005 com uma plataforma moralista, baseada no combate à corrupção e na defesa intransigente dos valores morais da Revolução Islâmica, que teriam sido abalados pelo breve período de liberalização do regime durante os mandatos de seu antecessor, Mohammad Khatami, entre 1997 e 2005. Orgulhoso de sua origem humilde, Ahmadinejad é especialmente popular junto aos habitantes das periferias das grandes cidades e das zonas rurais beneficiados por seu estilo populista de governar, que inclui generosas distribuições de dinheiro a aposentados e veteranos de guerra.

Casado, pai de três filhos, Ahmadinejad foi na juventude um fervoroso adepto da revolução de Khomeini e chegou a ser voluntário de uma das milícias Basij. Apoiado por clérigos conservadores, assumiu a prefeitura de Teerã entre 2003 e 2005. Abriu mão do salário de prefeito para viver da remuneração de professor universitário licenciado. A mesma prática foi adotada na Presidência. Ahmadinejad dispensou até o uso do palácio presidencial. Seu único imóvel particular é um pequeno apartamento herdado do pai há mais de 40 anos em Teerã. O carro é um Peugeot 504 branco ano 1977. Sua vestimenta-padrão é igualmente modesta: camisa branca sem gravata e jaqueta. Até virar presidente, Ahmadinejad nunca tinha viajado para o exterior.

Adorado pelos mais pobres, Ahmadinejad é detestado em igual medida pela crescente classe média urbana iraniana. Um dos motivos do repúdio são as restrições impostas em seu governo às mulheres e aos reformistas, que foram expurgados de universidades e da admi-nistração pública. Outra razão é uma incompetente e temerária administração das finanças do país. Com os preços do petróleo em baixa, o Irã vive uma crise econômica, com inflação alta e desemprego na casa dos 20%. Ahmadinejad é criticado também por uma distribuição de ricos contratos públicos para integrantes da Guarda Revolucionária, uma tropa de elite do regime islâmico. Por fim, a retórica externa beligerante de seu governo é vista como inconsequente em cada vez mais setores da sociedade iraniana. Uma das especialidades de Ahmadinejad é a provocação. Além de negar o Holocausto, em 2007 ele lançou uma nota de 50 mil riais (cerca de R$ 15) com um logotipo nuclear, num desafio às sanções impostas ao país por conta de seu programa de enriquecimento de urânio.

Com os preços do petróleo em baixa, o Irã vive
uma crise com inflação alta e desemprego de 20%
Por trás das mobilizações nas ruas, há também uma feroz disputa de poder entre os aiatolás que governam o Irã – alinhados ou com Ahmadinejad ou com Mousavi (lê-se mussaví). Ahmadinejad tem o apoio do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Khamenei, em tese, ficaria acima das disputas políticas, mas seu rápido reconhecimento da vitória de Ahmadinejad o colocou sob suspeita e incentivou as manifestações de rua contra ele. Do lado de Mousavi está o popular aiatolá Hossein Ali Montazeri, que foi suplantado por Khamenei na sucessão de Khomeini e vive em prisão domiciliar por causa de sua dissidência


Guilherme Evelin e Ricardo Mendonça
Fotos: Mehr News/AFP, Kamran Jebreili/AP, Morteza Nikoubazl/Reuters
DIVISÃO
O presidente Mahmoud Ahmadinejad no dia da votação. Mulher recita o Corão em fila de votação. Mousavi fala em comício. Abaixo, casal iraniano assiste ao debate entre os candidatos na televisão. Os protestos após o resultado da eleição são a maior mobilização popular desde a revolução de 1979. Eles mostram a fissura entre conservadores e reformistas na sociedade iraniana

Carlos Cazalis

Mousavi tem também o apoio de figurões da elite clerical iraniana, como o aiatolá Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente, um dos homens mais ricos do país (e inimigo público de Ahmadinejad desde que foi acusado de corrupção por ele). Rafsanjani está em silêncio desde o início da crise, mas sua filha Faezeh Hashemi foi vista em marchas de protesto. Considerado uma espécie de eminência parda do regime, Rafsanjani teria o controle de cerca de um terço dos 86 integrantes da Assembleia de Especialistas. Essa é a única instância no sistema iraniano com poderes para destituir o líder supremo, algo que nunca ocorreu. Outra parte da assembleia seria leal ao ultraconservador aiatolá Mesbah Yazdi, mentor de Ahmadinejad, para quem a voz do povo, nas eleições, em vez de representar a voz de Deus, é um convite à subversão das leis divinas.

Por causa do caráter fechado do país e desse intrincado e único sistema de poder, em que regras supostamente democráticas estão condicionadas à fé islâmica, o desfecho da crise no Irã é imprevisível. Diante desse quadro, boa parte da comunidade internacional também preferiu se manter calada, em apreensiva cautela. Apesar de pressões internas para criticar a repressão aos manifestantes, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não se pronunciou. Logo no começo de seu mandato, Obama mandara uma mensagem ao povo iraniano, por meio de um vídeo, e se engajou numa tentativa de reabertura dos canais diplomáticos – totalmente obstruídos no mandato de seu antecessor, George W. Bush, que colocara o Irã no “eixo do mal”. Falar sobre a crise, dizem os diplomatas ocidentais, poderia piorar a situação no país. Apesar do silêncio, o governo iraniano, em nota oficial, responsabilizou o Ocidente e a “imprensa sionista mundial” pelo desafio ao regime.

Uma nota destoante foi dada pelo presidente Lula. Ele se colocou ao lado de aliados automáticos de Ahmadinejad, como o venezuelano Hugo Chávez. Durante uma visita a Genebra, na Suíça, Lula comparou os protestos da oposição iraniana a um choro de perdedor. “Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos, ou seja, quem perde chora, quem ganha festeja”, disse Lula. Na etapa seguinte da viagem, no Cazaquistão, Lula teve oportunidade de remendar as declarações desastradas de Genebra, mas não o fez. Equiparou o caso do Irã ao das eleições para a Presidência do México, em 2006, contestadas pelo candidato derrotado, Manuel López Obrador, do PRD, um partido afinado com o PT brasileiro. Em seguida, citou a primeira eleição do ex-presidente americano George W. Bush, em 2000, marcada por episódios suspeitos no Estado da Flórida. Trata-se de uma comparação sem critério, entre duas das mais antigas democracias do mundo e um regime teocrático, no qual os candidatos precisam ser abençoados por um conselho de aiatolás. Os protestos da oposição mexicana foram livres e acompanhados de perto pela imprensa de todo o mundo, assim como a recontagem de votos e a decisão da Justiça eleitoral que confirmou a vitória do presidente Felipe Calderón. Nos Estados Unidos, a vitória de Bush foi decidida pela Suprema Corte e acatada por todos.

Até o final da semana, as incertezas em relação ao futuro do Irã perduravam. A cúpula do regime emitia sinais contraditórios diante dos protestos. Com o objetivo aparente de ganhar tempo, o Conselho de Guardiães, o órgão formado por 12 membros encarregado de fiscalizar a eleição, fez uma concessão à oposição e anunciou uma recontagem parcial de votos. O mesmo conselho convocou uma reunião com os três candidatos derrotados (além de Mousavi, o clérigo reformista Mehdi Karoubi e o conservador Mohsen Rezaie). Metade do conselho é composto de pessoas escolhidas pelo aiatolá Khamenei. A outra metade é indicada pelo Judiciário, cujo chefe também é apontado por Khamenei.

Em sermão na sexta-feira, Ali Khamenei disse que a
oposição seria responsável “pelo sangue e pelo caos”

Depois desse aparente convite à conciliação, Khamenei, na sexta-feira, radicalizou a retórica, em seu primeiro pronunciamento depois dos protestos. Durante um sermão de mais de uma hora e meia para dezenas de milhares de pessoas reunidas na Universidade de Teerã, advertiu os líderes da oposição de que eles seriam responsabilizados por “um derramamento de sangue e pelo caos”, caso as manifestações continuassem nas ruas. Khamenei rejeitou as denúncias de fraude e classificou a vitória de Ahmadinejad, presente à cerimônia, como “um momento épico que se transformou em um momento histórico”. O sermão de Khamenei aumentou as expectativas de uma repressão ainda mais violenta da oposição ao governo. Seria um desfecho ao estilo chinês, que em 1989 ordenou o massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial, para acabar com manifestações pela democratização do país.

Não há sinais de fissura no apoio das forças militares do Irã a Khamenei, o que torna remotas as possibilidades de uma derrubada do regime. Esse não parece ser, pelo menos no primeiro momento, o desejo da oposição, formada por gente como Mousavi, um integrante da elite da revolução de Khomeini de 1979 (leia mais sobre ele na última página). Um cenário alternativo ao do derramamento de sangue seria uma composição entre Ahmadinejad e a oposição. Ahmadinejad teria oferecido aos oposicionistas a possibilidade de participar do governo. Algo assim ocorreu recentemente no Zimbábue, no sul da África. Lá, o ditador Robert Mugabe perdeu a eleição, recusou-se a sair e, quando ficou claro que ele tinha o controle do Exército, a oposição aceitou um acordo. No caso do Irã, apesar das advertências sombrias do aiatolá Khamenei, não havia sinais de que os manifestantes pretendessem recuar dos protestos nas ruas e na internet. Mesmo que o desfecho da crise não lhes seja favorável, os episódios da semana passada já representam uma transformação radical para o Irã.





Fotos: Saman Aghvami/AP, Lee Jae Won/Reuters, Vahid Salemi/AP
DISPUTA
Mulher durante manifestação de conservadores em Teerã (à esq.). Jogadores da seleção do Irã usam fitas verdes, em apoio ao oposicionista Mousavi, no jogo pelas eliminatórias para a Copa de 2010 (à direita, ao alto). Corpo de homem supostamente assassinado por milícia do governo (à direita, acima). Abaixo, partidários de Mousavi, na maioria mulheres, em protesto em Teerã. As ruas refletem a disputa de poder entre os aiatolás

getty images


Fotos: AFP


O herói improvável

Quem é Mir Hossein Mousavi, o líder da revolta iraniana

Olivier Laban-Mattei
PASSAGEIRO
Mousavi discursa para apoiadores ao lado de sua mulher, Zahra. Ela é considerada a “Michelle Obama” do Irã

Me preparando para a guerra nas ruas se ELE der luz verde...” Assim começa a última mensagem que a jovem iraniana Tara Mahtafar, de Teerã, colocou em seu twitter no momento em que esta reportagem começou a ser escrita, aos 21 minutos da sexta-feira, 19 de junho. O verde a que ela se refere é a cor que invadiu o Irã desde que ELE, Mir Hossein Mousavi, resolveu desafiar os resultados oficiais das eleições para a Presidência do Irã. O verde foi a cor escolhida por Mousavi, de 68 anos, pintor abstrato e arquiteto de obras relevantes, para dar a sua campanha o símbolo da esperança. Num artigo escrito para um dos melhores sites árabes em inglês, o Al Jazeera, Tara notou o traço “obamesco” da cruzada de Mousavi. “Um slogan é ‘dolat-e omid’, ou o governo da esperança”, escreveu ela.

Mousavi é um rebelde improvável. Ele desempenhou um papel de destaque, ao longo dos anos, no islamismo fanatizado que conquistou o poder no Irã sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini. Ocupou cargos importantes nos últimos 30 anos. Foi ministro das Relações Exteriores e primeiro-ministro sob as bênçãos de Khomeini, de quem era um dos favoritos. Apoiou, como essencial para o movimento islâmico no Irã, o sequestro de 52 americanos na embaixada americana no Teerã, um episódio tão marcante nas relações entre os Estados Unidos e o Irã que muitos analistas atribuem a ele a derrota do presidente Jimmy Carter para Ronald Reagan nas eleições de novembro de 1980.

“Um radical”, assim o definiu, no passado, a revista inglesa The Economist. Mousavi foi cria intelectual do influente sociólogo iraniano Ali Shariat, um homem que tentou mesclar islamismo com socialismo em moldes parecidos com os da Teologia da Libertação. Shariat, perseguido no tempo do xá Reza Pahlevi, buscou refúgio na Inglaterra, onde morreria em circunstâncias misteriosas em 1977. Para muitos, a polícia secreta do xá, a Savak, estava por trás da morte de Shariat. A essência de seu pensamento é o que orienta, até hoje, as ações de Mousavi: a religião deve ser usada para a justiça social e para promover mudanças.

Mousavi não tem o dom da oratória. Sua fala é lenta, monocórdia, em certos instantes soporífera. É escassa sua dose de carisma, um dado da vida que nem seus seguidores mais fiéis se atreveriam a contestar. Ainda assim, nos últimos dias, assim que Mousavi aparece no meio da multidão de inconformados com a aparente fraude nas eleições, é saudado como um herói, um ídolo. Mousavi virou, talvez acidentalmente, o talismã com que a nova geração de jovens iranianos, como Tara Mahfatar, espera romper anos de fanatismo religioso e uma postura belicosa de isolamento internacional.

Para muitos, a energia real da jornada surpreendente de Mousavi reside não nele, e sim em sua mulher, Zahra Rahnavard, uma admirada intelectual iraniana, com quem ele tem três filhas. Rahnavard é escultora, escritora e reitora da renomada – e liberal – universidade de artes de Teerã Al-Zahra. Contra os hábitos consolidados no Irã, Rahnavard está nas ocasiões mais importantes ao lado do marido, não em posição secundária. Ela é tratada como uma heroína pelos apoiadores de Mousavi. Seu rosto aparece em cartazes de manifestantes nas ruas de Teerã. Em novas mídias, como o Facebook, ela tem orientado a corrente digital anti-Ahmadinejad que se espalhou por todos os cantos em velocidade assombrosa e tornou virtualmente impossível ao governo sustentar a lisura dos resultados da eleição. Uma instrução recente de Rahnavard no Facebook aos seguidores de seu marido pedia que todos fizessem um esforço para mostrar ao mundo, serenamente, o que está se passando nas entranhas agitadas do Irã. Como era de esperar, ela é chamada de “Michelle” do Irã, uma referência à carismática primeira-dama americana, Michelle Obama.

Mousavi parece não cavalgar a revolta, e sim ser cavalgado por ela, como aconteceu com Alexander Kerenski na revolução que derrubou o czar Nicolau II na Rússia em 1917. Em meio à turbulência, ele mantém um dia a dia dividido entre o trabalho na Academia de Arte de Teerã, o repouso em sua casa num bairro de classe média da cidade e a aparição nas manifestações, em que é chamado carinhosamente pelo primeiro nome, alto-falante nas mãos na tentativa quase sempre vã de se fazer ouvir.

Caso as eleições sejam anuladas e Mousavi se eleve ao poder, não se deve esperar uma revolução, mas uma reforma cuja profundidade só os dias revelarão. Mousavi não vai interromper os esforços de energia nuclear de seu país, já avisou. Mas quer traçar uma fronteira entre o armamentismo e a energia nuclear. Ao contrário do neurastênico Ahmadinejad, Mousavi reconhece o Holocausto de que foram vítimas os judeus sob o regime nazista de Hitler. De sua plataforma, que engolfou a juventude iraniana ávida por romper com a situação atual, constam a liberdade de expressão e a entrega ao presidente de uma fatia maior de poder, para que ele não seja tragado pelo Líder Supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Mousavi tem também planos de privatização. Um dos alvos de suas críticas é a televisão iraniana, inteiramente estatizada.

Nas duas últimas eleições presidenciais, Mousavi foi instado a concorrer por grupos empenhados em promover reformas. Em ambas, declinou. Parecia que declinaria mais uma vez quando, em março deste ano, decidiu oferecer seu nome aos 46 milhões de eleitores. Deles, 8 milhões nasceram depois da revolução de 1979. É esse o núcleo central do grupo que quer abrir as janelas do país e deixar entrar o ar. Para eles, que têm espalhado para o mundo textos e imagens que acabaram por encurralar o governo atual, Mousavi encarna a renovação, por mais estranho que possa parecer.


Paulo Nogueira, de Londres














Lula acumula: -Aposentadoria por invalidez,aposentadoria de Aposentadoria por invalidez, Pensão Vitalícia de "perseguido político" isenta de IR, salário de presidente de honra do PT, salário de Presidente da República. Você sabia???

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