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domingo, 22 de março de 2009

Neschling entra na Justiça contra a Osesp

Domingo, 22 de Março de 2009 | Versão Impressa



Maestro estaria tentando receber multas por rescisão contratual; ele também questiona contrato de trabalho do substituto, Yan Pascal Tortelier

João Luiz Sampaio


Cerca de dois meses depois de ser demitido pela Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, o maestro John Neschling rompeu o silêncio - e o fez pela Justiça. Na manhã de quinta-feira, protocolou na Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo um pedido para que seja averiguado se seu substituto, o francês Yan Pascal Tortelier, tem contrato legal de trabalho no Brasil, exigindo que medidas sejam tomadas contra a orquestra caso sua atuação seja ilegal.

A informação foi confirmada pela Assessoria de Imprensa do maestro, que afirmou ainda que ele resolveu entrar também com processo contra a Fundação Osesp para tentar receber na Justiça as multas relativas à rescisão de seu contrato, uma vez que não teria recebido até agora da entidade uma posição oficial sobre o assunto.

Procurado pelo Estado, o maestro, que está no interior de São Paulo, não quis dar entrevista. Já a Fundação Osesp, por meio de nota oficial enviada ontem, informou que "obteve junto ao Ministério do Trabalho toda a documentação necessária para que o maestro Yan Pascal Tortelier trabalhe regularmente no Brasil". Sobre o processo trabalhista movido pelo maestro, a entidade diz que ainda não recebeu nenhuma notificação oficial da Justiça.

A demissão de Neschling, em dezembro, provocou um furacão na vida musical brasileira. O maestro assumiu a Osesp em 1997 e, de lá para cá, transformou o grupo na principal orquestra da América Latina. Sua personalidade polêmica, no entanto, começou a se chocar há dois anos com o governador José Serra. Nos bastidores, falava-se no desejo do governo de substituir o maestro; publicamente, o secretário de Estado da Cultura, João Sayad, questionava o valor de seu salário, cerca de R$ 120 mil.

Em resposta, durante um ensaio, Neschling chamou o governador de "menino mimado" e "autoritário" - as declarações foram gravadas e colocadas no You Tube. Em junho do ano passado, afirmando estar cansado das especulações sobre sua permanência ou não no cargo, o maestro disse, em carta enviada ao presidente da Fundação Osesp, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que não pretendia renovar seu contrato em 2010. A fundação anunciou logo em seguida que iniciava a busca pelo substituto, tarefa para a qual seriam contratados dois consultores, o americano Henry Fogel e o inglês Timothy Walker.

No começo de dezembro, no entanto, em entrevista ao Estado, Neschling afirmou que sua carta não era um documento oficial e que pretendia ficar na orquestra por pelo menos mais dois anos, participando do processo de escolha de seu substituto. O maestro criticava também a atuação do conselho de administração da fundação. Em resposta, a Fundação Osesp informou que o conselho, por unanimidade, havia julgado que as declarações de Neschling criavam um ambiente intolerável de trabalho e votado pela sua demissão imediata.

"A manifestação pública de Vossa Senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade - como era nossa intenção - de uma convivência harmoniosa, no processo de sucessão, evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais", dizia a carta de demissão enviada por e-mail ao maestro.

No início de fevereiro foi anunciado o nome do francês Yan Pascal Tortelier, que havia regido a Osesp como convidado em 2008, para o posto de regente-titular. O Estado apurou que Tortelier, ao contrário de Neschling, não recebe um salário mensal e é pago por semana de trabalho; segundo fontes ligadas à orquestra, o valor a ser gasto neste ano com a direção artística da Osesp é o mesmo dos anos anteriores

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