Governo declara estado de sítio em Pando, onde 14 morreram; brasileiros teriam sido feridos em tiroteio
Agências internacionais
O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, e o governador de Tarija, se reuniram na sexta para abrir o processo de negociações que se estendeu durante a madrugada, em que as duas partes coincidiram na necessidade de um acordo. Segundo a agência Efe, as conversar serão retomadas no domingo, com outro encontro no Palácio do Governo, em La Paz, com a participação.
Segundo um jornalista brasileiro que está cobrindo a crise boliviana na fronteira com o Acre dois homens e uma criança foram baleados por milicianos quando se dirigiam para a cidade de Cobija, de caminhão. Um dos homens foi ferido na clavícula e outro, nas costelas. A menina, filha de um deles, também se feriu. Alexandre Lima afirmou que eles foram internados no Hospital Roberto Galindo, em Cobija, para observação e não correm risco de morte.
O opositor Marío Cossío afirmou que a missão do encontro com o governo era abrir o que pode se converter em um processo de diálogo. O prefeito acredita que é possível alcançar um "pacto nacional", que permita solucionar os problemas em um cenário de reconciliação nacional. "Estou convencido de que o momento para expressarmos nosso desejo de diálogo e de reconciliação é agora, e não mais tarde", havia dito Cossío antes do encontro. "Não devemos repetir a história de outros países que tiveram de sentar e dialogar apenas depois de milhares de mortes". Na segunda-feira, um encontro entre os países sul-americanos em Santiago, no Chile, também tratará do tema, informou o governo venezuelano.
As tratativas ocorrem em meio a violentos enfrentamentos entre opositores e apoiadores do presidente Evo Morales. Na sexta-feira, o governo decretou estado de sítio no Departamento (Estado) de Pando, onde pelo menos 14 pessoas morreram no dia anterior. A medida estabelece, entre outras restrições, a proibição de portar armas de fogo, armas brancas, materiais explosivos e a circulação de mais de três pessoas juntas e de veículos entre a meia-noite e 6 horas. Ela também proíbe a organização de reuniões políticas e manifestações, e impõe para os cidadãos a necessidade de obter um salvo-conduto para viagens fora da região. Os direitos e garantias individuais são temporariamente suspensos, e os poderes Legislativo e Judiciário são submetidos ao Executivo. Somente é decretado em situações de emergência nacional.
Em Santa Cruz, outro Departamento governado pela oposição, manifestantes voltaram a interromper o trânsito na fronteira com Corumbá, no Mato Grosso do Sul. As aulas continuaram suspensas e diferentes aeroportos continuam fechados. Um grupo de cerca de 20 estudantes ocupou a sede da Presidência boliviana em Santa Cruz, diante da polícia, que não ofereceu resistência.
Internacionalização do conflito
Ao mesmo tempo, o conflito se internacionaliza, com o governo boliviano acusando os Estados Unidos de apoiarem grupos que tentam desestabilizar o presidente Evo. La Paz e Washington já anunciaram a retirada mútua de embaixadores, medida realizada posteriormente pela Venezuela "em solidariedade à Bolívia". Na segunda-feira, os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reunirão em Santiago, capital do Chile, para discutir o tema, informou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a um programa da TV oficial venezuelana.
Chávez afirmou ter conversado com os presidentes de Brasil, Bolívia, Argentina, Paraguai, Chile, Equador e Colômbia sobre o encontro. "Estivemos fazendo consultas cruzadas e concordamos em nos reunir em Santiago do Chile na segunda-feira à tarde, para atuar a tempo, e não quando houver milhares de mortos na Bolívia", disse o líder venezuelano, segundo a Agência Bolivariana de Notícias. "Há um golpe montado, vão tirar o Evo debaixo dos nossos narizes, um golpe na nossa América."
O governo bolivariano já expressou que poderia intervir militarmente no vizinho aliado se o presidente eleito legitimamente for vítima de um golpe - possibilidade que as próprias Forças Armadas bolivianas rejeitaram। Em entrevista à BBC Brasil, o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Nicolás Maduro, disse que os militares bolivianos não souberam entender a mensagem de "solidariedade" da Venezuela, e insistiu que seu país exercerá o "direito à rebelião" para restituir o governo Morales em uma situação extrema. "Já foi o tempo em que os EUA promoviam golpes e os demais países assistiam sem reagir", disse Maduro.
Exército boliviano rejeita ajuda de Chávez
AE - Agencia Estado
"Ao presidente Chávez, lhe dizemos que as Forças Armadas rejeitam enfaticamente intromissões externas de qualquer índole, venham de onde venham, e não permitirão que nenhum militar ou força estrangeira pise em território nacional", afirmou o comandante do Exército, general Luis Trigo. Os militares ainda afirmaram que o fato de eles não terem atuado com violência e utilizado armas para reprimir os protestos não significa que estejam contra a ordem institucional.
As manifestações violentas em todo o país causaram profundo dano às instituições bolivianas. Além de grande parte das estradas estar bloqueada, alguns departamentos (Estados) foram obrigados a fechar seus aeroportos por causa das manifestações.
O governo elevou ontem para 14 o número de mortos nos confrontos entre a oposição e partidários de Evo na quinta-feira no Departamento de Pando, na região amazônica. O secretário-geral da União Juventude Crucenhista, Alfredo Saucedo, culpou ontem o governo de La Paz pelos protestos na Bolívia. "Evo mandou militares se infiltrarem em grupos civis para incitar a violência e os saques", disse Saucedo. A decisão do presidente Evo Morales, anteontem, de não aceitar a presença do Grupo de Amigos da Bolívia (Argentina, Brasil e Colômbia) em La Paz para atuar como mediador do diálogo governo-oposição, causou preocupação ao governo brasileiro.
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