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segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Só não queremos tomar pedradas", dizem defensores do casal Nardoni

Cristina Christiano, Diário de S. Paulo

Advogado Rogério Neres, defensor de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.Foto Eliária Andrade/DISP

SÃO PAULO - Eles já foram chamados de advogados do diabo, assassinos, ouviram palavrões, viram gestos obscenos, escaparam de tijolada e, por pouco, não apanharam. Desde que assumiram a defesa de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, ao lado de Marco Polo Levorin, a vida dos advogados Ricardo Martins e Rogério Neres tem sido assim. O casal é acusado de matar a menina Isabella Nardoni, de 5 anos, no último dia 29 de março. Mas o pai e a madrasta da criança negam o crime. Os dois estão presos em Tremembé, no Vale do Paraíba.

Os advogados, que tentam a libertação do casal, acabam também sendo hostilizados pela população, que ficou chocada com o crime. Mas Martins e Neres preferem entender todas essas manifestações como elogio. Em entrevista ao "Diário de S. Paulo", contam que há também quem os cumprimente nos fóruns e peça para tirar fotos a lado deles.

DIÁRIO - Defender o pai e a madrasta de Isabella é difícil?

Rogério Neres - Vemos que as pessoas têm dificuldade em compreender porque alguém defende um acusado de crime. E entendemos isso. O advogado criminal não defende o crime, mas acusados de praticá-lo, que é diferente.

Já houve hostilidade?

Ricardo Martins - Quando a Justiça deu habeas corpus ao casal, na primeira vez, uma senhora pegou meus braços e, chacoalhando com força, indagou: "Como o senhor consegue tirar essas pessoas da cadeia?". Parecia até que havíamos cometido um crime. Em outra ocasião, fomos a um restaurante e um casal, acompanhado da família, levantou-se e disse: "Vamos embora que os advogados do diabo chegaram".

Ricardo Martins, defensor de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Foto Eliária Andrade/DISP

Como os senhores convivem com essa coisa de advogados do diabo?

Rogério Neres - Esse incômodo que a sociedade sente com nossa atuação nos deixa contentes, porque a recebemos como elogios (por estar fazendo seu trabalho). Só não queremos tomar pedradas nem levar chutes.

Advogados jovens, em um caso tão rumoroso, causa estranheza. Quem os convidou?

Ricardo Martins - Já conhecia o pai da Anna Carolina Jatobá, o Alexandre Jatobá, e, inclusive, sou advogado dele em outro processo. Ele estudou na mesma faculdade que eu, mas não tínhamos nenhum contato próximo. Depois, devido à proporção que o caso tomou, entraram Rogério Neres, que é meu sócio, e o doutor Marco Polo Levorin, por indicação do pai do Alexandre.

Dá impressão que vocês são próximos do casal.

Rogério Neres - Eventualmente, temos recebido críticas devido a essa aproximação. Em casos comuns, o cliente vai ao escritório e não o advogado à casa dele. Mas, neste caso, o Alexandre e a Anna Jatobá não podem sair, estão sendo ameaçados, não só no aspecto moral, com xingamentos, mas na integridade física. Por conta dessa pressão, pedimos para acompanhá-los na viatura.

Por que o caso Isabella repercutiu tanto?

Rogério Neres - Primeiro, por se tratar de uma criança. É muito grave o que aconteceu. É muito triste uma criança de 5 anos, com futuro brilhante, família estruturada, tanto do ponto de vista emocional quanto financeiro, ter a sua vida ceifada. Em segundo, pela maneira como a polícia conduziu os trabalhos, deixando-se, em alguns momentos, se levar pelos holofotes. E isso, para a imprensa, é prato cheio.

Acreditam que o casal será solto antes de ir a júri?

Ricardo Martins - O TJ (Tribunal de Justiça) e o STJ (Superior Tribunal de Justiça) ainda não julgaram o mérito do habeas corpus. Só indeferiram a medida de urgência. O pedido em si não foi indeferido e será julgado.

Prisão do casal. Foto João Clara/DISPRogério Neres - E seja como for, nada tem a ver com a responsabilidade que está sendo atribuída ao casal. O mérito ainda será analisado. Mas o MPF, ao se manifestar contra a libertação do casal, usa o termo periculosidade dos agentes...

Rogério Neres - O que é um grande equívoco, porque os agentes estavam em casa, não saíram de lá. Não colaboraram em nada com o tumulto no prédio dos Jatobá. O tumulto se deve à postura da polícia e de parte da imprensa.

Ricardo Martins - O argumento utilizado é equivocado e absurdo.

Os senhores acreditam em uma reviravolta nesse caso?

Ricardo Martins - Esperamos que, quando conseguirmos demonstrar todas as falhas do processo, as irregularidades, as precipitações, tudo mude. E isso servirá de lição a todos.

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