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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Ana Paula Arósio demonstra maturidade em "Ciranda de Pedra"

Mariana Trigo
Da TV Press

Os intensos olhos azuis de Ana Paula Arósio piscam incessantemente enquanto a atriz conversa. Na pele alva de Laura, em "Ciranda de Pedra", da Globo, Ana Paula volta à sua posição mais confortável na dramaturgia: histórias de época em composição com prosódia e gestuais antigos. Numa fase profissional mais madura e prestes a completar 33 anos de idade, a atriz, que começou a carreira estampando capas de revistas de moda, se orgulha de ter feito uma trajetória pontuada por diversas protagonistas na tevê. "Sou apaixonada por História e isso se reflete nas minhas personagens. Gosto do rebuscamento e do cuidado que precisamos ter com esse tipo de composição", valoriza.

Na trama de Alcides Nogueira, Laura casou-se muito cedo com Natércio, papel de Daniel Dantas. Dessa união, nasceram Bruna e Otávia, de Anna Sophia Folch e Ariella Massoti, respectivamente. Mas Laura apaixonou-se pelo neurologista Daniel quando teve de começar um tratamento psiquiátrico. Deste caso extraconjugal, nasceu Virgínia, de Tammy Di Calafiori. A menina é criada como filha legítima de Natércio e o personagem faz um pacto com a mulher e Daniel para que a traição não resulte num escândalo. No entanto, com o tempo e a piora do estado psicológico de Laura, a personagem decide ir morar com o amante. "Já fiz tanto drama na tevê que estou mais à vontade para relaxar em cena e curtir as loucuras da Laura", diverte-se Ana Paula.

De todas as suas personagens de época, a Laura é a única que realmente se comporta como uma mulher antiga. Como você avalia a personagem?
R - Realmente ela é a única verdadeiramente de época entre as outras. Não é uma mulher à frente de seu tempo nem quer ser livre ou virar uma libertadora feminista. Seu único desejo é ficar com o homem que ama e suas três filhas. Isso parece tão simples, mas é difícil para ela, que é presa aos grilhões da época. Minhas outras personagens eram mais fortes, questionavam os costumes e a moral da época em que viviam. A Laura não questiona nada, ela não é reativa. De fato, ela tem o comportamento mais antigo.

A que você atribui ter feito 10 personagens de época na tevê e apenas uma contemporânea, em "Páginas da Vida"?
R - Adoro História e gosto da obrigação de estudar História para esses personagens. Me divirto estudando os costumes de época. Adoro! Gosto do cuidado que a gente tem de ter nessas produções e até de não poder ficar relaxada em cena, sabe? Outro dia fiz uma cena em que sentei e cruzei as pernas. Tivemos de fazer de novo porque não se cruzava a perna daquela forma. Esse gestual vem com o figurino também. Os trabalhos de época têm me favorecido, têm me destacado. Isso é envaidecedor e estimulante.

Em "Um Só Coração" você interpretou a Yolanda Penteado, que também era uma personagem ligada à arte e que tinha São Paulo como pano de fundo. Essa composição teve semelhanças a este trabalho?
R - Existem paralelos, como o amor de ambas pela arte. Não precisei me aprofundar em técnicas de pintura ou ler muito sobre artistas plásticos. Foi mais suave. Sinto que já sei como fazer uma personagem assim, então a pesquisa é mais sutil. Estudei um pouco o trabalho da artista plástica Ana Durães, que fez minha preparação para a novela porque a Laura gosta de pintar. Boa parte do subconsciente dela é impresso nas suas telas. Tive cuidado para não fazer uma louca, mas uma mulher que é levada à loucura por situações extremas, por torturas psicológicas.

Que tipo de pesquisas você fez para dar credibilidade ao começo da insanidade da personagem?
R - Esse é um caminho difícil porque naquela época a Psiquiatria não era tão avançada. Acredito que a Laura tenha começado a ter um desequilíbrio emocional grande. Por ser incompreendida e não ter um tratamento adequado na época, isso vai se agravando. Tenho poucos dados do que ela realmente teria. Mas, com certeza, se agravou com a possessividade do marido, por ela ficar encarcerada em sua própria casa. Também pesquisei sobre relações entre mães e filhas.

Você está prestes a completar 33 anos de idade. Como tem sido interpretar uma mãe de três moças?
R - Olha, por enquanto não consigo me imaginar com filhos. Nem penso nisso. É bom ser mãe assim, de filhas crescidas, vacinadas, que já entendem o que eu falo. Mas naquela época era normal uma mulher de trinta e poucos anos já ter filhas grandes. Ela deve ter casado com uns 15 anos. Seria plausível que tivesse uma filha de 20. O estranho, na verdade, é que essas três meninas ainda estão encalhadas (risos). O que elas estão fazendo em casa? Tem de botar esse povo para casar!

No livro "Ciranda de Pedra", da Lygia Fagundes Telles, que inspirou a novela, a Laura morre na história. Já está prevista a morte da personagem na trama?
R - Pois é... O Alcides (Nogueira) me falou que está com dó de me matar. No começo, ficaria 50 capítulos. Agora já são 80. Eu não sei. Se ela morrer, também é bem capaz de voltar. Virou moda fantasmas em novelas. Mas, no livro da Lygia, Laura é morta por André, que pratica a eutanásia pelo estado avançado da doença da Laura. Em seguida, ele se mata. Mas não sei como o Alcides vai resolver. Acho que ele desistiu de me matar. (risos).

É a primeira vez que você atua numa novela das seis, faixa que está numa curva declinante na audiência. Isso preocupa você?
R - Não. Acho que, hoje em dia, as pessoas ainda estão muito ocupadas neste horário, nem chegaram em casa ainda para assistir tevê. Acho natural que a audiência tenha diminuído. Também não faz diferença para mim estar numa novela das seis ou no horário nobre. Gosto mesmo é de viver essas mulheres bem dramáticas. Quanto piores elas são, mais eu adoro.

Você sempre viveu personagens muito fortes na tevê, como a Hilda Furacão. Por que você costuma ser escalada para interpretar mulheres tão densas?
R - Tenho muita sorte na tevê. Não só de pensarem em mim para as protagonistas, mas de também estar disponível nestes momentos. Já me chamaram para papéis incríveis e fiquei com muita raiva porque tinha outros compromissos. Consegui conquistar a confiança de muitos diretores e autores desde que cheguei na Globo, em "Hilda Furacão", minha primeira trama na emissora.

Você nunca fez comédia na tevê, a não ser em uma breve participação em "Os Normais". Por quê?
R - Acho que me preferem no drama. Não querem arriscar um papel cômico comigo. Mas tenho vontade de fazer. Sei que deve ser muito mais difícil, principalmente para mim, que faço drama há tanto tempo. Mas acho que poderia ser um alívio na minha carreira. Me assusta saber que comédia bem feita é mais difícil que drama. Não sei se eu daria conta. Vai ver que é por isso que não arriscam em mim para personagens engraçadas. Devem pensar: "Deixa a fofa chorando que está bom!" (risos).

Em 2009 você completa 15 anos de carreira na tevê, desde que estreou no SBT como a Amanda, em "Éramos Seis". Você tinha acabado de deixar a carreira de modelo para investir na atuação. O que você destaca nessa trajetória na tevê?
R - Quinze anos? Daqui a pouco me aposento (risos). Na verdade, tenho 21 anos de carreira, desde que comecei a trabalhar como modelo. Tive trabalhos impactantes na tevê. Mas foi na minha estréia, em "Éramos Seis", que me senti acolhida nessa carreira. Toda a equipe sabia que eu tinha vindo da moda e me apoiou, sem preconceitos. Em seguida, fui fazer "Fedra" no teatro, com o Antônio Abujamra. Esse texto do Jean Racine foi importante para a minha formação, me trouxe responsabilidade como atriz. Mas fiquei em evidência mesmo foi em "Hilda Furacão". Ali as pessoas que me conheciam como modelo, chegavam para mim e diziam: "Você fala, né?".

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