A Biblioteca reúne cerca de 13.000 volumes, essencialmente centrados no núcleo inicial do século XIX e vem sendo actualizada com títulos mais recentes. Aqui, o sócio Eça de Queiroz e os seus amigos do Cenáculo costumavam consultar os jornais e revistas francesas, onde leram “Les Fleurs du Mal” de Baudelaire. Assinale-se a importante doação do sócio fundador, Marquês de Valdemar, então Encarregado de Negócios de Espanha, em Portugal.
Nesta sala iniciou-se, em 1985, em torno de personalidades destacadas das letras de então, o Movimento Contra o Acordo Ortográfico, para defesa da Língua Portuguesa, centralizado por Geraldo Salles Lane, Presidente do Grémio Literário.
O GRÉMIO LITERÁRIO foi criado por carta régia de D. Maria II em 18 de Abril de 1846 – “considerando Eu que o fim dessa associação é a cultura das letras e que pela ilustração intelectual pode ela concorrer para o aperfeiçoamento moral”.
O Grémio teve entre os seus fundadores as duas principais figuras do Romantismo nacional, o historiador Alexandre Herculano (Sócio nº 1) e o poeta e dramaturgo Almeida Garrett, e ainda o romancista Rebelo da Silva, o dramaturgo Mendes Leal, e grandes personalidades da vida politica do liberalismo, como Rodrigo da Fonseca (que redigiu os estatutos), Fontes Pereira de Melo, Rodrigues Sampaio, Sá da Bandeira, Anselmo Braancamp, o futuro Duque de Loulé, e da ciência, da economia e da velha e da nova aristocracia. Com sedes sucessivas sempre na zona do Chiado, “capital de Lisboa”, e passando pelo célebre palácio Farrobo, o Grémio Literário instalou-se finalmente, em 1875, no palacete do visconde de Loures, na rua então de S. Francisco. É um edifício exemplar da arquitectura romântica de Lisboa, preservado ao longo dos tempos, com o seu jardim de 1844, único nesta área histórica da cidade, tendo recebido em 1899 grandes obras de decoração de José de Queiroz, nas salas e na varanda aberta sobre o Tejo e o Castelo de S. Jorge.
Uma actividade intelectual, de conferências, cursos sobre literatura, arte, arquitectura, economia politica, direito, ministrados por especialistas de renome, correu a par com uma vida mundana própria da sociedade do século. As suas salas, a biblioteca, o famoso gabinete de leitura de jornais foram frequentados por gerações sucessivas de sócios e menção do Grémio Literário encontra-se em muitas obras de autores célebres, como Teixeira de Queiroz, Abel Botelho, Ramalho Ortigão, Júlio de Castilho, G. Mattos Sequeira, e sobretudo Eça de Queiroz, que nele localizou várias cenas de Os Maias – sabendo-se que no prédio do lado habitava Maria Eduarda, a maior criação romanesca feminina do século XIX português…
As equipas de esgrima e de xadrez do Grémio Literário tiveram lugar honroso na vida lisboeta ainda em princípios do século XX – e foi nas suas salas que se realizou, em 1912, a primeira exposição “modernista” registada pela História de Arte Portuguesa, nela tendo exposto pela primeira vez Almada Negreiros – que mais tarde seria sócio honorário do Grémio. Se a evolução dos costumes da cidade fez abrandar a frequência significativa do Grémio Literário até meados de Novecentos, nos anos 60 o seu papel cultural e mundano foi recuperado e, graças à direcção de G. Salles Lane (que há pouco se retirou), com grandes obras de decoração de Duarte Pinto Coelho e instalação de um bar e de um restaurante de qualidade, o Grémio Literário adquiriu um novo lustre, que a famosa conferência de V.Giscard d’Estaing em 1969 ou colaboração na vinda, em 1974, da “Comédie Française” ao Teatro S. Luís completaram.
Um centro de estudos do século XIX teve a sua hora então, sob a direcção de Vitorino Nemésio, J. Serrão, J-A. França, J. Tengarrinha, realizando-se conferências, publicações, cursos e colóquios internacionais e enriquecendo-se a biblioteca de especialidade. Mais recentemente, um Conselho Literário reactivado passou a promover a apresentação de escritores (como Lídia Jorge, J. Saramago, D. Mourão Ferreira, A. Bessa-Luís, Sophia de Mello Breyner, Urbano T. Rodrigues) de livros recém-editados, de filmes em antestreia, de concertos, comemorações (de Garrett, Herculano, Eça, Balzac, Victor Hugo), realizando anualmente em, 25 de Novembro, um jantar dedicado à memória de Eça de Queiroz, na data do seu nascimento.
Uma larga correspondência com outros “clubs” e “cercles”, na Europa, nas Américas e em outros continentes, assegura um convívio internacional a professores, escritores, juristas, médicos, economistas, empresários, diplomatas, personalidades da política, como chefes de Estado e chefes de governo – sócios deste Grémio que tem mais de um século e meio de existência e, nomeado membro honorário da Ordem de Santiago da Espada (1996) e já titular da Medalha de Honra da Cidade de Lisboa (1987), é considerado de “Utilidade Pública” «pela notável actividade de uma das associações mais antigas da Europa e pela importância das acções desenvolvidas na defesa da língua portuguesa». (1996).
Situado ao nível da cave, encontra-se o jardim a que Eça de Queiroz chamava " a minha Quinta do Chiado ".
A versão actual do Jardim do Grémio Literário é da autoria do nosso Consócio Prof. Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.
Em 1969, teve aqui lugar a conferência seguida de recepção ao Presidente Valéry Giscard D'Estaing
Este bonito espaço contíguo à sala Luís XV, ostentando elegante lareira, constitui um gabinete de gosto vitoriano, por onde terão passado nas últimas décadas do Século XIX, personalidades do grupo conhecido como os “Vencidos da Vida”. Esta sala, toda em madeira é decorada por dois belos vitrais da autoria de Jacques Gruber e por um valioso quadro a óleo de George Clairin, representando o único nu existente de Sarah Bernhardt.
A Sala Luís XV em estilo neo-barroco, utilizada para reuniões sociais e banquetes, beneficia de sacadas com vistas para o Castelo de S. Jorge e Rio Tejo. A pintura do tecto é atribuída a José de Queiroz.
A Varanda debruçada sobre o magnífico jardim privativo do Grémio Literário e gozando de uma bela vista panorâmica sobre o Rio Tejo, é um dos espaços mais românticos da Casa. Com a sua decoração em estilo “arte nova”, o local é particularmente procurado pelos sócios que aqui vêm almoçar ou jantar.
Na noite de 30 de Junho de 1972, no Jardim e Varanda, teve lugar o que a imprensa, de então, viria a classificar como “O Banquete do Século”, que reuniu grandes cozinheiros franceses.
O Bar é constituído por uma ampla e confortável sala tendo na parede do fundo um quadro da autoria do pintor Luís Pinto Coelho, representando uma reunião de sócios fundadores. Noutras paredes expõem-se retratos de alguns dos fundadores (Alexandre Herculano, Almeida Garrett e Rodrigo da Fonseca).
O busto de Alexandre Herculano (Sócio nº 1) tendo como pano de fundo um vistoso painel de azulejo representando uma cena de caça. Sobre a mesa, o Livro de Convidados
Elegante sala decorada por Duarte Pinto Coelho.
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