Publicada em 06/12/2010 às 00h24m
Sérgio Ramalho - Enviado especialCIUDAD DEL ESTE, Paraguai - Comparada a uma partida de xadrez, a ocupação dos complexos do Alemão e da Vila Cruzeiro deixou em xeque a maior facção criminosa do Rio. Porém, o movimento que pode levar a um xeque-mate depende do governo federal e deve ser feito a 1.614 quilômetros do estado, na fronteira com o Paraguai. No país vizinho, um consórcio de traficantes cariocas e paulistas domina 70% das áreas de plantio de maconha em Capitán Bado e Pedro Juan Caballero, cidades na fronteira com o Mato Grosso do Sul. Um negócio milionário que tem à frente o traficante Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói.
O domínio das áreas de plantio garante lucros astronômicos às duas facções criminosas. Para se ter uma ideia das cifras, um quilo da droga no Paraguai é comprado por valores que variam de R$ 15 a R$ 30. Vale lembrar que R$ 1 equivale a 2.700 guaranis, a moeda paraguaia. No Rio, o quilo da droga varia entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, garantindo uma margem de lucro superior a 3.000%. A promotora Jiskia Trentin, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Mato Grosso do Sul, estima em US$ 20 milhões (R$ 34 milhões) as cifras movimentadas mensalmente pelo tráfico de maconha na fronteira.
As áreas de plantio da droga no país ocupam seis mil hectares, aproximadamente 64,8 mil metros quadrados ou seis mil campos de futebol. O número consta do relatório mundial sobre drogas 2010 da ONU e foi estimado em 2008 pela Secretaría Nacional Antidrogas (Senad), do Paraguai. Juntas, as facções carioca e paulista dominam as regiões, onde estão concentrados 4,2 mil hectares - 48,6 mil metros quadrados - de terras usadas no cultivo da Cannabis sativa. A cidade paraguaia de Capitán Bado figura como o principal reduto do bando.
Leia também: Polícia encontra três toneladas de maconha no Alemão
O domínio da região por traficantes brasileiros começou em 2001, após os assassinatos de Ramón e Mauro, filhos de João Morel, então considerado o rei da maconha. Investigações da Senad e de promotores da Fiscalía de Amambay - estado onde estão localizadas as cidades de Pedro Juan Caballero e Capitán Bado - apontam Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, como mandante dos crimes. A partir das execuções dos chefes da família Morel, a facção de Beira-Mar ampliou o domínio territorial de Capitán Bado a Pedro Juan Caballero. Investigações conjuntas da Polícia Federal e da Senad indicam que com a prisão de Beira-Mar, hoje na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), Marcelinho Niterói passou a comandar os "negócios" da quadrilha na fronteira.
Aliado antigo de Beira-Mar, que o trata como "filho louro", Marcelinho Niterói é de uma família de classe média de Icaraí. Além do plantio, ele também coordena as rotas de transporte da droga para abastecer os pontos de venda da facção no Rio.
Dados da PF mostram que 80% da maconha apreendida do Rio têm como procedência o Paraguai. Os demais 20% saem de plantações na Bolívia, país que apresentou aumento nas áreas de cultivo da droga, segundo relatório da ONU.
Leia a íntegra desta reportagem na edição desta segunda-feira do Globo Digital (exclusivo para assinantes).
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