Declaração ao 'Washington Post' foi divulgada pouco depois da notícia de que Celso Amorim deve mesmo deixar comando do Itamaraty
Luciana Xavier CORRESPONDENTE NOVA YORK, Lucas de Abreu Maia - O Estado de S.Paulo
A presidente eleita Dilma Rousseff criticou, em entrevista publicada ontem no jornal The Washington Post, o comportamento do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em 18 de novembro, ao se abster de votar uma condenação às violações de direitos humanos no Irã. "Não concordo com o modo como o Brasil votou. Não é a minha posição", afirmou Dilma, que vinha evitando fazer comentários sobre a decisão do Itamaraty.
Na votação, a ONU aprovou uma censura ao regime iraniano por violações de direitos humanos e pediu o fim dos apedrejamentos, da perseguição a minorias e de ataques a jornalistas.
O Brasil foi um dos 57 países que se abstiveram na votação - outros 80 votaram a favor da condenação e 44 foram contrários. A aproximação do Brasil com o Irã tem sido vista com preocupação por Estados Unidos e Europa.
A censura da ONU a Teerã foi motivada pela condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Achtiani, acusada de adultério e de envolvimento no assassinato do marido. Em sua primeira entrevista como presidente eleita, Dilma havia criticado a sentença.
Na entrevista ao Post, ela voltou a condenar o apedrejamento de mulheres no Irã. "Não concordo com as práticas medievais características que são aplicadas quando se trata de mulheres. Não há nuances e eu não farei nenhuma concessão em relação a isso", garantiu. "Não sou a presidente do Brasil (hoje), mas ficaria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não me manifestar contra o apedrejamento. Minha posição não vai mudar quando assumir."
As declarações de Dilma foram antecipadas no site do jornal americano na sexta-feira, pouco depois da notícia de que o atual chanceler, Celso Amorim, deve mesmo deixar o comando do Itamaraty. O ministério das Relações Exteriores provavelmente será comandado por Antônio Patriota - que já foi embaixador do Brasil em Washington.
A despeito da inflexão do discurso em relação ao Irã, a presidente eleita defendeu o diálogo com o governo dos aiatolás e criticou a política externa americana para a região. "O que vemos no Oriente Médio é a falência de uma política de guerra: estamos falando do Afeganistão e o desastre que foi a invasão do Iraque", criticou. A presidente eleita defendeu as negociações de paz na região, sugerindo que seu governo manterá a estratégia atual de intermediar conflitos.
Economia. Dilma reconheceu que o momento internacional é de grande instabilidade global por causa da crise econômica e é fundamental estimular a retomada das economias desenvolvidas a fim de garantir o equilíbrio do mundo. "Ninguém no Brasil se sentirá confortável se os EUA continuarem com altas taxas de desemprego. A recuperação dos Estados Unidos é importante para o Brasil porque são um extraordinário mercado consumidor."
A presidente eleita fez questão de reiterar seu compromisso com a estabilidade econômica. "Essa foi a maior conquista do nosso país", comentou.
"Acredito que o meu governo será diferente do governo do presidente Lula. Não poderei repetir sua gestão, porque a situação atual é muito melhor que em 2002. Meus desafios são outros. Tenho de encontrar soluções para problemas como a qualidade da saúde pública no Brasil, a questão da segurança e o déficit de infraestrutura", destacou.Sphere: Related Content
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