Rocinha ajuda a esconder inimigos
Pelo menos dois traficantes fugiram do Complexo do Alemão para a favela da Zona Sul, que é comandada por facção rival
POR LESLIE LEITÃO .... ODIA
Rio - A Polícia Civil conseguiu ontem a primeira confirmação de que bandidos do Comando Vermelho, de fato, receberam abrigo na Favela da Rocinha, em São Conrado, dominada por facção rival, a Amigos dos Amigos (ADA). As informações dão conta de que pelo menos duas lideranças de comunidades de São Gonçalo — que se escondiam nos complexos do Alemão e da Penha — estiveram, sábado, em um baile funk na Rua 1.
Foram apreendidas mais de três toneladas de maconha ontem no Complexo do Alemão | Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia
Eles foram identificados como Maicon dos Santos de Souza, o Gaguinho ou 2G, dono do Complexo da Coruja, em Neves; e seu gerente-geral Wallace Batista Soalheiro, o Pixote. O baile é o mesmo em que, uma semana antes da invasão da polícia à Vila Cruzeiro, esteve presente o traficante Diego Raimundo Silva Santos, o Mister M — agora preso.
As investigações indicam que neste encontro foi selado espécie de pacto de não agressão e colaboração entre as facções. Mister M, também conhecido como 50, era braço direito de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, chefe do tráfico do Alemão.
Mister M foi preso ao se entregar na 6ªDP (Cidade Nova) depois de ter sido traído pelo próprio Pezão. No sábado, dia 27 de novembro, véspera da tomada do Alemão pela policia, Pezão convocou uma reunião com todas as lideranças de favelas que estavam escondidas ali dentro, mas desapareceu antes do encontro, ocorrido no Areal.
Após nove dias de ocupação, o paradeiro de Pezão ainda e mistério para os órgãos de inteligência da Secretaria de Segurança Pública. Sabe-se que, entre seus comparsas de CV, ele teria ficado com fama de traidor.
As denúncias de que Pezão teria recebido abrigo na Rocinha não se confirmaram. Pelo menos por enquanto. O que a polícia sabe é que os contatos entre Pezão e o chefe da Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, eram constantes. Sempre via MSN.
Foto: Reprodução vídeo
Abrigo tem prazo de validade
A presença de Gaguinho e Pixote na Rocinha, ainda que momentânea (Nem deu prazo até o fim desta semana para conseguirem outro esconderijo), abre uma nova frente de investigação. Ao longo da última semana, Nem deu indicações de que não abrigaria bandidos do CV em seu território. Chegou a mandar uma kombi rodar a favela anunciando que a Rocinha nada tinha a ver com os ataques à cidade e, por isso, a população poderia seguir sua vida tranquilamente.
Essa contrainformação fez com que o próprio secretário de segurança, José Mariano Beltrame, duvidasse da possibilidade desse apoio, como afirmou em entrevista publicada ontem no jornal O DIA.
Agora, o foco volta para a comunidade de São Conrado, antes relegada a uma segunda etapa, já que não vinha causando transtornos nas ruas da cidade.
Outro que teria passado pela Rocinha é Lúcio Mauro Carneiro dos Passos, o Biscoito. Gerente do Morro do Cajueiro e homem de confiança de Luiz Cláudio Serrat Corrêa, o CL, ele também ganhou abrigo na comunidade, mas não há comprovação de que ainda esteja lá.
Gaguinho e Pixote estavam com seus seguranças e exibiam pesados cordões de ouro, segundo as informações de moradores. Os dois viviam na Fazendinha, no Complexo do Alemão, desde que, em novembro do ano passado, tramaram a morte do policial civil Rogério Carlos Antunes da Costa, de 47 anos, e passaram a ser caçados em São Gonçalo. O primeiro ascendeu dentro do CV por suas conexões com traficantes de armas do Paraguai, que despejavam fuzis, pistolas no Rio.
Pixote, que tem fama de violento, perdeu dois dedos em virtude da explosão de granada durante guerra no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho.
Bope apreende mais droga
Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) apreenderam três toneladas de maconha ontem no Complexo do Alemão. A droga estava enterrada embaixo de uma casa em construção, no alto do Morro da Fazendinha. Segundo moradores, próximo ao local, funcionaria o microondas (onde rivais eram mortos).
À tarde, agentes da 22ª DP (Penha) estouraram uma casa que servia de depósito de drogas na região. Os policiais apreenderam cerca de 300 quilos de maconha em uma casa na Rua 6, na Vila Cruzeiro, na Penha. Também foram encontrados 997 trouxinhas da droga, 25 frascos de cheirinho da loló, 103 sacolés de cocaína e 35 pedras de crack.
A PM pediu desculpas pelos transtornos causados aos proprietários de carros recuperados na operação por ter marcado os veículos com tinta colorjet branca, a exemplo do que foi feito com as armas encontradas.
Qualquer informação que ajude a polícia a encontrar drogas, armas ou traficantes pode ser passada do Disque-Denúncia: 2253 1177.
Reforço na fronteira paraguaia
O governo do Paraguai colocou mais 15 policiais do grupo especial de Assunção para reforçar o patrulhamento na cidade de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com o Brasil. O objetivo é evitar que traficantes do Rio de Janeiro entrem no país. Denúncias anônimas informaram à polícia paraguaia que alguns bandidos cariocas já teriam conseguido atravessar para o país vizinho, principal fornecedor de armas e drogas das favelas do Rio de Janeiro.
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