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domingo, 11 de outubro de 2009

Traumatizadas com talidomida, grávidas rejeitam vacina contra H1N1

ANNE DRAPKIN LYERLY
MARGARET OLIVIA LITTLE
RUTH R. FADEN
especial para o New York Times

Mulheres grávidas são inundadas com conselhos sobre o que devem evitar: cafeína, tinta, queijo, sushi. Mesmo quando as evidências de possíveis danos são fracas ou puramente teóricas, a principal advertência é: "Não tome, não use, não faça".


Em algumas situações, os avisos são justificáveis; na maioria, são meramente inconvenientes e provocam ansiedade. No caso da gripe pandêmica, entretanto, ele pode ser fatal. Com a segunda onda da gripe suína chegando, e com até 50% das pessoas em risco, o modo usual de pensar sobre gravidez e medicamentos ameaça piorar ainda mais uma situação já preocupante.

Os perigos desse pensamento se tornaram assustadoramente aparentes neste verão, quando um estudo publicado no "The Lancet" relatou taxas notavelmente altas de mortalidade, e de complicações como pneumonia, em mulheres grávidas com a gripe H1N1. A gravidez significava um risco quadruplicado de hospitalização, algumas vezes com consequências trágicas; todas as mulheres grávidas que morreram haviam começado relativamente saudáveis.

Desde então, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças colocaram as mulheres grávidas no topo da lista de prioridades para a vacina, e recomendaram que elas começassem a receber medicamentos antivirais assim que possível após exposição ao vírus e após a aparição de sintomas de gripe.

Porém, se a experiência é algum indicativo, mesmo essas rigorosas recomendações podem não ser o bastante para vencer a relutância entre as mulheres grávidas e aqueles que cuidam delas. Embora a vacina contra a gripe sazonal seja recomendada particularmente para mulheres grávidas, em um estudo apenas 15% receberam a vacina --uma taxa muito mais baixa do que em qualquer outro grupo adulto para o qual a vacina era recomendada.

Apesar das recomendações de que os remédios antivirais fossem iniciados logo após a aparição dos sintomas da gripe, muitas mulheres grávidas no estudo do "Lancet" não foram tratadas cedo o suficiente. Atrasos variaram de seis a 15 desde os primeiros sintomas, e de dois a 14 dias do momento em que as mulheres foram examinadas por um médico. Nenhuma das seis mulheres grávidas --e relativamente saudáveis-- que morreram recebeu medicação no período de 48 horas após o início da doença.

Talidomida

Esse é um padrão tristemente conhecido. Após o desastre da talidomida, na década de 1960, e as preocupações bastante reais levantadas a respeito do impacto dos medicamentos no desenvolvimento fetal, muitos acabaram enxergando o uso de qualquer remédio por mulheres grávidas como um anátema. Como resultado, médicos e mulheres frequentemente suspendem o uso de medicamentos para doenças graves, mesmo quando os danos da doença não-tratada, para as mulheres e as crianças que elas carregam, são piores que quaisquer riscos de remédios.

Uma asma mal tratada durante a gravidez, por exemplo, está associada a taxas mais altas de complicações na gravidez, assim como problemas de crescimento para o feto e parto prematuro. Por outro lado, as mulheres cuja asma é controlada com medicamentos se saem muito bem, assim como seus bebês. Diabetes não tratada cedo na gravidez eleva o risco de graves defeitos de nascença, para até um em quatro.

Mesmo quando as evidências são claras, as grávidas acham difícil lutar contra a mentalidade do "não tome, não use, não faça", que foca nossas mentes e emoções somente nos riscos de tomar um medicamento. Escondidos da visão estão os riscos da doença em si.

Superar essa mentalidade exigirá trabalho em diversas frentes. Todos os esforços precisa ser realizado para alertar mulheres grávidas e médicos sobre os riscos especiais do H1N1 na gravidez. Os esforços educacionais precisam ser sinceros quanto aos argumentos por trás dessas importantes recomendações, incluindo os limites do que sabemos e os motivos pelos quais a preocupação é tão grande agora para as mulheres grávidas.

Entretanto, a chave para o sucesso, agora e no futuro, será a conduta da pesquisa específica para necessidades das mulheres grávidas. Preocupações a respeito da ética da pesquisa envolvendo essas mulheres significam que sabemos muito menos sobre como tratar ou prevenir doenças durante a gravidez do que em outros adultos e crianças. A ameaça urgente da gripe H1N1 revelou o fato de que as mulheres grávidas podem e devem ser protegidas através da pesquisa, e não por ela.

Estudos envolvendo mulheres grávidas em experimentos de vacinas para a gripe suína, financiados pelo Instituo Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, ocorrem atualmente em seis grandes centros médicos. Pesquisadores também estão estudando maneiras de direcionar o uso de medicamentos antivirais para adaptar os metabolismos alterados de mulheres grávidas. Especialistas sugerem que estudar amostras de sangue de duas dúzias de mulheres é tudo de que precisamos para determinar se a dose padrão para adultos de antivirais é eficaz para tratamento ou proteção durante a gravidez.

Se existe algum momento para reescrever o roteiro de como pensar a respeito de remédios, vacinas e gravidez, a hora é agora. As vidas de mulheres e bebês dependem disso.

Anne Drapkin Lyerly é professora associada de obstetrícia e ginecologia na Universidade Duke. Margaret Olivia Little é diretora do Instituto de Ética Georgetown Kennedy. Ruth R. Faden é diretora do Instituto de Bioética Johns Hopkins Berman.









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