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domingo, 11 de outubro de 2009

Padres pedófilos pagam seus pecados na cadeia


Plantão | Publicada em 11/10/2009 às 09h33m

Tahiane Stochero, Diário de S. Paulo

SÃO PAULO - Não são apenas os fiéis que têm que pagar pelos pecados que cometem. Um levantamento realizado pelo Diário de S. Paulo aponta que, dos dez representantes de igrejas que foram acusados de abuso de menores nos últimos cinco anos no estado, seis já foram condenados pelo crime. Em outros quatro casos, os processos ainda estão tramitando. Os casos analisados envolvem seis padres católicos, três pastores evangélicos e um missionário.

O padre Alfieri Eduardo Bompani e o frei Tarcísio Tadeu Sprícigo escreveram diários em que relatam como convenciam as crianças a se submeterem a abusos sexuais. Bompani foi acusado de ter relações com meninos de idades entre 6 e 10 anos, em um sítio que mantinha em Sorocaba, a 99 quilômetros da capital. Ele foi condenado em 2004 a 93 anos de prisão e está detido, desde então, na Penitenciária de Sorocaba.

O frei Sprícigo foi condenado em 2005 a 14 anos de reclusão por ter molestado dois meninos, de 8 e 13 anos de idade, em Anápolis (Goiás) e em Agudos, a 313 quilômetros da capital. Em seu diário pessoal, que serviu como prova contra ele, o frei descreveu a forma como persuadia as crianças, salientando a importância de "ser carinhoso e não apressado". Tanto ele como Bompani negam os crimes.

- Se a Justiça os julgou e, no final do processo, considerou-os culpado, nada mais óbvio que sejam condenados. Mas pedofilia virou moda atualmente. Não há nenhum estudo que indique que os religiosos sejam mais pedófilos que outras pessoas, como pais e padrastos, que estão no círculo familiar da vítima - diz o teólogo e sociólogo Gedeon Freire de Alencar, pesquisador do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos.

O Diário procurou durante duas semanas o padre Juarez de Castro, porta-voz da Arquidiocese Metropolitana, para saber se há algum trabalho de prevenção e combate à pedofilia na Igreja, e se padres inocentados pelos crimes podem continuar exercendo o sacerdócio. Foram deixados recados na sede da Igreja Católica na capital e no celular do padre, além do envio de emails. Não houve resposta. A Igreja Universal, a qual estavam ligados os pastores denunciados, afirmou que não iria se manifestar sobre o tema.

O advogado Pedro Strozenberg, diretor do Instituto de Estudos da Religião (Iser), afirma que as igrejas não sabem lidar com os problemas e tendem a "negar e esconder" crimes cometidos por religiosos.

- As igrejas baseiam sua crença em dogmas e normas. Na situação de um crime, há uma tentativa de proteção da imagem da Igreja. Existe um receio de enfrentar situações como tráfico e pedofilia. Há uma respeitabilidade por parte dos fiéis, que deve ser mantida - diz Strozenberg.

Em 2008, o papa Bento XVI prometeu "excluir definitivamente os pedófilos do sagrado ministério". Sobre a pedofilia na Igreja Católica, o líder máximo do catolicismo afirmou ser "mais importante termos bons padres que muitos padres". Ele disse que "fará o que for possível para curar essa ferida".

Há dois meses, dois casos de religiosos acusados de pedofilia foram julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado. No mesmo mês em que o padre Juscelino de Oliveira foi condenado a 12 anos de prisão por ter abusado de uma menina de 10 anos, filha de um primo, em Franca, a 400 quilômetros da capital, o padre José Eduardo Balikian foi inocentado em segunda instância pelo Tribunal de Justiça da acusação de ter abusado sexualmente de duas irmãs, de 15 e 16 anos, em Marília, a 452 quilômetros de São Paulo.

Balikian ficou preso e foi condenado em primeira instância a 14 anos, em regime fechado, pelos crimes. Sua defesa recorreu da sentença e venceu.

- Agora ficou provada a injustiça que foi feita pela sociedade contra ele - afirma o advogado Marco Antonio Martins, que defende o padre.

Atualmente, Balikian é professor em uma universidade de Presidente Prudente, no oeste do estado. A defesa diz que o padre pode voltar ao sacerdócio, que seria uma reivindicação da comunidade de Marília. O pai das meninas, que flagrou as duas em um carro com o padre em frente a um motel, afirma que a família está "marcada" pelo episódio e que irá recorrer da decisão.

- Essas jovens nunca mais vão ser as mesmas. São apontadas pela sociedade pelo que aconteceu e viraram motivo de chacota na escola. Têm vergonha de sair nas ruas - explica Pedro Camacho, advogado das vítimas.








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