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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Aguinaldo Silva: “Preciso desta vida solitária que levo para trabalhar”


Há dez anos sem namorar, autor afirma que sexo não é importante atualmente

Elena Corrêa

Marcelo Corrêa
Aos 65 anos, Aguinaldo Silva parou de pintar os cabelos. Assumiu os fios totalmente brancos, mas não perdeu a vaidade. “Meu cabeleireiro disse para eu usar roupa escura, para realçar”, diz o autor, todo de preto, em sua casa na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Há 31 anos na TV Globo e com contrato renovado até 2014, ele se prepara para estrear em dezembro a minissérie Cinquentinha. Bom de lábia, Aguinaldo, por meio de seu blog, conseguiu pôr sua minissérie na mídia bem antes – e fez dela um assunto comentadíssimo na imprensa. Ele só não aceita mais falar sobre a saída de Marília Pêra da atração, há algumas semanas, após 17 cenas já gravadas, alegando que seu papel era secundário. Na época do episódio, ele declarou que não chamaria a atriz para outro trabalho, dizendo que ela não seria “confiável do ponto de vista profissional”. Na entrevista a seguir, ele fala da concorrência entre os autores de novela, conta que está há dez anos sem namorado e afirma que sexo ocupa o 17° lugar entre as prioridades de sua vida.

QUEM: Como surgiu a ideia de Cinquentinha?
AGUINALDO SILVA:
Hoje em dia, você encontra senhoras de 60 anos com cara de 50 e atitudes de 40, e isso é altamente positivo. Há quatro anos, escrevi uma peça, A Vida Começa aos 60, que será produzida neste ano, com a Nívea Maria, e que fala exatamente dessas mulheres ativas até os 70, trabalhando e arranjando namorados, geralmente mais jovens.

QUEM: Reynaldo Gianecchini não aceitou ser o vilão gay da história. Ele se assustou?
AS:
Não sei. Ele foi convidado, sim. Adorou a ideia de fazer algo diferente, seria bom para o crescimento dele como ator. Mas depois achou que não era a hora de fazer esse personagem. Confesso que foi um pouco minha culpa, porque contei no blog que seria ele e todo mundo correu atrás do coitado. Se eu tivesse ficado calado... Acho que o Gianecchini é muito bonito e as pessoas não suportam isso, pensam em enlamear um pouco essa imagem.

"ACHO QUE O GIANECCHINI É MUITO BONITO E AS PESSOAS NÃO SUPORTAM ISSO, PENSAM EM ENLAMEAR UM POUCO ESSA IMAGEM."

QUEM: Fábio Assunção também estava cotado para a minissérie?
AS:
Estava, mas ofereceram a ele o papel de Herivelto Martins em outra minissérie. Ele seria bobo se não aceitasse – como a Cláudia Abreu, que não aceitou o papel de Dalva de Oliveira. Eu tenho um problema sério porque já escrevi vários personagens para o Fábio e até hoje não consegui, porque sempre ele está reservado para a novela do Gilberto Braga, para a minissérie do Gilberto...

QUEM: Existe concorrência entre os autores?
AS:
Claro que existe. Isso é saudável, é o que faz a gente caprichar. Nós não trabalhamos por dinheiro, trabalhamos por amor, entende (risos)?

QUEM: Mas já houve atrito?
AS:
Nunca. Quando eu e o Gilberto escrevemos Vale Tudo (1988), uma vez uma radialista disse no programa dela que nós dois tínhamos nos atracado no corredor da Globo por causa da novela. Fiquei indignado, liguei para desmentir no ar. Ela começou a falar sem parar, não me deixou dizer nada e desligou o telefone. Ficou essa história de que não nos suportamos. Mas intriga entre o Gilberto e eu jamais vão conseguir fazer, porque a gente se adora.

QUEM: Você também é jornalista. Já pensou em ter um talk show?
AS:
Pensei, mas até os 60 anos eu era tímido de doer. Um belo dia, fui colocado contra a parede para fazer uma palestra na Globo, cheguei lá, comecei a falar e fui um sucesso. Descobri, de lá para cá, que sou quase um showman. Na verdade, queria ter uma coluna num jornal ou em uma revista. Com todos esses anos ganhando dinheiro com novela, só penso em mim como jornalista. Mas, se eu for para uma redação, vou ser considerado um Matusalém.

QUEM: Você concorda com uma declaração recente do Gilberto Braga de que os atores gays não devem se assumir para não perder a chance de fazer papéis de galã?
AS:
Concordo. O público não gosta de saber que o galã é gay, e a gente tem que se conformar com isso. A mulher está vendo a novela, o galã lá dando o maior beijo na heroína, e o marido do lado dizendo: “Ah, mas ele é veado”. Acaba com o ator, por mais que a mulher goste e tenha tesão por ele. O galã tem que manter as aparências.

QUEM: O fato de você morar um tempo no Rio e outro em Lisboa já fez surgir comentários de que estaria com um namorado em Portugal...
AS:
Ai, meu Deus, eu namoro Lisboa, adoro aquela cidade fantástica (risos).

"SÓ FARIA TERAPIA SE O ANALISTA ME PAGASSE. COMO É QUE EU VOU SENTAR LÁ, DIVERTIR O CARA DURANTE 40 MINUTOS E DEPOIS PAGAR? ELE É QUE TEM QUE ME PAGAR."

QUEM: Não tem um namorado lá?
AS:
Não, não. Há dez anos que eu não namoro. Não tenho tempo.

QUEM: Mas no fim do ano passado você disse que tinha dado um “vou pensar” a dois pedidos de casamento...
AS:
Um deles foi uma senhora, uma velha companheira de trabalho da Globo, que chegou perto de mim e me pediu em casamento. E não era brincadeira. Ela disse: “É sério! Quero casar contigo!”

QUEM: E o outro?
AS:
Ah, o outro não posso falar.

QUEM: Por quê?
AS:
Ah, não é por mim, é pela pessoa. E também foi uma brincadeira. Eu não conseguiria conviver com mais ninguém. Preciso desta vida solitária que levo para trabalhar. Me incomoda um pouco até quando minhas auxiliares, que vêm dois dias por semana, ligam o aspirador. E essa coisa do sexo, eu já disse que não é a minha preferida. Na minha ordem de preferência, sexo está em 17° lugar, tem coisas muito melhores. Já esteve em primeiro, mas há muitos anos.

QUEM: Por que em 17°?
AS:
Porque me desinteressei. Gosto de namorar, mas não tenho mais tempo nem paciência para isso. E, se não houver namoro, se for sexo circunstancial, não tem graça. Outro dia, fui fazer meu checkup e o médico perguntou como estava minha vida romântica. Eu falei, brincando: “Por menos de 20 mil reais eu não tiro a roupa!” (risos).

QUEM: Não tem medo de envelhecer sozinho?
AS:
Na minha idade, não preciso de namorado, preciso de enfermeira. Imagina se acontece de a pressão ficar alta, eu vou pensar: “Ah, se eu tivesse um enfermeiro em casa!”. Não vou pensar: “Ah, se eu fosse casado!”.

QUEM: O seu blog é seu divã?
AS:
É. Porque dou minha opinião sobre os fatos da vida, e é também jornalístico, porque dou notícias preferencialmente do setor no qual trabalho. Uma das coisas que mais me diverte é furar todo mundo. Vou às peças, tiro fotos, chego em casa e meia hora depois está lá meu arquivo com minhas fotos. Mas agora os paparazzi estão todos trabalhando com laptop, mandam direto para o site. Vou ter que fazer isso também.

QUEM: Já fez terapia?
AS:
Não. Eu só faria terapia se o analista me pagasse. Como é que eu vou sentar lá, divertir o cara durante 40 minutos e depois pagar? Ele é que tem que me pagar.

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