Publicada em 17/07/2009 às 17h18m
Fernanda BaldiotiRIO - Com 11 mortes causadas pela gripe suína confirmadas no país e diante da revelação do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que o vírus Influenza A (H1N1) circula livremente no território nacional, as medidas adotadas pelo governo para combater a doença começam a ser questionadas. Desde o início do mês, o governo mudou o sistema de tratamento dos casos suspeitos de infecção e apenas pacientes com sintomas graves ou em grupos de risco (como bebês, idosos e pessoas com baixa imunidade) passaram a receber o medicamento Tamiflu. Fica a critério do médico classificar ou não o quadro do paciente como grave, o que na opinião do infectologia Edmilson Migowski, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, coloca os profissionais de saúde numa situação delicada.
Migowski explica que, nas primeiras horas de contágio, é improvável que o quadro se apresente como grave, como aconteceu com a mulher de 37 anos que morreu com o vírus no Rio. Ela foi atendida e dias depois seu estado de saúde se agravou e evoluiu para uma pneumonia:
- Pelo critério do governo, casos como o dela não receberiam o remédio. De quem seria a culpa pela piora do quadro? Do médico que não o encaixou como grave desde o início? O profissional vai ficar numa situação delicada - ressaltou Migowski.
O infectologista Alex Botsaris explica que o medicamento tem que ser ministrado em até 48 horas depois do início dos sintomas. Após esse período, ele não altera tanto o curso da doença. Botsaris defende que, em casos de dúvida, o paciente tem que ser medicado:
- Nos EUA, eles trataram todas as pessoas que estavam com sintomas. Na Argentina, a mortalidade é maior porque o sistema de saúde decidiu, como o governo brasileiro, não administrar antiviral para todos os pacientes - afirmou Botsaris.
Para Migowiski, o problema é que o medicamento não está sendo comercializado e só é distribuído na rede pública, o que restringe o acesso. Ele ressalta que, o governo não tem que temer a automedicação porque o Tamiflu é para ser vendido com receita médica:
- Mesmo que você tenha recursos para pagar, você não consegue comprar o medicamento, ao contrário do que acontece em outros países.
A Roche, laboratório que comercializa o Tamiflu, informou que não há previsão de quando o remédio voltará a ser disponibilizado nas farmácias do país. O laboratório ressaltou que a prioridade no momento é garantir o fornecimento para o Ministério da Saúde e para a Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a empresa, a fabricação do medicamento, que só é feito fora do país, já foi aumentada para 400 milhões de tratamentos por ano.
(Leia mais: confira os sintomas da gripe suína). (Vídeo: principais dúvidas sobre a contaminação do vírus H1N1)O infectologista Roberto Medronho, do Núcleo de Saúde Coletiva da UFRJ, acredita que a estratégia do governo tem sido adequada e obedecido às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), mas ele ressalta que é preciso dar agilidade ao diagnóstico de casos graves:
- No momento, o grande problema não é saber se a gripe é suína ou comum. A questão é capacitar os médicos para que eles sejam capazes de identificar os casos que podem se tornar graves.
Já Botsaris defende que seja feita uma coleta de dados por amostragem para que haja um controle de como a doença se dissemina e os grupos que precisam ser mais bem protegidos. Embora o governo tenha colocado como grupo de risco idosos e crianças menores de dois anos, o que se viu foi a morte de pessoas fora dessa classificação.
- O número de idosos acometidos no mundo todo é muito pequeno. Na última diretriz da OMS, há uma recomendação de que as grávidas sejam internadas mesmo com os sintomas mais leves porque 1/3 delas vai ter manifestações mais severas da doença. E o cuidado deve ser maior até porque envolve duas vidas - ressaltou Botsaris.
Nesta sexta-feira, o ministro da Saúde se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, para dar o quadro da doença no país e informá-lo das medidas que estão sendo adotadas. Após o encontro, Temporão disse que o desafio do governo é organizar a rede de saúde para atender bem os pacientes com gripe H1N1:
- O grande desafio é reorganizar a rede para atender bem às pessoas, principalmente as que necessitam de internação, atendê-las adequadamente, tratá-las e impedir o óbito. É muito importante que a população fique tranquila - disse.
O ministro afirmou ainda que o governo não deixará faltar recursos para enfrentar a gripe suína no país.
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