Gripe suína: Niteroienses devem evitar cinemas e teatros

Secretaria de Saúde faz recomendação horas após diagnóstico ser confirmado em garoto de 12 anos internado em estado grave

POR PÂMELA OLIVEIRA, RIO DE JANEIRO

Rio - Um dia depois de o Rio confirmar a primeira morte por gripe suína, a Secretaria de Saúde de Niterói recomendou ontem que “as famílias niteroienses evitem locais fechados e de grande circulação de pessoas”. A orientação, que inclui cinemas, teatros e boates, ocorreu horas após a confirmação do 9º caso da doença na cidade — o mais grave, por enquanto. O aluno do Instituto Abel que está internado no CTI do Hospital Santa Cruz em estado grave desde o dia 10 está com gripe suína. Ontem, a Organização Mundial de Saúde afirmou que o vírus da Influenza A (H1N1) está se propagando a uma velocidade sem precedentes. Tanto que a OMS decidiu deixar de contabilizar o número de casos confirmados da doença no mundo. “Nas pandemias anteriores, os vírus gripais precisaram de mais de 6 meses para se propagar tanto como aconteceu com o novo vírus em menos de 6 semanas”, diz a organização.

Agente da Secretaria de Saúde do Rio orienta moradores de Del Castilho a se prevenir contra a gripe

O subsecretário de Saúde de Niterói, Roberto Carlos de Brito Barcellos, disse ontem que a medida tomada é preventiva. “Estamos querendo proteger os moradores da cidade de possíveis contaminações e recomendamos que evitem locais fechados em que possam ficar muito tempo juntos. Nesse momento, não conseguimos mais realizar testes de diagnóstico em todos com sintomas de gripe, até devido à mudança no protocolo do Ministério da Saúde”, disse.

Leia também:

Saiba como é o contágio da doença

Entenda as fases da pandemia

Quiz: O que é gripe suína?

Ele disse que o momento não é de pânico e disse que, agora, os shoppings estão excluídos da recomendação. Segundo ele, o adolescente de 12 anos não saiu do Brasil. A Vigilância Epidemiológica está fazendo um monitoramento para saber se ele teve contato com alguém que chegou de algum país com casos da doença. Quarta-feira, a secretaria afirmou que 15 adolescentes que estudam com o garoto tiveram sintomas de gripe e estavam sendo monitoradas. Segundo o órgão, o 9º caso confirmado na cidade teve os primeiros sintomas dia 8, dois dias antes da internação.

“Nossa orientação é que todas as pessoas com sintomas de gripe procurem atendimento médico”, disse Barcellos, acrescentando que as unidades de saúde do município já registram aumento nas Emergências.

Ontem, a Alerj informou que uma estagiária da Casa, que fica no Centro da capital, foi internada no Hospital do Fundão. O presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani, determinou ao Departamento Médico monitoramento das pessoas que tiveram contato com a estagiária e suspendeu a visitação à exposição ‘Palácio Tiradentes: lugar de memória política do parlamento brasileiro’.

>>Você mora em Niterói e sua rotina foi alterada? Conte-nos sua experiência

DRAMA PARA CONSEGUIR ATENDIMENTO

Raquel Moraes, 22 anos — mãe de aluna da Escola Municipal Waldir Azevedo Franco, em Bangu, onde foi registrado o 1º caso de gripe suína da rede municipal de Educação —, teve dificuldades para conseguir atendimento para a filha Gabriela, 5 anos, que está com sintomas gripais desde quinta-feira. Ela procurou três diferentes hospitais e chegou a ser encaminhada por engano por uma unidade particular ao Fundão, que não atende menores de 12 anos. “Minha filha estuda na sala da menina doente. O Hospital Cemeru encaminhou minha filha ao Fundão dizendo que era suspeita de gripe suína. Lá fui informada de que não poderiam nos atender. Voltei ao Cemeru e então descartaram a doença. Em que versão devo acreditar?”, critica a mãe, que levou a filha para casa.

O Exército mobilizará militares em 24 cidades de fronteira em dez estados do Sul, Norte e Centro-Oeste, para ajudar na divulgação de informações sobre a gripe. A preocupação maior é com viajantes que cruzam fronteiras.

Medo no bairro em que vítima morava

Técnicos da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio foram ontem na comunidade Pedrosa, em Del Castilho, onde morava a primeira vítima fatal da doença do Rio, uma mulher de 37 anos. Os profissionais foram dar informações aos vizinhos dela, que ficaram desesperados. Também ontem, durante todo o dia, o PAM de Del Castilho, onde a vítima teria recebido o primeiro atendimento, esteve lotado.

A doméstica Eliene do Rosário, 25 anos, chegou às 10h no local, com febre, tosse e dor de cabeça. Só foi atendida 11 horas mais tarde. “Chegamos aqui às 10h e pegamos a senha número 125. Achamos que ia demorar e resolvemos tentar atendimento no Salgado Filho e no PAM do Méier, mas estavam todos cheios. Voltamos para cá e ainda estava no número 60. Estamos preocupados porque temos um bebê”, contou o vigilante Cristiano Machado, 35, às 21h, quando finalmente a mulher foi chamada.

No Hospital Miguel Couto, no Leblon, o tempo de espera ultrapassou seis horas. Na UPA de Botafogo, era de duas horas, em média. Moradora do Vidigal, Maria Rosa da Silva, 35, levou o filho, Lucas da Silva, 11 anos, até lá. O menino reclamava de fortes dores no corpo, tinha coriza e tosse. Ela ficou indignada com o atendimento: “O médico mal olhou meu filho, não fez exames. Só receitou remédio.”

Já no posto de saúde da Gávea, pessoas que chegavam com sintomas de gripe eram orientadas a colocar máscara. O menino Jonathan Moraes, 9, recebeu uma. A mãe dele, Ediana Moraes, 28, estava preocupada. “Ele nunca ficou assim”.

>>Você tem alguma dúvida sobre a epidemia? Envie sua pergunta

Procura na rede particular triplica

O aumento dos casos de mortes pela gripe suína no País (são 11) e a informação de que o vírus circula livremente por alguns estados fizeram com que moradores do Rio lotassem unidades de saúde ontem. Em alguns hospitais particulares, o número de atendimentos de emergência na pediatria chegou a triplicar nas últimas semanas. O Copa D’Or, em Copacabana, que já atendeu mais de 140 casos suspeitos, abre segunda-feira setor na Emergência dedicado exclusivamente a gripados.

“As pessoas estão apavoradas. Já recebemos gente que estava com sintomas como febre havia poucas horas e correram para o hospital. Em outras épocas, elas esperariam pelo menos 24 horas antes de ir para o hospital”, conta Marcelo London, chefe da Emergência do Copa D’Or, acrescentando que é natural um aumento no atendimento nos meses do inverno, mas a procura deste ano está superior à normal.

De acordo com London, em março do ano passado, durante a epidemia de dengue, foram atendidos 9.500 pessoas na unidade. “Em julho, a previsão é chagar a 11 mil”, calcula. Ele, no entanto, discorda da recomendação do Ministério da Saúde segundo a qual todos com sintomas de gripe devem procurar atendimento médico.

No Prontobaby, na Tijuca, o número de atendimentos realizados na Emergência está 40% maior há duas semanas. Nas redes estadual e municipal, a procura nas Emergências aumentou entre 15% e 30%. Segundo os órgãos, no entanto, isso era esperado devido à maior incidência de doenças respiratórias no inverno.

Loading...

Sphere: Related Content