A aventura da falsa socialite que por sete meses se apresentou como a fina Kelly Tranchesi no circuito de luxo de São Paulo terminou com sua prisão e a revelação de que ela é, na verdade, Kelly Samara Carvalho dos Santos, 19, autora de golpes e furtos no Brooklin, na Vila Olímpia, no Itaim Bibi e nos Jardins, como ela própria confessou.
É a segunda vez que ela foi detida pelo mesmo tipo de crime. Na primeira, em 1º de agosto, sua advogada conseguiu que a Justiça concedesse sua liberdade provisória após oito dias.
Kelly acabou presa porque, para não pagar os R$ 4.000 de honorários, resolveu prestar queixa contra a própria advogada, alegando que ela havia se apropriado de suas roupas. Na noite de anteontem, ao voltar ao 15º Distrito Policial, no Itaim Bibi, na zona oeste, para buscá-las, foi presa em flagrante por portar cheques furtados. Foi indiciada por suspeita de crimes de estelionato, falsidade ideológica e três furtos.
Desde fevereiro, a garota que aos 15 anos saiu da casa dos pais, em Amambai (MS), onde nasceu, já lesou ao menos dez pessoas em mais de R$ 30 mil na capital paulista, segundo a polícia --um quadro avaliado em R$ 37 mil foi recuperado.
Seu primeiro crime, que mostrou a predileção por artigos de luxo, diz a polícia, foi na adolescência: o roubo de R$ 50 mil em jóias em Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, onde se hospedava no hotel Mercury, deu um "baile".
Em 25 de julho, roubou uma gravura autenticada do artista espanhol Joan Miró (1893-1983) no valor de US$ 18 mil (quase R$ 37 mil) após ter um namoro relâmpago com o dono da galeria. Passou a noite com um quarentão e furtou dele, na cama, cartão de crédito e R$ 5.500 em dinheiro, gastos em roupas de lojas grifadas da rua Oscar Freire.
Furtava cheques e alugava carros importados com motorista para ir a boates como as badaladas Disco e Pacha. Também deu calote no hotel.
Boa-noite-cinderela
Uma das últimas vítimas de Kelly foi uma aposentada de 84 anos, em 10 de agosto.
"Eu caí na rua, ela me ajudou e me levou até em casa", diz Amena Campos de Souza, moradora do Jardim Paulista.
"Depois voltou para ver se eu estava bem, pegava o celular e fingia que conversava com o pai, que seria dono de loja da Oscar Freire, pedindo que ele me desse um emprego para eu ter uma atividade. Um dia, sem eu perceber, roubou um talão de cheques."
Kelly "Tranchesi" (sobrenome clonado de Eliana Tranchesi, dona da butique Daslu) se passava por endinheirada. Ela estudou até o ensino médio e não trabalhava. Segundo a delegada Aline Martins Gonçalves, do 15º Distrito Policial, no Itaim Bibi, ela disse em depoimento que chegou a atuar como garota de programa na Baixada Santista.
Quando não cobrava por bem, "cobrava" por mal. Aplicava o golpe conhecido por boa-noite-cinderela (adicionar sonífero à bebida da vítima para furtar) em homens jovens e maduros que seduzia com seu corpo de modelo (1,76 m e 56 kg) em boates caras.
Outro artifício usado por Kelly para se aproximar de seus possíveis "alvos" eram os sites de relacionamentos, como o Orkut. "Ela está sendo acusada disso? Sério?", diz o estudante Kléber Neivert, 18. "Nossa! Ela me adicionou dizendo que me conhecia de algum lugar, e era muito legal. Eu sempre trocava mensagem com ela."
"Empregada"
Na loja Vide Bula, na rua da Consolação, armou um circo e tanto, segundo relato de uma vendedora que prefere não se identificar. Ligou antes dizendo ser "empregada da Kelly Tranchesi" e avisando que a "patroa" iria "comprar muito" e que, então, deveria ser muito bem tratada.
De acordo com a funcionária, ela chegou à loja dez minutos depois do telefonema, vestida com roupas de marca, tratando a todos muito mal e com a mesma voz da "empregada".
O apreço por grifes é traduzido em suas comunidades do Orkut: Diesel, Scuderia Ferrari, Sttutgart Porsche, Eu Uso Emporio Armani ou Quero uma Ferrari Pink.
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