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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Diminui a resistência de famílias à doação de órgãos

THIAGO REIS
MATHEUS PICHONELLI
da Agência Folha

A doação de órgãos deixa, aos poucos, de ser tabu no país. No primeiro semestre de 2008, o percentual de doações não-efetivadas em razão da recusa das famílias atingiu o menor patamar dos últimos dez anos.

O dado, apurado pela Folha a partir de informações da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), pode explicar, em parte, o aumento nas doações no país neste primeiro semestre após três anos seguidos de queda. "Isso pode ser um indicativo de mudança cultural", disse Valter Garcia, presidente da ABTO. Para ele, algumas campanhas reduziram o preconceito da população.

Nos primeiros seis meses de 1999, uma em cada três doações possíveis (ou 33,9%) não foi realizada por causa da resistência dos parentes. Neste ano, a relação foi de uma negativa para cada quatro doações possíveis (24,9%).

Alagoas é o Estado com maior índice de rejeição familiar à doação neste ano. Dos 16 potenciais doadores, dez (62,5%) não tiveram órgãos cedidos por decisão da família.

Segundo o coordenador da Central de Transplantes do Estado, Carlos Alexandre de Oliveira, a aversão cultural à doação é um empecilho, mas o principal motivo da rejeição é a precariedade dos hospitais.

"Quando o paciente não tem a devida assistência, a família não colabora. Se vidas não são salvas por falta de leito ou especialista, a conversa com a família, depois, nunca é adequada. E a resposta é negativa", diz.

Opção e abordagem

Para o presidente da ONG Adote (Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos), Francisco Neto de Assis, o fato de alguns parentes não saberem a opção do falecido também conta na hora do "não".

O Distrito Federal está na outra ponta da tabela: 11 familiares de 116 potenciais doadores (9,5%) negaram um órgão.

Segundo Daniela Salomão, responsável pela Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do DF, uma mudança na abordagem às famílias surtiu efeito. "Antigamente, a gente ia falar com a família só no final do processo. Agora, o trabalho é feito no início da suspeita de morte encefálica. Há mais tempo para a família se acostumar com a idéia e se sensibilizar."

Os outros motivos para a não-doação são contra-indicação médica, morte encefálica não-confirmada e infra-estrutura inadequada. De 2.950 potenciais doadores no primeiro semestre, só 603 acabaram sendo doadores efetivos (734 não doaram devido à família).

Segundo a ABTO, esses doadores possibilitaram a realização de 2.505 transplantes. A lista de espera, porém, aumentou: já são 68.906 pessoas na fila.

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