Por causa da freqüência com que ocorrem assaltos e tiroteios nas ruas, os moradores de duas áreas bem demarcadas do bairro do Morumbi sentem-se como se estivessem submetidos a um toque de recolher informal. Tiveram de mudar seus hábitos. Não saem à noite sozinhos como costumavam fazer, evitam chegar tarde em casa e, quando saem, procuram fazê-lo em grupos.
Sabem que vizinhos foram baleados e que, em média, uma casa é assaltada a cada dois dias. Só em maio, teriam ocorrido 22 assaltos a residências. A do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, é uma das que já foram roubadas (o ministro e a família estavam ausentes). Em uma única rua teriam ocorrido quatro roubos de residências e uma tentativa de assalto. Próximo dessa rua, um morador foi morto e outro escapou de um tiro, cujas marcas permanecem numa parede. No Real Parque, onde predominam grandes edifícios, moradores são rendidos pelos bandidos quando chegam ou saem da garagem. Em geral, os assaltantes, em dupla, utilizam motos.
Além das precauções que cada família vem tomando, surgem iniciativas de associações comunitárias, como o Conseg Ação Local Real Parque, que distribuiu cartas aos moradores da área descrevendo as últimas ocorrências. Em um condomínio, os moradores estão discutindo a contratação de segurança armada.
Nem todas as vítimas registram queixa na Polícia. Mas a Secretaria da Segurança Pública já realizou reuniões com os moradores e, como resultado, uma viatura da Polícia Militar está na área há alguns dias. É uma providência temporária.
Informações obtidas pela Polícia indicam que houve uma mudança no comando do crime organizado que atua nas quatro favelas da região. O comando anterior preferia manter uma convivência pacífica com os moradores do bairro. O novo, porém, pode ter determinado aos membros das organizações criminosas que passassem a assaltar as residências e seus moradores, para fortalecer o tráfico de drogas.
Trata-se de um caso isolado no quadro da evolução da criminalidade no Estado e na cidade de São Paulo. O uso de sistema informatizado de informações sobre a criminalidade, que permite mapear o crime e distribuir melhor o efetivo policial, o policiamento comunitário, a reação da população local, que se organiza em associações para melhorar as condições de segurança, os investimentos nos sistemas de inteligência, além da crescente apreensão de armas, estão entre os fatores que explicam a redução da violência em São Paulo.
A melhora, como mostram as estatísticas, não é temporária. É uma tendência que se observa há vários anos, e que é mais acentuada no caso dos crimes violentos. O número de homicídios no Estado, por exemplo, caiu 16,8% no segundo trimestre deste ano na comparação com igual período de 2007.
Mas o aumento dos assaltos no Morumbi é um caso grave, que exige providências mais eficazes do que o reforço temporário do policiamento. O fato de os criminosos concentrarem geograficamente suas ações torna urgente a ação das autoridades policiais. Os métodos de ação dos assaltantes e sua área de atuação são já bem conhecidos da Polícia. Assim, é possível atacá-los com maior eficácia e num prazo curto.
Mas, se a Polícia não agir com presteza e eficácia, a situação excepcional do Morumbi poderá se alastrar para outros bairros, ameaçando reverter os bons resultados obtidos até agora pela Polícia de São Paulo no combate ao crime.
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