Dyelle Menezes Do Contas Abertas |
As
obras de mobilidade urbana são parte do legado que ficará para os
brasileiros depois da Copa do Mundo de 2014. Mesmo com tamanha
importância e relevância para o bom andamento do megaevento, em termos
orçamentários, o setor não deu o ponta pé inicial. A rubrica “mobilidade
urbana”, administrada pelo Ministério das Cidades, desembolsou apenas
1,1%, dos quase R$ 650,2 milhões previstos para serem aplicados este
ano. Desconsiderando os dispêndios com os “restos a pagar”, compromissos
assumidos em gestões anteriores, apenas 0,02% foram realmente pagos.
O objetivo do programa é
promover a melhoria da mobilidade urbana, de forma sustentável,
favorecendo os deslocamentos não-motorizados e o transporte coletivo, na
tentativa para reduzir os efeitos negativos da circulação urbana que
assolam as principais capitais brasileiras. Além disso, as obras devem
contribuir para a melhoria da prestação de serviços de transporte
metro-ferroviários, por meio da modernização e expansão dos sistemas
vinculados ao transporte público. (veja tabela)
Durante
a divulgação do balanço das ações para o Mundial de 2014, ocorrido na
quarta-feira (14), o ministro das Cidades, Mario Negromonte, alertou
prefeitos e governadores para a necessidade de se alterar a legislação
em favor do melhor andamento das obras. “Prefeitos e governadores
precisam estar atentos para mudar suas legislações. O governo federal
faz parceria com estados e municípios para deixarmos um grande legado
para a sociedade, para que as pessoas utilizem mais o transporte público
e a gente acabe com esses engarrafamentos das grandes cidades”,
afirmou.
Segundo Negromonte, a
mobilidade urbana é o maior legado da realização do Mundial. Apesar
disso, o balanço revelou que, em relação aos projetos de melhoria do
transporte público, apenas cinco cidades começaram suas obras. As sedes
que estão à frente na corrida da preparação para a Copa são Belo
Horizonte, Cuiabá, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro. Em
contrapartida, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Salvador e
São Paulo nem sequer começaram as obras.
Para a especialista em
mobilidade urbana da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP),
Valeska Peres, independente do valor que esteja previsto, o cronograma
de investimentos está atrasado. Certas decisões necessárias ainda não
foram tomadas, como a licença ambiental para as obras, por exemplo, o
que certamente pode comprometer a evolução dos empreendimentos até a
Copa-2014. “Ou vão comprometer na qualidade, ou vão comprometer no
custo, ou, o pior, no sentido de não estarem prontas a tempo. Nosso
sinal amarelo já está ligado há um bom tempo”, ressalta.
Apesar disso, a
especialista acredita que os grandes eventos esportivos instituem um
ambiente positivo de cooperação dentro da própria esfera pública. Neste
sentido, o trabalho realizado no âmbito federal deve ser ressaltado.
“Precisamos reconhecer que a matriz desenvolvida, do ponto de vista do
desenho e das responsabilidades, foi muito bem feita. Há quase dez anos o
Ministério das Cidades foi criado e ainda não trabalhamos a mobilidade,
transporte e habitação de maneira integrada. Os grandes eventos exigem
que todos trabalhem juntos. O nosso déficit é muito grande porque
passamos muito tempo sem investimento”, explica.
Ações também estão paradas
A concentração dos
recursos nos restos a pagar de gestões anteriores paralisou atividades
importantes. A principal ação do programa de mobilidade urbana, “apoio a
projetos de sistemas de transporte coletivo urbano”, desembolsou
somente R$ 258,9 mil, dos cerca de R$ 64,5 milhões que estão autorizados
para 2011. A preocupação com o projeto fica ainda maior quando
analisado o montante que ainda resta a pagar, quase R$ 44,0 milhões.
O projeto dá apoio
técnico e financeiro à implantação de sistemas que priorizem a
circulação dos transportes coletivos nas cidades de médio e grande
porte, promovendo a acessibilidade universal e a integração com os meios
não motorizados. As ações devem proporcionar a implantação ou melhoria
de abrigos, terminais de transbordo de passageiros, segregação de vias,
faixas exclusivas, corredores e túneis dos modais e aquisição de
rodantes sobre trilhos e pneus.
Outra ação que ainda não
evoluiu este ano foi o projeto de implantação da linha 4 do metrô do Rio
de Janeiro, que deve viabilizar o acesso alternativo da população da
Zona Sul para o Centro da cidade. Dos R$ 60 milhões previstos para a
atividade neste ano, nada foi utilizado. Entretanto, já existem cerca de
R$ 19,8 milhões de restos a pagar não processados, ou seja, obras das
gestões anteriores que ainda não foram pagas.
A nova linha vai atender
uma área onde os meios de transportes encontram-se totalmente saturados.
Dessa forma, deve proporcionar maior acessibilidade e mobilidade à
população por meio de transporte seguro, rápido e pontual, com
capacidade para milhares de passageiros por dia. A construção dessa
linha aumenta em importância com a perspectiva da Copa de 2014, e por se
tratar do Rio de Janeiro, das Olimpíadas de 2016, quando o transporte
de massa para atender a região será obrigatório.
Plano B
Entre os dias 18 e 20 de
outubro, o Rio de Janeiro será sede do 18º Congresso Brasileiro de
Transporte e Trânsito, promovido pela ANTP, que pretende tratar de temas
que são fundamentais para promoção de uma mobilidade urbana que dê
sustentação ao desenvolvimento social, econômico e ambientalmente
sustentável para as cidades brasileiras.
Preocupada com o
andamento do setor, a ANTP vai realizar uma oficina sobre a Copa-2014
para discutir o plano de operação da mobilidade com dois cenários: com
as novas estruturas planejadas e com o que já existe. A intenção é
elaborar iniciativas que possam fazer o País funcionar durante a Copa,
na perspectiva de que nem todas as obras estejam prontas.
“No organograma do
Ministério do Esporte, o ano de 2012 seria destinado ao começo dos
planos operacionais, mas, diante do atraso das obras, resolvemos
antecipar esta decisão. O Plano Operacional é sempre necessário. Mesmo
que tudo estivesse caminhando bem, que não é o caso, teríamos que pensar
nisso. Queremos contribuir com a preparação para 2014”, ressalta a
especialista em mobilidade da ANTP.
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sábado, 17 de setembro de 2011
Mobilidade Urbana: obras para a Copa receberam apenas 1,1% do previsto
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