Não. Eu não fumo charuto. Ou pelo menos não fumava. Mas Antonio Fagundes ofereceu, insistiu, sorriu, fez charme... não pude resistir e fiz a vontade dele. Você resistiria? Expert no assunto - ele fuma todos os dias há mais de dez anos -, escolheu para mim um Cohiba, cubano, considerado um dos mais puros e saborosos. O meu era mais suave que o dele, com bitola (largura do charuto) mais fina e mais curto. Fagundes prefere os mais fortes e concentrados. E o pior, ou melhor, é que gostei. Do sabor, do hábito e até do cheiro.

E ele percebeu. Falou até que ia me dar uma caixa de ''puros'', como são chamados pelos cubanos, de presente logo depois. ''Não é gostoso? Você ficou muito bem fumando charuto. Leva jeito! Tem gente que não gosta. Por outro lado tem até quem ache cheiroso, o cubano principalmente. Em tabacaria tem sempre mais homem, mas, de vez em quando, vem mulher. Eu venho sozinho, mas também já vim com mulher, quando estou acompanhado.''

Atualmente, está ''desacompanhado'', ou, em bom português, solteiro. Perguntei sobre a atriz Alexandra Martins, 32, com quem terminou namoro de três anos recentemente. Ele me pediu - sorrindo - para pular o assunto. Elegante e discreto, Fagundes mede bem as palavras.Às vezes, fala com os olhos. Amigo dele, o jornalista Ricardo Kotscho - que entre outros cargos, foi secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência no primeiro governo Lula - passou por nossa mesa e parou para me dizer que eu sorria com os olhos. Devo ter entendido o recado.

Nosso encontro foi na tabacaria Ranieri, nos Jardins, zona sul da capital paulista - ele tem também uma casa na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. ''Aqui nunca estou sozinho, há sempre uma turminha. Tem bebidinha que eu gosto... o charuto. E é perto de casa. Minha vida toda foi assim, metade no Rio, metade em São Paulo. Gosto de ficar em casa, lendo um livro ou assistindo a um DVD, mas aqui saio mais, sinto mais liberdade. Dava até para vir a pé, mas sou preguiçoso'', contou ele, que, mesmo na reta final das gravações de Insensato Coração, consegue passar ao menos os fins de semana na capital paulista.

E pouco importa ser preguiçoso. Aos 62 anos, com cabelos brancos e não tão em forma assim, Fagundes continua irresistível. Um gentleman. Um charme. Diz que manda flores, abre a porta do carro e responde a torpedos (que não gosta!) com uma ligação, para ouvir a voz do outro lado. E acha que isso é apenas educação. Aposto que é um dos últimos românticos. Só não pensa mais em casar. ''Nunca é uma palavra muito grande. Mas não é uma busca. Passei 31 anos casado, já entendi como é. Vivo muito bem sozinho.''

Na ficção, o romance de seu personagem, Raul Brandão, com Carol, interpretada por Camila Pitanga, 34, na trama global causou burburinho. E, quando a atriz anunciou o fim do casamento com o diretor de arte Claudio Amaral Peixoto, 44, há cerca de um mês, surgiram rumores até de que o affair teria saído das telas.''Lamento porque é burro. Não é nada. Só para encher o saco das pessoas'', disse criticando a boataria.

Fagundes admite que gosta de ser visto como eterno galã. ''Sempre disse, durante minha vida toda, que não sou meu tipo de homem. Mas, se as pessoas acham, quem sou eu para discordar?'', esbanja, antes de listar seus ''tipos de homem'': Alain Delon, George Clooney, Brad Pitt, e esnobar um pouco mais. ''Atrapalhar nunca atrapalha. Se as pessoas vão lhe ver porque é bonito ou bom ator, de uma maneira ou de outra, elas vão seguir o que você faz. E, se você conseguir lidar bem com isso, vai dar a essas pessoas coisas muito interessantes.''

De pertinho, o veterano ator - que estreou na teledramaturgia em 1969, na novela Nenhum Homem É Deus, na pioneira TV Tupi - parece vaidoso. É cheiroso, o cabelo brilha e a pele está sempre bronzeada. Mas, durão, diz que o máximo que faz é tomar banho. O cabelo só lava com sabonete. Nunca usou cremes. Nem fez plástica. Pintar os cabelos brancos, então... Nem pensar.

''Tenho cabelo branco desde os 30 anos. Já pintei, mas não acredito que isso faça a pessoa parecer mais jovem. Fora que dá trabalho, ter de retocar a cada 15 dias. E aí eu ia ter de pintar outras coisas, o peito, por exemplo. Dá trabalho, né?'', justificou. E dei risada. Detalhe: ele me disse que só tem cabelo branco do lado esquerdo do peito. ''É que o coração está velho.'' (Suspiros!) E diz que não liga para esse papo de velhice. ''Não me sinto velho, estou ótimo. Em queda. Mas, até agora, tudo bem.''

E haja bom humor. ''Acho que o problema da velhice é a associação com a doença. Mas não tenho ficado doente, não tenho tempo. Só estou com uma dor aqui nas costas, será o pulmão?'', emendou aos risos. Fagundes diz que não foi e nem é radical com nada - de dieta à política. E não gosta nem mesmo da expressão ''politicamente correto''. Para isso, tem até uma teoria engraçada: ''Charuto faz mal, mas bem menos que o cigarro, porque não tem 4 mil substâncias químicas. E não vicia. Mas sabe o que faz mais mal ao organismo? Oxigênio. É a pior coisa. Porque o que faz você envelhecer são os radicais livres que o oxigênio libera.''

Mais uma vez me fez rir. E assim se foram duas horas de papo. Nem senti passar. Ele contou ainda que, no fim da novela, na sexta-feira (19), pensa em viajar. Na volta, começa a produzir uma peça para estrear em março de 2012, em São Paulo. ''Tive sorte no trabalho e na vida. Fui privilegiado. Mas não adianta ter sorte e não comprar o bilhete. Senão, não ganha na loteria'', conclui.