Cônsul brasileiro em Xangai teria dito a americanos que chineses não entendem as leis brasileiras
Telegramas da diplomacia americana divulgados ontem pelo WikiLeaks revelam um pouco conhecido mal-estar entre Brasil e China. Um documento de 15 de abril de 2009 enviado pelo consulado americano em Xangai detalha como o Brasil estaria insatisfeito com os chineses e preocupado com o avanço de Pequim em áreas como a mineração e o petróleo no País.
Os temores sobre a presença da China na América Latina também são registrados em conversas com diplomatas argentinos e mexicanos. No caso do Brasil, as reclamações foram feitas pelo cônsul brasileiro em Xangai, Marcos Caramuru de Paiva. "Os chineses não entendem e não tentam entender as regulações e o mercado brasileiro", afirmou o cônsul. "Investidores chineses acham que a América Latina e a África são a mesmas coisa."
"A estratégia da China é muito clara: está fazendo todo o possível para controlar o abastecimento de commodities", disse Caramuru, lembrando do acordo entre China e Petrobrás no valor de US$ 10 bilhões para a compra de petróleo brasileiro.
O cônsul conta como o governo chinês está incentivando empresas locais a investirem no Brasil. Até 70% dessas operações iniciais receberiam financiamento direto do Estado. Mas, segundo Caramuru, essas empresas não entendem as leis, os impostos e a burocracia brasileira.
O interesse dos investimentos chineses em mineração e agricultura também é motivo de preocupação. Um dos problemas é que essas áreas já estariam, em grande parte, ocupadas por investimentos de empresas brasileiras. A outra questão, pelo menos em 2009, era o baixo valor dos minérios.
Caramuru mostra, como exemplo, o fato de a Vale e a Baosteel terem fracassado em chegar a um acordo de investimento para o fornecimento anual de 10 milhões de toneladas de aço do Brasil para a China.
O resultado desse avanço seria um "desequilíbrio cada vez maior" na relação bilateral, com a China exportado máquinas de alto valor agregado para o Brasil em troca de commodities. De fato, a Embraer pode fechar sua fábrica na China e as vendas nacionais têm sido cada vez mais direcionadas a recursos naturais.
Caramuru "não acredita que essa situação mudará tão cedo" e constatou que "é difícil competir com as manufaturas chinesas". Ele também critica o próprio governo brasileiro por não dar atenção suficiente à questão. "Paiva lamentou que o consulado brasileiro em Xangai tenha apenas dois funcionários, incluindo ele mesmo", relata o diplomata americano.
Vácuo dos EUA. Em outro telegrama, a diplomata brasileira Daniella Menezes tenta explicar aos americanos o avanço chinês. Parte do motivo seria o abandono da América Latina pelo governo do então presidente americano George W. Bush. "A China busca preencher a lacuna", disse.
Propina israelense
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