sexta-feira, 7 de Janeiro de 2011 | 11:30 |
Um neto de 14 anos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu passaporte diplomático no dia 29 de Dezembro, a dois dias do fim do respectivo mandato, o que contraria as normas internas do Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro, segundo a Folha de S.Paulo.
Outro processo, a que a Folha teve acesso, garantiu aquele mesmo benefício ao bispo da Igreja Universal Romualdo Panceiro Filho, emitido, também «em carácter excepcional», em Fevereiro de 2010, válido por um ano. Apontado como sucessor de Edir Macedo, Panceiro é o responsável pela congregação na América Latina.
Nem o neto do ex-presidente nem o bispo fazem parte da lista de autoridades listadas no decreto 5.978/ 2006, que prevê a concessão de passaporte especial a presidentes, vices, ministros de Estado, parlamentares, chefes de missões diplomáticas, ministros dos tribunais superiores e ex-presidentes.
A norma também cita os dependentes das autoridades, mas o neto de Lula não se encaixa nessa categoria.O bispo e o cônsul, estranhas conversas
De volta à lida em São Paulo, ao final da tarde chuvosa desta terça-feira, vindo de três dias no Ceará, após um vôo tenebroso, dou uma rápida olhada nos jornais daqui e me surpreendo mais uma vez com declarações feitas por uma eminência da nossa querida Igreja Católica, desta vez o cardeal Scherer.
“Para arcebispo de SP, Bolsa Família causa distorções, revela WikiLeaks”, diz a chamada de capa da Folha, e meu espanto aumenta quando leio a matéria inteira na página A13.
Nem foi tanto pelo que ele falou sobre o Bolsa Família, segundo os telegramas da diplomacia norte-americana agora revelados. O que mais me chamou a atenção nesta história foi o fato do cardeal arcebispo dispôr do seu valioso tempo para conversar sobre variados assuntos nacionais, tendo como privilegiado interlocutor o cônsul-geral dos Estados Unidos, Thomas White.
Como responsável por um rebanho de milhões de fiéis com tantos desafios espirituais e sociais na cidade de São Paulo, que certamente já existiam quando ele conversou com o diplomata, em outubro de 2007, penso que outros assuntos poderiam ocupar o coração e a mente de dom Odilo Scherer.
Na opinião dele, segundo o jornal, o Bolsa Família ajuda as famílias pobres, “mas transformou-se numa ferramenta eleitoral que distorce o sistema político”. Fantástico! O cônsul-geral deve ter ficado muito preocupado e acionado imediatamente a CIA para investigar esta grave denúncia. A culpa, claro, é do governo federal e do PT, de acordo com o relato do cardeal ao diplomata americano.
Até por ter chegado agora de mais uma viagem ao Nordeste, e ser testemunha da verdadeira revolução econômica e social vivida por aquela região nos últimos anos, e não só por causa do Bolsa Família, é óbvio, gostaria de saber do cardeal como ele chegou a esta brilhante conclusão.
Por acaso, dom Scherer já se deu ao trabalho alguma vez de ver com seus próprios olhos o que está mudando na vida do nordestino, longe dos palácios e dos gabinetes, lá nos sertões e nos grotões onde o povo vive?
Conversou com algumas das mais de 11 milhões de famílias beneficiadas pelo programa para conhecer seus sonhos e aflições?
Interessou-se em saber o que está acontecendo em torno do porto de Suape, Pernambuco, onde antigos cortadores de cana, homens e mulheres, viraram metalúrgicos bem remunerados na indústria naval, por exemplo?
Para não perder a viagem, na mesma conversa o cardeal afirmou ainda ao cônsul-geral que a Teologia da Libertação deixou de ser um “problema sério”.
Misturando questões político-partidárias e programas sociais do país com querelas internas da Igreja, dom Odilo mais uma vez nos prova que as instituições, todas elas, por mais milenares que sejam, dependem sempre das pessoas que as comandam em determinado tempo e lugar.
O que têm hoje em comum a Igreja Católica liderada até outro dia por D. Paulo Evaristo cardeal Arns, que não considerava a Teologia da Libertação um “problema sério” _ ao contrário, relacionava-se muito bem com seus membros _ , e a Igreja Católica de dom Odilo Pedro cardeal Scherer, a não ser o fato de que ambos ocuparam a cadeira de arcebispo?
Da mesma forma o que tem a ver o Vaticano do papa João 23 com o Vaticano do papa Bento 16?
O atual arcebispo ainda procura explicar ao cônsul-geral americano porque a Igreja Católica está perdendo fiéis para os evangélicos _ segundo ele, “por ter falhado na sua missão de aprofundar a fé das pessoas”. Como assim?
É desta forma que o cardeal pretende resgatar as ovelhas perdidas? Ainda na mesma conversa, ele aproveitou para criticar a TV Record, do líder evangélico Edir Macedo, pois “a TV opera como empresa, mas também serve aos interesses dos evangélicos pentecostais”.
Ora, ora, dom Scherer, e não lhe ocorreu dizer nenhuma palavrinha sobre a rede de emissoras de rádio e TV católicas? A quais interesses servem? Por acaso são todas apenas entidades de benemerência mantidas por trabalhadores voluntários?
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