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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vox Populi: Pesquisas Polêmicas (Ou o vexame do Datafolha)


Deu no Correio Braziliense

De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Pesquisas nas quais não se pode confiar são um problema. Elas atrapalham o raciocínio. É melhor não ter pesquisa nenhuma que tê-las.

Ao contrário de elucidar e ajudar a tomada de decisões, confundem. Quem se baseia nelas, embora ache que faz a coisa certa, costuma meter os pés pelas mãos.

Isso acontece em todas as áreas em que são usadas. Nos estudos de mercado, dá para imaginar o prejuízo que causam? Se uma empresa se baseia em uma pesquisa discutível na hora de fazer um investimento, o custo em que incorre?

Na aplicação das pesquisas na política, temos o mesmo. Ainda mais nas eleições, onde o tempo corre depressa. Não dá para reparar os erros a que elas conduzem.

Pense-se o que seria a formulação de uma estratégia de campanha baseada em pesquisas de qualidade duvidosa. Por mais competente que fosse o candidato, por melhores que fossem suas propostas, uma candidatura mal posicionada não iria a lugar nenhum.

Com a comunicação é igual. Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.

E na imprensa? Nela, talvez mais que em qualquer outra área, essas pesquisas são danosas. Ao endossá-las, os veículos ficam em posição delicada.

Neste fim de semana, a Folha de São Paulo divulgou a pesquisa mais recente do Datafolha. Os problemas começaram na manchete, que se utilizava de uma expressão que os bons jornais aposentaram faz tempo: “Dilma dispara...”. “Dispara..”, “afunda...” são exemplos do que não se deve dizer na publicação de pesquisas. São expressões antigas, sensacionalistas.

Compreende-se, no entanto, a dificuldade do responsável pela primeira página. O que dizer de um resultado como aquele, senão que mostraria uma “disparada”?

Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem para Serra de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão ao dia? Que crescesse 9 pontos em uma semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5 milhões de novos eleitores?

O jornal explicou a “disparada” com uma hipótese fantasiosa: Dilma cresceu esses 9 pontos pelo “efeito televisão”. Três dias de propaganda eleitoral (nos quais a campanha Dilma teve dois programas e cinco inserções de 30 segundos em horário nobre), nunca teriam esse impacto, por tudo que conhecemos da história política brasileira.

Aliás, a própria pesquisa mostrou que Dilma tem mais potencial de crescimento entre quem não vê a propaganda eleitoral. Ou seja: a explicação fornecida pelo jornal não explica a “disparada” e ele não sabe a que atribuí-la. Usou a palavra preparando uma saída honrosa para o instituto, absolvendo-o com ela: foi tudo uma “disparada”.

É impossível explicar a “disparada” pela simples razão de que ela não aconteceu. Dilma só deu saltos espetaculares para quem não tinha conseguido perceber que sua candidatura já havia crescido. Ela já estava bem na frente antes de começar a televisão.

Mas as pesquisas problemáticas não são danosas apenas por que ensejam explicações inverossímeis. O pior é que elas podem ajudar a cristalizar preconceitos e estereótipos sobre o país que somos e o eleitorado que temos.

Ao afirmar que houve uma “disparada”, a pesquisa sugere uma volubilidade dos eleitores que só existe para quem acha que 12,5 milhões de pessoas decidiram votar em Dilma de supetão, ao vê-la alguns minutos na televisão. Que não acredita que elas chegaram a essa opção depois de um raciocínio adulto, do qual se pode discordar, mas que se deve respeitar. Que supõe que elas não sabiam o que fazer até aqueles dias e foram tocadas por uma varinha de condão.

Pesquisas controversas são inconvenientes até por isso: ao procurar legitimá-las, a emenda fica pior que o soneto. Mais fácil é admitir que fossem apenas ruins.


19/10/2010

às 12:32

PSDB denuncia Vox Populi


O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, convocou a imprensa no fim da manhã desta terça-feira para denunciar a “conspiração” do instituto de pesquisa Vox Populi ao indicar a vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff.

Em um pronunciamento de dez minutos no comitê do partido, em São Paulo, o tucano fez referência aos levantamentos realizados pelo instituto. Um deles indicava até que a candidata petista seria eleita já no primeiro turno. ” O Vox Populi disse no dia 29 de setembro que a Dilma ia ganhar no primeiro turno com 12 pontos de vantagem. Não dá para acreditar que foi um erro, foi uma safadeza de um instituto que trabalha para o PT.”

O tucano disse ainda: “Temos enfrentado uma ação combinada de gente que não respeita a lei, em uma ação poderosa para influenciar as intenções de voto”.

Guerra cobrou que as empresas de pesquisa eleitoral sejam fiscalizadas. “Desde o início, observamos uma contradição, as pesquisas foram para um lado e o resultado foi para outro. Não deveria ser permitido que esses institutos promovessem uma fraude contra a opinião pública, sem neutralidade”. O presidente do PSDB informou que o partido não cogita a possibilidade de entrar na Justiça.

Métodos questionados – Não é a primeira vez que os métodos adotados pelo Vox Populi são alvo de questionamento. Em abril, reportagem do site de VEJA mostrou que uma pesquisa feita pelo instituto naquele mês tinha um detalhe no mínimo curioso. Em um dos questionários apresentados, o nome do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, aparecia de forma invertida.

Na época, o Vox Populi alegou que isso ocorreu por causa de “problemas técnicos no programa de conversão do PDF” e que a deficiência foi sanada na hora de botar a pesquisa na rua. Os dados entregues à Justiça Eleitoral são exatamente os utilizados pelos entrevistadores.

Outros dados entregues pelo Vox Populi ao TSE mostraram que os pesquisadores repetiram o itinerário (incluindo ruas, casas e endereços dos entrevistados) em duas sondagens, feitas em abril e janeiro. Em ambos os casos, Dilma Rousseff apareceu em ascensão (no mais recente, tecnicamente empatada com Serra). O instituto negou ter repetido o itinerário.

Não cabe à Justiça Eleitoral sair às ruas e assumir o papel de fiscal de pesquisas eleitorais. Cabe a ela receber a documentação necessária para registrar uma pesquisa e não checar se o material bate com o que foi apresentado para a população ou se alguém está agindo de má fé. Pela lei eleitoral, o Ministério Público, candidatos, partidos e coligações é que devem ficar de olho. São eles que têm legitimidade para pedir a impugnação de uma pesquisa. Só dessa forma a Justiça Eleitoral pode se pronunciar.

(Adriana Caitano)



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