A descoberta de três brasileiros contaminados com a febre chikungunya - transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue - preocupa especialistas. Um dos problemas é que um mesmo Aedes pode carregar os dois vírus e, por isso, causar as duas doenças às pessoas que forem picadas. "Experimentalmente já foi confirmado que se pode encontrar os dois vírus na saliva do Aedes. Ou seja, se um mosquito que carrega os dois vírus picar uma pessoa, ela pode desenvolver as duas doenças", explica Ricardo Lourenço, especialista da Fiocruz em insetos.
Apesar de ser menos letal do que a dengue, a chikungunya causa dores intensas nas articulações dos pés e das mãos, o que chega a dificultar a mobilidade em pelo menos 70% dos pacientes afetados pelo mal. "O vírus causa dores fortíssimas. Os pacientes não conseguem nem segurar um copo. Em alguns casos, as dores duram até 1 ano. Isso é muito grave quando afeta um chefe de família, um profissional liberal. Além de ser um complicador para o sistema de saúde", diz o coordenador do Programa de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho, acrescentando que não houve transmissão dentro do Brasil.
Na quarta, o ministério pediu que os brasileiros que forem viajar aos países em que há circulação do vírus chikungunya (Ásia e África) usem repelentes, além de roupas compridas, que protejam a pele e, se possível, usem mosquiteiros para dormir.
Paulista tem dores há três meses
Dos três brasileiros contaminados (um morador do Rio de Janeiro, de 41 anos, além de duas pessoas de São Paulo: mulher de 25 e homem de 55), o mais velho desenvolveu a forma crônica da doença e ainda sente dores fortes. Ele teve a doença diagnosticada em meados de setembro após chegar da Indonésia.
Já o carioca, que também viajara à Indonésia, onde foi surfar, começou a ter febre em 13 de agosto e foi diagnosticado dia 25 daquele mês. Cinco dias depois, foi internado na rede privada e agora está bem. A mulher, que veio da Índia, também se curou.
O diagnóstico foi feito por exame de sangue. Os médicos que os atenderam desconheciam a doença e entraram em contato com o Ministério da Saúde, onde técnicos desconfiaram da chikungunya e recomendaram exames específicos para detectar o vírus.
Ilha do Governador tem o maior índice de Aedes: risco de contágio
Principal ponto de chegada no Rio de Janeiro de viajantes vindos do exterior, o Aeroporto Internacional Tom Jobim está localizado na região com o maior índice de infestação do Aedes aegypti. Segundo o último levantamento do município, a região tem índice médio de 4%, mas há regiões como Freguesia e Jardim Guanabara com 19% e 10%, respectivamente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice máximo considerado seguro é de 1%. Ou seja, em cada grupo de 100 imóveis, o recomendável é que até um tenha pelo menos um foco do Aedes. "Os índices são altos. Sem conseguir controlar o vetor (mosquito), a cada momento temos uma nova ameaça. Um dia é a possibilidade de introdução da dengue 4 no País, no outro é a volta do tipo 1 no Rio e a chikungunya", alerta o infectologista Edmilson Migowski, da UFRJ.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram feitas ações de bloqueio na Ilha do Governador na ocasião da notificação do caso do carioca, em agosto, com uso de larvicida e fumacê portátil. O órgão afirmou ainda que realiza mutirões na região. "É importante que as pessoas verifiquem suas casas e ajudem no controle dos focos. Sozinho, o governo não tem com fazer esse trabalho", diz Ricardo Lourenço, da Fiocruz.
TERRA
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