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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Brasil precisa de oposições melhores


Fernando Abrucio

A oposição é uma peça-chave do regime democrático. Entre outras razões, uma fiscalização benfeita obriga os governos legitimamente eleitos a buscar o aperfeiçoamento contínuo de suas políticas. Inegavelmente, tivemos avanços em vários campos desde que o Brasil se tornou efetivamente uma democracia. Oposicionistas foram importantes para evitar abusos do poder e até para derrubar um presidente. Mas quanto a oposição poderia ter ajudado mais nesse processo?
A pergunta emerge num momento em que a questão previdenciária foi novamente tratada com demagogia. Governo após governo, esse é um tema excelente para que a oposição de plantão diga que está do lado dos aposentados, para depois, quando chegar ao poder, dizer que não se pode fazer tanta bondade sem colocar em risco as contas públicas.
Com forte apoio da oposição congressual, a Câmara dos Deputados derrubou o fator previdenciário. Trata-se de um verdadeiro haraquiri de tucanos e democratas, uma vez que essa legislação foi uma das maiores vitórias da época em que eram governo. Cabe lembrar que o fator previdenciário originou-se da cegueira da oposição de então, comandada pelo petismo, que lutou fervorosamente contra uma reforma mais profunda da Previdência. Até quando o oportunismo de ocasião vai alimentar os partidos oposicionistas?
Pode-se alegar que não há uma única maneira de reformar o modelo previdenciário brasileiro. Eis aí um ponto de partida legítimo, abrindo espaço para o debate e a negociação, terrenos em que a existência de uma oposição é fundamental. Porém, as oposições brasileiras têm primado, de FHC a Lula, pela ação meramente reativa às reformas. Em vez de buscar criticar aspectos das medidas e encontrar um novo caminho, o comportamento padrão do oposicionista tem sido tentar derrubar qualquer projeto do bloco governista. Ou, então, a oposição procura aprovar tudo o que seja contrário às ideias do presidente, mesmo que sejam propostas sem pé nem cabeça.

Ao derrubarem o fator previdenciário, tucanos e
democratas cometem um verdadeiro haraquiri
O problema dessa estratégia é que os governos por vezes acertam em suas opções e políticas. O PT demorou muito tempo para entender isso no debate sobre o Plano Real. Somente oito anos depois, quando firmou um compromisso com a estabilidade, o petismo conseguiu chegar ao poder. A história se repetiu com os tucanos. Ficaram quase dois mandatos dizendo que Lula e seus projetos eram um atraso para o país. Agora têm de dizer aos eleitores do Nordeste que o Bolsa Família não é tão ruim assim, e daqui a pouco vão começar a elogiar outros programas federais.
É justo ressaltar que os governadores Aécio e Serra nunca vestiram o figurino Arthur Virgilio. Por isso, quando o ex-governador paulista faz uma campanha propondo “olhar para a frente”, elogiando o presidente Lula e dizendo que seu verdadeiro adversário é a ministra Dilma, não me parece que esse discurso seja tão díspar com sua postura nos últimos anos. Mas seus aliados congressistas não compartilharam dessa postura e ainda apostam no “quanto pior, melhor”. Isso para não falar da nova direita que se aproximou de Serra como se ele fosse o “anti-Lula”. Até quando a oposição vai alimentar essa contradição em relação ao discurso de seu candidato presidencial?
Também seria interessante imaginar o que aconteceria se o PT voltasse à oposição. Será que o pragmatismo no campo econômico, a interlocução com setores empresariais e de classe média que antes eram vistos como inimigos e outros avanços em torno de uma agenda mais pluralista seriam jogados na lata do lixo da história? Se isso ocorrer, seria uma pena, porque o maior partido político do país voltaria à época em que era adolescente, com seu esquerdismo infantil.
A história recente me dá vontade de propor uma eleição para escolher que tipo de oposição o eleitor brasileiro gostaria de ter. Adoraria poder votar numa oposição que prometesse ser mais responsável, aberta ao diálogo, e capaz de fiscalizar e criticar o governante de ocasião colocando alternativas factíveis à mesa.



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