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segunda-feira, 8 de março de 2010

Os amigos tiranos do Brasil de Lula


RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Três regimes autoritários e ditatoriais, que vetam a liberdade de expressão e punem com a prisão quem ouse contestá-los, contam com um aliado de peso no mundo: o Brasil do presidente Lula. Essa amizade incondicional é mais valiosa por ser o Brasil uma democracia, presidida por um líder eleito e consagrado que respeita as instituições e as leis. Esse apoio dá respaldo a tiranos.

Uma coisa é não ler jornais. Outra é fechar e censurar meios de comunicação, manter isolados presos de consciência, impedir a verificação internacional de violações de direitos humanos.

A Cuba dos irmãos Castro, a Venezuela de Chávez e o Irã de Ahmadinejad têm desfrutado elogios públicos de Lula e companhia. Por motivos que variam do comércio a uma genuína admiração, Lula tem desconcertado o Brasil e o mundo com declarações de apoio a governos que não toleram oposição política e muito menos o exercício sagrado da liberdade de opinião. Lulistas convictos, que desculpam tudo e esquecem o passado recente da ditadura militar no Brasil, são do time do companheiro Marco Aurélio Garcia: “Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro”. É um mero detalhe. Uma rotina. Sejamos pragmáticos. Ou não?

Para o amigão Lula, “a Venezuela é uma democracia completa e Chávez o melhor presidente que o país já teve”. Não importa que tenham sido suspensas concessões de televisão e rádio e que a imprensa seja censurada. Não importa que o bufão Chávez tenha exigido que redes de TV divulguem a qualquer momento e por duração infinita seus pronunciamentos à nação. Não importa que a estatização indiscriminada de empresas ocorra à força e que ele governe por decreto.

Ahmadinejad, Chávez e Fidel recebem elogios do presidente.
Pode ser isso um mero detalhe?

Para o amigão Lula, é “profundamente lamentável que uma pessoa se deixe morrer por greve de fome”. Quem mandou não comer? O dissidente cubano Orlando Zapata, operário condenado em 2003 por protestar contra a ditadura castrista, morreu após 85 dias de greve de fome. Foi um tremendo azar para Lula. Por que o dissidente decidira morrer logo em sua visita de cortesia a los hermanos Fidel e Raúl? Lula poderia abrir mão de condenar seus anfitriões, mas culpar a vítima foi demais. Os risos e a cumplicidade do presidente brasileiro estimularam Fidel a dizer, na semana passada: “Lula sabe que nunca matamos nem torturamos em Cuba”. Lula sabe, tanto que calou e consentiu. Será que a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ex-guerrilheira que sentiu literalmente na pele o preço de se opor a um regime militar, também “sabe” que dissidentes nunca foram executados ou torturados em Cuba?

Para o amigão Lula, o Irã de Ahmadinejad tem o direito de desenvolver uma política nuclear, como o Brasil. Mesmo que não aceite inspeção internacional. Nem assine tratados. O líder radical iraniano que deseja varrer Israel do mapa, nega a existência histórica do Holocausto e manda arrebentar opositores seria tão legítimo quanto qualquer democrata. O Brasil simplesmente “acredita” que o programa nuclear de Ahmadinejad é destinado a uso pacífico. E não acha prudente “encostar o Irã contra a parede”. Quem disse que os iranianos sonham em fabricar alguma bomba? Lula foi fotografado com Ahmadinejad não com um protocolar aperto de mãos. As mãos dos líderes, entrelaçadas umas por cima das outras, simbolizavam uma aliança de camaradas de fé.

A justificativa de Lula não convence ninguém que seja alfabetizado. Como falar em princípio de não intervenção depois da trepidante novela estrelada por Zelaya e seu chapéu na embaixada brasileira em Honduras?

Por todas essas circunstâncias, é compreensível o receio com o Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH 3), que não honra o nome ao propor o controle da mídia. Coordenador da campanha de Dilma, Antônio Palocci afirmou discordar da “ideia de interferência estatal na qualidade da comunicação”. Governos autoritários, disse o ex-ministro, tendem a desabar por não permitir o equilíbrio proveniente da crítica.

Seria reconfortante crer que, apesar do silêncio e da cumplicidade do PT e de Lula com ditaduras, tanto ele quanto Dilma assinariam embaixo das palavras de Palocci.






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