Brasília - A agenda do saneamento básico no Brasil é vergonhosa, na opinião do presidente do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho. Ele lembrou que o setor ficou esquecido por cerca de 20 anos, até a criação do Ministério das Cidades em 2003, e que nesse período os centros urbanos cresceram em taxas exponeciais por conta da migração do campo. Segundo o instituto, atualmente 50% da população brasileira não têm acesso à rede de esgoto. Outro agravante é que apenas um terço do esgoto produzido no país é tratado – os outros dois terços são jogados in natura em rios e praias. Ao participar do 4º Seminário Internacional sobre Federalismo e Desenvolvimento, Pinho alertou que os problemas de saneamento no Brasil podem comprometer, inclusive, o bom acesso à água potável (94%). “O esgoto contamina a água. Para que ela seja tratada, você gasta mais dinheiro com produtos químicos e com energia”, disse. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgaram um estudo sobre diarréia. A doença é provocada, dentre outros fatores, pela falta de coleta e tratamento de esgoto. O documento mostra que 1,2 bilhão de pessoas no mundo não dispõem de banheiro. “O Brasil está em sétimo lugar nesse ranking da vergonha, junto com Bangladesh. Não dá para um país que quer ser destaque entre as maiores economias do mundo ter essa posição”, afirmou. Ele ressaltou que o acesso ao saneamento básico é um direito constitucional mas que os próprios brasileiros não valorizam essa agenda. Uma pesquisa encomendada pelo instituto ao Ibope revela que 60 milhões de pessoas em todo o país não sabem sequer o que é saneamento básico ou para onde vai o esgoto produzido nas residências. Apesar de as regiões Norte e Nordeste apresentarem baixas taxas de cobertura, o foco no Brasil, de acordo com Pinho, devem ser as grandes metrópoles. Isso porque no interior o problema não é tão crítico, já que as casas são construídas distantes umas das outras. Mas, em favelas, o adensamento de pessoas faz com que os problemas de saúde se tornem críticos. Além do “convencimento” da população acerca da importância do tema, ele defendeu que as mudanças sejam cobradas de prefeitos em todo o país, já que o problema se resume como urbano. Indicadores da OMS garantem que, a cada quantia investida em saneamento, a economia chega a ser quatro vezes maior na área da saúde. O Brasil, segundo Pinho, precisa levantar R$ 270 bilhões para que todos os cidadãos tenham acesso a esgoto tratado, mas o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado para o setor destina apenas R$ 10 milhões ao ano. “É uma agenda que ultrapassa esse governo, uma política pública de longo prazo. Temos que investir sempre porque as cidades crescem todos os dias. É uma política que tem que ser enfrentada com continuidade e nós, como cidadãos, temos que cobrar”. Edição: Tereza Barbosa |