Vera Gonçalves de Araújo
Me preparo para a coletiva com o ator Colin Firth como uma namorada para o encontro decisivo. Cumpro à risca todos os ritos femininos do caso, inclusive o de trocar de roupa no último minuto.
Minha paixão por Colin sobreviveu até ao seu triste papel no "Diário de Bridget Jones", e começou na telinha, quando a Rai transmitiu em 1996 a série "Orgulho e Preconceito", produzida pela BBC, em que ele era o mais fascinante mr. Darcy da história.
A entrevista não tinha nada a ver com cinema. O Colin é embaixador da Oxfam, uma das maiores confederações de OnGs presentes em mais de 100 países para encontrar soluções efetivas para a pobreza e a injustiça social. Estava em Roma para jantar com o Berlusconi, e tentar influenciar a atitude do chefe do governo italiano na próxima reunião do G-8.
Chegando, tive pelo menos uma notícia boa: o Colin fala um italiano fluente, e o meu inglês enferrujado não ia ser um obstáculo para o nosso amor. A notícia ruim é que ele fala tão bem o italiano porque é casado com uma italiana ¿ que estava lá. A sortuda cineasta Livia Giuggioli, que além de ter dois filhos lindos dele (Luca e Matteo), está passando férias com o Colin na casa dos seus pais, num dos lugares mais lindos da Itália, a medieval Città della Pieve, na Umbria.
Como sempre, quando você encontra gente famosa de perto, a primeira sensação é de decepção. De óculos, meio descabelado, o cara parece tímido, apesar de falar com grande segurança e emoção da sua experiência na Etiópia, visitando lugares de miséria absoluta. Alguém lhe pergunta se chorou, ao ver tanta pobreza. Ele responde:
- Enquanto estava lá, não chorei. Chorei quando voltei para a Europa, e senti a diferença.
A missão romana de Colin é difícil. Ele precisa convencer Berlusconi a botar na pauta da próxima reunião do G-8 a campanha mundial contra a pobreza. A estratégia que o ator explicou aos jornalistas é simples: desafiar Berlusconi a se transformar num herói global, defendendo a luta contra a miséria na mesa dos poderosos que irão se reunir na Sardenha, em julho. Um colega italiano comenta que "herói" é uma palavra que vai agradar muito a Berlusconi, e Colin toma nota.
Á pergunta - inevitável mesmo se tratando da fome no mundo - sobre o que acha da sua profissão de ator, Colin retruca:
- Procuro não refletir muito sobre o que faço no cinema, pois acho que me faz mal. Aliás, devo confessar que - quando me vejo no telão - me odeio um pouco. Fico pensando: quem é esse cara? É muito parecido com minha mãe...
Voltando ao assunto sério, lhe pergunto qual é o seu objetivo concreto no jantar com Berlusconi. Ele explica que vai tentar convencer o primeiro ministro italiano a fazer "una bella figura", no G-8 de julho, mantendo a promessa (dele e de outros líderes internacionais) de aumentar as ajudas internacionais para 50 bilhões de dólares até 2010. Uma missão quase impossível em tempos de crise economica, a tarefa que a Oxfam encomendou ao seu embaixador.
50 bilhões de dólares - repete Colin Firth, com a voz de mr. Darcy. Comigo, funciona. Com os líderes do G-8, não sei.
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