da Folha Online
Os 31 milhões de metros cúbicos de gás natural que a Bolívia envia ao Brasil diariamente irão diminuir em aproximadamente 10% nas próximas 48 horas por causa de danos causados em um gasoduto da região de Yacuíba, nesta quarta-feira. O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, disse ter um plano de contingência para implementar, em caso de desabastecimento. Enquanto isso, a administradora do serviço na Bolívia tenta contornar a crise.
O problema é causado por danos em um gasoduto instalado na região de Yacuíba, onde há uma conexão com um encanamento internacional que leva o gás para São Paulo. Segundo a Comgás, a empresa responsável pelo abastecimento de gás natural em São Paulo, ainda não há sinais da redução, e o "fornecimento a todos os clientes está normal".
Segundo o embaixador do Brasil em La Paz, Frederico Araújo, a explosão danificou uma das válvulas do gasoduto --e não a estrutura dele, como havia sido informado inicialmente--; e os técnicos da empresa estatal boliviana YPFB (Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos) já trabalham no conserto, que pode durar 15 a 20 dias.
Com isso, não há previsão para normalização do abastecimento.
"Neste momento há um incêndio na válvula", informou à agência de notícias Efe Jorge Boland, gerente comercial da empresa Transierra, que administra o gasoduto.
Entretanto, segundo Boland, a própria Transierra já tem uma proposta de solução para o problema. Ele diz que há possibilidade de petrolíferas bolivianas usarem um duto da companhia Transredes, nacionalizada em maio passado, para complementar a cota de gás enviada ao Brasil. Fazem parte da Transierra a Petrobras, a Andina-Repsol e a francesa Total.
Contingência
"O fato é que [com a redução] haverá grande prejuízo para a Bolívia e obviamente alguma dificuldade para o Brasil", afirmou ministro de Minas e Energia brasileiro. Com a redução, o governo boliviano perde US$ 8 milhões por dia e ainda poderá acumular multas de US$ 100 milhões a serem cobradas pelo Brasil.
Lobão ressaltou que a redução anunciada --de 10% do volume total transmitido-- não chega a configurar desabastecimento de gás. Segundo ele, porém, se a situação chegar a esse ponto, existe um plano que pode ser implementado para reduzir os impactos sobre o mercado.
O plano inclui a suspensão do funcionamento das térmicas operadas pela Petrobras; o aproveitamento do gás das térmicas da Eletrobrás e outras empresas privadas que podem funcionar a diesel; e o aproveitamento do gás que a Petrobras utiliza para injetar nos poços para produção de petróleo.
Lobão disse estar em contato permanente com o governo boliviano.
"Terror"
O governo de Evo Morales classificou o suposto ataque de manifestantes contra o gasoduto como "ato terrorista". Ontem, ministros já tinham afirmado que os protestos escondiam um golpe de Estado cívico-governista. Nesta quarta, Morales acusou os Estados Unidos de apoiar aqueles departamentos (Estados) que são separatistas e ordenou que o embaixador americano Philip Goldberg "retorne ao seu país com urgência".
Os grupos anti-Morales atuam principalmente nos departamentos (Estados) de governadores da oposição --Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Chuquisaca. Eles reivindicam que o governo federal devolva aos departamentos a renda oriunda do petróleo que, desde janeiro passado, é destinada a um programa nacional de assistência aos idosos; e rejeitam o projeto da nova Constituição proposto por Morales.
Outros ataques
Na madrugada desta quarta, um campo de produção de gás foi ocupado por manifestantes na região de Volta Grande. "Cerca de cem manifestantes ocuparam o campo e tivemos que parar as operações por questões de segurança", disse Juan Callau, presidente da empresa responsável, a Chaco, à imprensa.
Conforme Callau, o campo só voltará a funcionar quando os manifestantes saírem. O campo de Volta Grande produz cerca de 2,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Esse gás é enviado à Argentina e ao Brasil.
Ontem, manifestantes já tinham invadido uma usina de distribuição de gás da Transierra em Villamontes e tentado fechar as válvulas de abastecimento ao Brasil. O dirigente do Centro Cívico em Villamontes, Felipe Moza, chegou a afirmar à agência de notícias France Presse que os manifestantes tinham conseguido fechar quatro válvulas, o que acabou desmentido.
Com agências internacionais
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