Publicada em 07/01/2011 às 15h10m
Arthur VirgilioLula recebeu de Fernando Henrique um país reformado, de economia estável, e ainda foi acariciado pela mais benigna conjuntura econômica internacional dos últimos 40 anos. Tudo tão fácil que desistiu das reformas e simplesmente tocou a bola para o lado, sem o traço do estadista, que é pensar nas futuras gerações.
Sedimentou imensa popularidade em tais fatores, aí incluída a decisão de não investir em medidas essenciais, se impopulares, limitando-se a manter políticas macroeconômicas que condenava e a unificar os programas sociais que recebeu num só projeto, o Bolsa Família. Tocou oito anos de poder lançando projetos que não se concretizavam, mas viravam verdade na propaganda oficial farta, abusiva e, não raro, inconstitucional.
Alguém disse: "Meu sonho é morar no país da propaganda do Lula. Tem tudo, nada falta. Pena que não seja verdade, porque a Saúde piorou, a Educação tem a cara do Enem desmoralizado, a Segurança Pública é calamidade." Agora é a vez de Dilma dizer a que veio, ela que terá de enfrentar graves problemas passados pelo antecessor e não poderá reclamar de "herança maldita", como levianamente alegava Lula diante do legado de Fernando Henrique.
A começar pela crise fiscal, que produz juros elevados, fruto da desabrida gastança pública de custeio, que teve a marca da incompetência e também o viés de abrir caminho para a eleição da própria Dilma. E que não será resolvida com cortes cosméticos nos dispêndios de 37 absurdos ministérios e sim com a retomada do processo reformista interrompido pelo populismo magnetizado, diante do espelho, pela imagem do presidente popular como "nunca na História deste país".
O crédito já sofre restrições: R$ 62 bilhões foram retirados do mercado e depositados pelos bancos, compulsoriamente, no Banco Central, encarecendo as operações a prazo.
Em suma: a sociedade pagará pela irresponsabilidade fiscal do governo. O passo seguinte será a majoração dos juros básicos, como meio de segurar uma inflação que despertou e se mostra renitente.
A infraestrutura é descalabro. Estradas, portos e aeroportos precários; ferrovias quase virtuais. Sem investimentos maciços, não cresceremos sustentavelmente:
* Decréscimo de 0,6% em 2009 mais crescimento de 7,3% em 2010, igual a medíocres 3,35% na média dos dois anos.
* Se crescermos 4,5% em 2011, teremos a média de sofríveis 3,7% no triênio.
* E 2012 é interrogação.
Outro desafio é administrar tantos partidos, viciados em cargos públicos, duelando ao vivo e a cores. Se o governo não tem projeto de reformas, por que juntou tanta gente na base de apoio? Medo de CPIs? Ora, Lula desmoralizou completamente esse instituto secular. Masoquismo? Não sou psicanalista para entrar nessa seara.
Boa atitude da presidente seria tirar o Brasil do virtual e devolvê-lo ao preto e branco. Ganharia respeito dos que prezam a coisa pública. Pelo caminho do discurso fácil, sairá mal. Até porque não tem gordura política pessoal para queimar e porque, logo, teremos um Getulio vivo, itinerante, ambicioso, saudoso do poder, viajando pelo Brasil e opinando sobre todos os temas, do governo Dilma às oposições, passando pela mecânica quântica, matéria em que, dizem, é mestre dos mais conceituados no mundo científico.
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