Publicação: 18/12/2010 08:00 Atualização:
José da Conceição veio da Bahia, há três meses, em busca de uma vida melhor para a família em Brasília: vive em um barraco de lona na Asa Norte |
O estudo — realizado em conjunto com uma empresa particular que aplica vários tipos de levantamentos — foi executado em todas as 30 regiões administrativas do DF. De acordo com a subsecretária de Assistência Social da Sedest, Marta Sales, a pesquisa de campo visa mudar a realidade dos moradores de rua, além de mostrar qual o perfil dessas pessoas. “Ela é importante para promover políticas públicas voltadas para o segmento. Ainda mais agora com a mudança de governo”, frisa Sales.
Durante o levantamento também foi abordado o motivo que levou aquelas pessoas a viverem nas ruas: 24,6% delas relataram que estavam daquela forma por estarem desempregadas, 14,4% informaram que desavenças familiares as levaram àquela situação. “Tanto que a maioria prefere, antes de moradia, um emprego”, diz a subsecretária. Outros fatores foram levantados: tempo de permanência na rua, se essas pessoas vivem sozinhas ou em grupo, que tipo de serviços públicos eles têm acesso, qual o modo de vida desses moradores.
Membro do Movimento Nacional da População de Rua no DF, a catadora de material reciclável e ex-moradora de rua Laís Barbosa dos Santos, 20 anos, acredita que o censo irá mudar a visão da sociedade em relação aos moradores em situação de rua. “Muita gente não tem o discernimento do que é morar na rua. E de quem são essas pessoas”, observa a brasiliense. Hoje moradora de Ceilândia, a jovem passou seis anos vivendo com os pais e os quatro irmãos em uma invasão no Guará II. “Passamos muitas dificuldades. Por isso, eu espero que essa pesquisa ajude a dar oportunidades a esses moradores de rua”, finaliza Laís.
José da Conceição Silva, 40 anos, é um dos que se encaixa entre os perfis da maioria dessa população. Baiano de Luiz Eduardo Magalhães (BA) e analfabeto, ele está desempregado e vive em um barraco de lona em uma área verde localizada atrás do Setor Hospitalar Norte, na Asa Norte. Saiu da cidade natal há três meses para melhorar de vida. Deixou para trás o emprego de padeiro e os três filhos pequenos na Bahia. Durante os 90 dias na capital federal, a primeira oportunidade de serviço que José da Conceição recebeu foi na última quinta-feira. “Fui descarregar um caminhão e recebi R$ 31”, conta o baiano.
Assim como José da Conceição, a esposa dele, a paulista Maria Diva dos Santos, 29, sobrevive graças a doações e à venda de latinhas de alumínio. “Não passamos fome porque sempre há pessoas que nos ajudam”, afirma. Também desempregada, ela passa o dia pedindo dinheiro nos semáforos. “É melhor do que se eu estivesse roubando”, argumenta. Maria Diva diz já ter sido alvo de preconceito por ser moradora de rua. “Uma pessoa me xingou dizendo que eu era uma vagabunda e que tinha era que arrumar um emprego em vez de ficar pedindo esmola”, desabafa a paulista.
PERFIL
População em situação de rua
Idade média
25,6% têm idade entre
18 anos e 24 anos
14,7% têm idade entre
25 anos e 29 anos
12,9% têm idade entre
30 anos e 34 anos
Escolaridade
17,6% têm até a 4ª série
do ensino fundamental
14,2% têm até a 8ª série
do ensino fundamental
13,8% têm até a 5ª série
do ensino fundamental
Origem
23,6% são naturais da Bahia
11,2% são naturais de Minas Gerais
10% são naturais de Pernambuco
Local
38,2% moram no Plano Piloto
19% moram em Taguatinga
9,7% moram em Ceilândia
Motivos causador da situação de rua
26,4% desemprego
14,4% desavença familiar
10,1% alcoolismo e drogas
Forma de geração de renda
30,4% são lavadores e guardadores
de carro
19,9% vivem da mendicância
15,5% são catadores de material reciclável
*Dados da Sedest
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