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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Filme sobre Sarney custou R$ 650 mil aos cofres públicos


presidente da Eletrobrás, uma das patrocinadoras, foi indicado por Sarney em 2008

Ao gastar R$ 650 mil do dinheiro público para realizar o documentário “José Sarney, um nome na história”, a intenção da produtora FBL Criação e Produção era “preservar a memória” do país, segundo a diretora da empresa, Rozane Braga.

Com 70 minutos, o filme foi exibido pela TV Senado em 24.abr.2010, quando o presidente do Senado e ex-presidente da República, José Sarney (PMDB-AP), completou 80 anos. O vídeo alterna longo depoimento do próprio Sarney com falas menores de sua filha e governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB-MA), do senador Marco Maciel (DEM-PE), do poeta Ferreira Gullar e outros entrevistados.

Abaixo, a abertura do filme:




A produção foi beneficiada pela Lei Rouanet de incentivo à cultura, informa o repórter do UOL Fábio Brandt. Seu custo equivale ao que a Eletrobrás, a Vale e a Nextel não pagaram em impostos por incentivar a realização da biografia audiovisual de Sarney. Desde 6.mar.2008, o presidente da estatal Eletrobrás é Antônio Muniz Lopes. Ele assumiu o cargo com apoio de Sarney (aqui, a relação de dirigentes da Eletrobrás).

O senador nega ter influenciado a obtenção do patrocínio. Sua assessoria de imprensa afirma que a FBL realizou o filme de forma independente e só escolheu biografar o congressista pela “importância política que ele tem na história recente do país”. Segundo a diretora da FBL, “colocar [o projeto do filme] na Lei e conseguir o patrocínio é responsabilidade da produtora. O presidente Sarney entrou de gaiato nessa história”.

Não é a 1ª vez que recursos da Eletrobrás são associados a Sarney. Reportagem publicada pela “Folha de S. Paulo” em 18.ago.2009 informou que o instituto Mirante, criado pelo empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney, recebeu R$ 250 mil da estatal. Na ocasião, a Polícia Federal desconfiava que o empresário usava a influência do pai para conseguir contratos para empresas privadas no setor de energia.

Abaixo, outro trecho do filme feito pela FBL:




O Blog quis saber por que a TV Senado não produziu o filme já que possui estrutura e funcionários para tratar de assuntos relacionados aos senadores. O diretor da Secretaria de Comunicação do Senado, Fernando Cesar Mesquita, admitiu que a TV Senado poderia ter feito o documentário. “Mas não o fez no caso do presidente Sarney porque o Fernando [Barbosa Lima, proprietário já falecido da FBL] já o havia realizado sem ônus para o Senado”, justificou Mesquita, que foi porta-voz de Sarney durante sua gestão na Presidência da República (1985-1989).

Bastidores
Item da coleção “Os grandes brasileiros”, o filme sobre Sarney dá sequência ao de Tancredo Neves, conta Rozane. “Depois da morte do Tancredo vem a redemocratização e quem faz parte desse projeto chama-se ‘presidente José Sarney’. Ele foi fundamental na luta pela redemocratização”, diz.

Abaixo, trecho do filme que apresenta imagens da posse de Sarney como presidente da República em 15.mar.1985:



A diretora da FBL diz que o filme sobre Sarney custou menos do que outros da série – que inclui Darcy Ribeiro, Ziraldo, Sérgio Cabral pai e Barbosa Lima Sobrinho. Mas ela não revela o preço desses outros documentários. Diz apenas que eles também receberam verba pública. “Não é necessário levantar isso para sua matéria”, argumenta. Segundo ela, a Eletrobrás já havia patrocinado a biografia de Darcy Ribeiro. “Ele já estava morto. Não acredito que tenha ligado pra Eletrobrás para pedir o patrocínio”.

As 1.250 cópias do filme foram distribuídas em gabinetes de congressistas, escolas, bibliotecas e para jornalistas. Mas o público-alvo do trabalho são estudantes, ressalva a diretora. “Nosso comprometimento é com essa coisa de melhorar o nível cultural do nosso povo”.



Fernando Rodrigues

Fernando Rodrigues

Fernando Rodrigues, jornalista, nasceu em 1963. Fez mestrado em jornalismo internacional na City University, em Londres, Reino Unido (1986).

Na Folha desde 1987, foi repórter, editor de Economia, correspondente em Nova York (1988), Tóquio (1990) e Washington (1990-91). Na Sucursal de Brasília da Folha desde 1996, assina a coluna "Brasília", na página 2 do jornal, às segundas, quartas e sábados. Mantém uma página de política no UOL desde o ano 2000 – com informações estatísticas e analíticas sobre eleições , pesquisas de opinião e partidos políticos. Em 2007 recebeu uma fellowship da Fundação Nieman, na universidade de Harvard (Cambridge, MA, nos Estados Unidos).

É autor do livro "Políticos do Brasil" (2006, Publifolha) e do site www.politicosdobrasil.com.br. Foi também co-autor de outros dois livros: "Os Donos do Congresso - A Farsa na CPI do Orçamento" (Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993) e "Racismo Cordial", de 1994, ambos editados pela Ática.

Ganhou 4 prêmios Esso: Prêmio Esso de Jornalismo de 1997 (reportagem sobre a compra de votos na votação da emenda da reeleição); Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2002 (reportagens e o banco de dados Controle Público, que tem mais de 6.000 declarações de bens de políticos); Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2003 (relato sobre venda reportagem na mídia do Estado do Paraná) e Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2006 (livro e site "Políticos do Brasil"). O trabalho Controle Público também foi premiado em 2002 com o Líbero Badaró de Webjornalismo e com o Prêmio para Internet da Fundación Nuevo Periodismo Internacional, presidida pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez.










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