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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Tchau, Zé

  • Guilherme Fiuza

    Guilherme FiuzaJornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também os livros 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil, e Amazônia, 20º Andar, a aventura real de uma mulher urbana na floresta tropical. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área. Este espaço é uma janela para os grandes temas da atualidade, com alguma informação e muita opinião.

qui, 28/01/10
por gmfiuza |

Manuel Zelaya deixou a embaixada brasileira em Honduras. Espera-se que tenha recolhido as pontas de cigarro e arrumado as camas. Encerra-se um episódio histórico para a diplomacia brasileira: quatro meses de vigília para nada.

A pantomima do Brasil em Tegucigalpa mostrou toda a consistência da doutrina bolivariana – ou melhor, chavista (vamos deixar Simon Bolívar fora dessa). Zelaya, ou, carinhosamente, Zé, deitado na rede, com seu chapéu e seu violão, é o retrato emblemático do projeto de continente dessa nova (?) esquerda.

Deveria haver uma razão nobre para um país transformar um pedaço do seu território no exterior em casa de cômodos. Centenas de “revolucionários” amigos do Zé passaram pela embaixada brasileira, deram ordens e contra-ordens, mudaram a decoração, berraram palavrões para os inimigos do lado de fora, cantaram, hibernaram.

Até que saiu barato. Lula, Amorim, Top Garcia e companhia meteram o Brasil onde não deviam, obedecendo ao coronel Chávez – esse que está se desmilingüindo ao vivo na Venezuela. Evidentemente, a bravata não teve a menor importância, as posições brasileiras no conflito interno foram solenemente ignoradas e Honduras seguiu seu caminho.

O papelão brasileiro de “árbitro” que não apitou nada poderia ter dado em coisa pior. A casa da Mãe Joana verde-amarela estava pronta para um incidente mais grave. A conta de luz, cafezinho e papel higiênico deixada pelos amigos do Zé ao contribuinte brasileiro é um preço camarada para uma confusão dessas.

O patético caso Manuel Zelaya serve para ilustrar algo simples: a forma superficial, quase pueril, com que o Brasil vem aderindo a essa onda desvairada e paranóica que varre a América do Sul. Um alinhamento automático com posições radicalmente tolas.

Chávez, Kirchner, Evo Morales, Rafael Corrêa e todo o autoritarismo neopopulista passam exatamente pela mesma situação: crise econômica e institucional. Chegaram lá com a receita, idêntica, de aparelhamento do Estado, gastança demagógica e divisão da sociedade – sob o pretexto de vingança contra a burguesia e “popularização” da cultura e da informação (com rédea curta).

O Brasil não está indo para o mesmo buraco porque Lula, até agora, só jogou para a platéia chavista. Como se vê nos novos decretos e projetos propostos pelo governo, a entrada para valer do país na doutrina (sic) é o coração do Plano Dilma Rousseff.

Aí os amigos do Zé vão ter um monte de repartições aconchegantes para hibernar.




Sulamérica Trânsito












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