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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Lula sofre ataque de jumenta na infância; leia capítulo

No dia 1º de janeiro de 2010, estreia nos cinemas o filme "Lula, o Filho do Brasil", do diretor Fábio Barreto ("O Quatrilho"), estrelado por Glória Pires no papel da mãe de Lula.

A cinebiografia é uma adaptação do trabalho da jornalista Denise Paraná, que escreveu uma tese de doutorado sobre a trajetória do presidente, publicada em 2002, e agora lança um novo livro com base em uma série de pesquisas e entrevistas recentes em São Paulo e no sertão de Pernambuco.


No primeiro capítulo do livro "A História de Lula: O Filho do Brasil" (Editora Objetiva), a autora já apresenta o diferencial em relação a sua tese de doutorado (também disponível em outro livro): a relação do Lula com a mãe, dona Lindu. Há detalhes sobre a vida pobre em Pernambuco, a mudança para São Paulo e a adaptação à vida urbana.

A obra também cita aspectos pitorescos, como o ataque de jumenta sofrido por Lula na infância (leia no trecho em negrito abaixo), episódio que virou motivo de piada na família Silva.

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O GRANDE SERTÃO

Lindu nasceu na fazenda de Cajarana, em Caetés, município de Garanhuns, em 1915. Filha de José Ferreira de Melo e Otília Perciliana da Silva, tinha a pele clara, cabelos loiros e olhos azuis, como seus avós italianos. Era um bebê bonito, apesar de um problema no pé direito, que o manteve levemente torto para o resto de sua vida. Ela cresceu entre seus irmãos Carmelita, Luzinete, Maria José, José Rádio, Dorico, Ananias, Estaquinho e Sérgio. Mas não conviveu por muito tempo com seu pai, morto aos 40, provavelmente de câncer.

Sua mãe Otília, ou Mãe Tili, era costureira respeitada na região. Recebendo um corte de tecido, o devolvia quatro horas depois como um terno de caimento perfeito. A viúva sustentava assim sua família. Mãe Tili ficou conhecida por sua simpatia, mas também por seu vício: era alcoólatra. Costumava trocar seus serviços de costureira, uma camisa, por exemplo, por meio litro de cachaça. O preço era baixo; o corte, benfeito; mas o resultado, quase sempre, era Otília caída no chão, inconsciente.

Lindu passou toda sua infância e adolescência na fazenda de Cajarana, onde se misturam terras do sertão e do agreste de Pernambuco. Com sua mãe e suas tias, aprendeu desde criança as tarefas consideradas femininas: os cuidados com a casa, a comida, a roupa, os animais, a roça. Pequena, embalava bonecas de sabugo de milho com cabelos vermelhos feitos de palha. Com irmãs e primas, brincava de equilibrar pedrinhas na palma das mãos ou entre os dedos. Caçava borboletas, joaninhas e outros insetos coloridos. Sua família não tinha dinheiro, mas também não era pobre para os padrões locais. Viviam como Deus mandava.


Reprodução
João Inácio da Silva, o João Grande, e Guilhermina da Silva, avós paternos de Lula
João Inácio da Silva, o João Grande, e Guilhermina da Silva, avós paternos de Lula

Lindu crescia sem sobressaltos. Esperava-se que ela se tornasse mulher, casasse, parisse muitos filhos e morresse como boa dona de casa. Por isso, Lindu não aprendeu mais do que aquilo de que precisaria na roça. O desenho das letras, dos números fazia parte de um mundo distante. Ela acreditava que seu destino mudaria apenas se Deus a levasse embora, como fez com sua irmã Maria, que morreu na adolescência, atacada por uma doença que chamavam de "mijo de rato". Sem nunca usar sapato, conhecer luz elétrica ou ter se afastado mais do que algumas léguas de onde nasceu, Lindu aprendeu a ter prazer em tudo o que a vida oferecia. Era uma alma leve. Tinha olhos para a beleza. Como suas irmãs, adorava frequentar as festas da região. E poucas pessoas eram mais festeiras do que seu vizinho João Grande, homem forte, plantador de melancia, que - ela nem imaginava - anos mais tarde se tornaria seu sogro. As festas na casa de seu João Grande eram famosas, celebradas com bacamartes e tudo a que se tinha direito. Quando os homens puxavam os gatilhos de seus mosquetões, as mulheres corriam para dentro de casa, rindo. Na mesa, carnes de todos os tipos: galinha, peru, porco, vaca e, o que nunca podia faltar, buchada de bode. Para quem quisesse havia ainda milho assado, canjica, biju, pamonha, farinha de mandioca e feijão--de-corda. De sobremesa, rapadura, marmelada, goiabada e os doces em calda, como o de jaca e até o da fruta do mandacaru.

As festas reuniam dezenas de vizinhos. Lindu adorava fazer e manter amigos. Ela também amava música e, por toda a vida, nunca deixou de cantar cantigas que aprendeu no agreste, no ritmo das colheres que batia com a mão.

Reprodução
Aristides, pai de Lula
Aristides, pai de Lula

MIRA PERFEITA

Filho de João Inácio da Silva, o João Grande, e Guilhermina da Silva, Aristides Inácio da Silva, nascido em 1913, era um moço forte que não tinha medo de trabalho. Caçador de ótima pontaria, João Inácio da Silva, o João Grande, e Guilhermina da Silva, avós paternos de Lula matava raposas e outros animais que aparecessem na sua mira. Quando o coração de caçador de Aristides mirou no de Lindu, ela caiu sorrindo, abatida de satisfação. Aristides era sedutor e, ainda assim, parecia moço de respeito. Os cabelos pretos, os olhos castanhos, penetrantes, o sorriso aberto cativaram Lindu. Ele era respeitado e admirado. Afinal, era Aristides, o caçador.

No início do século passado, nordestinos tinham poucas chances de conhecer alguém fora de seu povoado. Vivendo uma existência praticamente isolada, as famílias Broca, Ferreira e Melo, de Lindu, e Inácio e Silva, de Aristides, casavam seus filhos entre si. O amor brotava e crescia em solo próximo e bem conhecido. Casar em família era a regra. Todos se conheciam desde sempre e, na hora em que os hormônios avisavam que a vida adulta havia chegado, alguns já sabiam quem seria seu par. Quando isso acontecia, tudo mudava. Abraços, sorrisos, brincadeiras, nada mais era permitido. Conversas se transformavam em silêncio. Antes do casamento, demonstração de carinho não era bem-vista. Moça direita precisava manter-se pura. E essa castidade não era exigida apenas para o corpo. As moças também precisavam ter a mente limpa. Imaginava-se que não saber nada sobre o desejo entre os sexos seria uma forma de mantê-lo bem longe. Lindu casou sem ter recebido qualquer explicação para o milagre da procriação. Nada era mais tabu do que aquilo com que os animais se ocupavam livremente a céu aberto, na frente das crianças. Por isso, Lindu e sua irmã Luzinete acreditaram por muito tempo numa conversa sussurrada por uma prima:

- Quando uma mulher troca de roupa num quarto e um homem vê a mulher pelo buraco da fechadura... pimba! A mulher fica embuchada!

PIOLHOS

A diversão entre as mocinhas era reunir-se sob um pé de juá ou de mulungu, jogar conversa fora, revelar segredos e brincar com sementes de fava. Um dia Lindu, Luzinete e algumas primas conversavam animadas quando três rapazes apareceram em seus cavalos, querendo paquerar. Como fazia muito sol, um deles ofereceu seu chapéu para Lindu. Quando ia colocá-lo na cabeça, ela olhou para o chão e sorriu. Decidiu devolver o chapéu para o moço. Quando os rapazes foram embora, Luzinete cutucou:

- Não tinha nenhum problema você colocar o chapéu! Ele não ia achar que você não era direita só porque aceitou o chapéu!
- Tinha problema, sim. Na hora de colocar na cabeça eu vi que o chapéu estava cheio de piolhos. Um piolhento! Com esse moço eu não caso.

O vento da sorte soprou a favor de Aristides.

CASAMENTO

O casamento de Lindu e Aristides foi uma festa bonita, cheia de convidados, de comes e bebes, embalada ao som do sanfoneiro, como manda a tradição local. Os noivos, como era costume, não se casaram no civil. O que importava eram os olhos de Deus.

O casal parecia viver muito bem. Aristides era trabalhador e sabia como afagar a terra. Ela respondia ao seu carinho produzindo mandioca, milho, batata-doce, feijão. A proteína animal vinha da caça. De vez em quando, Lindu cozinhava galinha, peru, porco, bode, ou até uma vaca nos dias de festa. Aristides, montado em seu cavalo, ia comprar na feira livre de Garanhuns os itens que faltavam: querosene para o candeeiro, munição para a espingarda, açúcar, sal, sabão. Às vezes banana, biscoito e rapadura. E nunca deixava faltar água em casa. Chegava a pagar alguém para buscá-la, com o dinheirinho que ganhava na venda de farinha de mandioca, que ele mesmo fazia em um moinho próximo.

DESEJOS E SEGREDOS

Cumprindo suas obrigações de esposa, entregando seu corpo aos desejos do marido, e talvez aos seus próprios, Lindu descobriu segredos. E logo se tornou mãe. Ano a ano, os filhos chegaram. Em 1936 nasceu José Inácio da Silva, apelidado mais tarde de Zé Cuia, por usar sempre uma pequena cuia de água para molhar e pentear o cabelo.

Em 1937, veio Jaime Inácio da Silva. Em 1938, Lindu deu à luz sua primeira filha, Marinete Ferreira da Silva. Em 1939, nasceu Genival Inácio da Silva, apelidado de Vavá. O ano seguinte não foi feliz, Lindu perdeu um bebê. Foi então que fez promessa para São José, pedindo por um filho que, se fosse saudável, teria o nome do santo. Em 1942, nasceu José Ferreira da Silva, conhecido na família como Ziza e, depois de adulto, como Frei Chico. Em 1943, Maria Ferreira da Silva, a Maria Baixinha, veio ao mundo.

Em 1944 a tristeza voltou a visitar os Silva, Lindu perdeu mais um filho. No ano seguinte, conhecendo então seu corpo e os sinais de uma vida por vir, Lindu percebeu mais um filho a caminho e rezou muito por ele.

TRAIÇÃO MUDANDO DESTINOS

Aristides, o homem que Lindu tanto amava, porém, não era fiel no casamento. Mergulhado na cultura machista de sua época, orgulhoso de sua masculinidade, ele não deixava de cobiçar outros rabos de saia. Sem imaginar as aventuras do marido, Lindu cuidava dos filhos com carinho. E como suas obrigações eram muitas, acabou por aceitar a sugestão de que uma prima, com cerca de 13 anos, a ajudasse no trabalho doméstico. Apelidada de Mocinha, era uma adolescente linda, de olhos e cabelos castanhos.

Logo pegou prática no trabalho. A admiração que Mocinha tinha por Lindu, e por tudo o que pertencia a ela, inclusive seu marido, crescia a cada dia. Ninguém suspeitava que a decisão de Lindu de aceitar a ajuda da prima terminaria numa história típica de folhetim. A chegada de Mocinha, em vez de ser algo banal, provocou uma situação que mudaria sua vida e a de toda a família Silva. É impossível reconstituir a história em detalhes. Mas o fato é que Mocinha e Aristides se tornaram amantes. Não se sabe o quanto Aristides investiu nessa aventura.

Ou se foi Mocinha quem decidiu conquistá-lo. O que se sabe é que, no ano de 1945, Lindu e Mocinha estavam grávidas, ao mesmo tempo, do mesmo homem. Mas Lindu não sabia de nada. Com a esposa e a amante esperando filhos seus, Aristides decidiu partir para longe. Sua mira certeira agora não via mais raposas, mas o rumo de São Paulo. Assim, em agosto de 1945, vendeu seu cavalo e disse para Lindu que dentro de poucos dias subiria no primeiro pau de arara em direção à cidade grande. O motivo, ele dizia, era a seca. Iria ganhar a vida no Sul e, de lá, enviaria dinheiro para o sustento da família.

ADEUS

Era uma manhã cinzenta quando Aristides fechou sua mala de couro remendado. Os olhos de Lindu transbordaram. Os filhos enfileiraram-se na soleira da casa, tentando decifrar aquele evento incompreensível. Antes de partir, Aristides entregou ao filho predileto, Vavá, um antigo vidro de perfume. Com o coração aos galopes, acariciando a barriga que trazia o próximo filho, Lindu observou Aristides sumir na poeira da estrada. Agora estava só. E temia pela vida de seus pequenos e do sétimo filho por vir. Este, coitado, nasceria sem o pai.

Poucos quilômetros adiante, embaixo da sombra de uma árvore à margem da estrada, Aristides encontrou Mocinha. Caminharam juntos até a venda de onde sairia o pau de arara e partiram para São Paulo. A viagem precária anunciava ao casal que seus dias não seriam fáceis. Ao chegar ao estado de São Paulo, Aristides foi aconselhado a ir para a cidade de Santos, onde tentaria emprego como estivador. Um trabalho de acordo com suas capacidades físicas e, para seu padrão, muito bem remunerado. Além do mais, carregar peso era quase tudo o que a cidade grande poderia reservar para um analfabeto. Mas assim que Aristides chegou, sofreu um acidente. Uma lata enferrujada rasgou seu pé descalço, atingindo o osso. A infecção que surgiu no ferimento quase o derrubou para sempre. Por pouco Lindu não se tornou viúva logo naqueles dias.

NASCE LUIZ

Na tarde do dia 27 de outubro de 1945, muito longe de Aristides, Lindu se contorcia de dor. Ela esperava pela ajuda de sua parteira, uma mulher muito gorda, que logo chegaria montada em seu jegue. Experiente nas artes do nascer, a parteira que ajudou Lindu a dar à luz todos os seus filhos conhecia também os mistérios do morrer. Havia feito incontáveis partos fracassados. Conhecia muitas histórias de mães perdendo filhos, filhos perdendo mães, filhos e mães perdendo-se juntos. A mortalidade infantil levava embora um terço das crianças que nasciam no interior de Pernambuco na década de 40. A parteira sabia que, por aqueles sertões distantes da cidade grande, a roda da fortuna podia girar livremente, no sentido que bem quisesse. E tinha girado contra a vida, no parto anterior de Lindu.

Sobre o fogão a lenha, a água fervia. As crianças já tinham sido avisadas para brincar em outro lugar. Mas gemidos de sua mãe fizeram com que se aproximassem da porta. Quando ouviram um choro forte de bebê rasgando o ar, entraram. Viram a mãe ofegante, exausta. Tinha sido longo o esforço de parir uma criança tão grande. Observaram a parteira entregar o bebê enrolado nos poucos pedaços de pano que existiam na casa. Lindu sorriu ao perceber que seu filho era um menino. E parecia saudável. A parteira sorriu junto, orgulhosa do trabalho benfeito, quando Lindu disse:

- Este vai se chamar Luiz. Luiz Inácio da Silva.









Lula acumula: -Aposentadoria por invalidez,aposentadoria de Aposentadoria por invalidez,Pensão Vitalícia de "perseguido político" isenta de IR,salário de presidente de honra do PT,salário de Presidente da República.Você sabia???

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