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terça-feira, 17 de março de 2009

Clodovil Hernandes, língua afiada e um mandato cercado de polêmicas


Publicada em 17/03/2009 às 16h25m

O Globo

Clodovil na Câmara. Ele foi eleito um dos deputados mais votados de São Paulo - Roberto Stuckert Filho

RIO - Quando o estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandes resolveu lançar sua candidatura a deputado federal em 2006, prometeu que se eleito "Brasília nunca mais seria a mesma". Pode não ter cumprido a promessa, mas em pouco mais de dois anos não foram poucas as polêmicas em que o parlamentar se meteu nem poucas as vezes em que usou sua língua afiada na capital federal. ( A trajetória de Clodovil em fotos )

Terceiro candidato mais votado de São Paulo com quase meio milhão de votos, Clodovil chegou a Brasília dizendo que ia sofrer para se adaptar à cidade, principalmente pelo preconceito que disse haver contra homossexuais. Mas avisava:

- Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa choque.

" Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa choque "

Para conquistar os votos, usou de bastante ironia. Na campanha, dizia: "Vocês acham que eu sou passivo? Pisa no meu calo para você ver...".

Após a eleição, mais polêmicas e as frases de efeito. Perguntado se aceitaria dinheiro para votar a favor do governo, admitiu que sim, mas que seria preciso uns R$ 30 milhões e não R$ 30 mil, quantia que teria sida usada no escândalo do mensalão. Criticado pela declaração, Clodovil disse que a imprensa deturpou suas frases, mas afirmou que "todo mundo tem seu preço".

Ao entrar no Congresso pela primeira vez, revelou ter ficado na dúvida sobre o melhor acessório a ser usado na ocasião.

- Vim aprender o caminho da escola. Não sabia se podia trazer uma bolsa, uma mala, uma pasta, um Louis Vuitton ou um Vitor Hugo - afirmou ele na ocasião, quando disse também que seu mandato seria marcado por uma política de afeto e de amor.

Polêmica com a deputada Cida Diogo

Mas a política de afeto durou apenas até 2007, quando Clodovil comprou briga com a bancada feminina na Câmara ao dizer que as mulheres hoje tinham ficado muito ordinárias, "trabalhavam deitadas e descansavam em pé".

Dias depois, desentendeu-se com Cida Diogo (PT-RJ), que colhia assinaturas para representar contra ele no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar. Chorando muito, a deputada subiu à mesa diretora e informou ao deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que presidia a sessão, que Clodovil havia se dirigido a ela com palavras de baixo calão no plenário. Segundo Cida, Clodovil teria dito que ela "era tão feia que não poderia ser nem p...". O deputado primeiro negou a acusação, depois revelou o que dissera à deputada.

- Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia. Eu tenho culpa de ela nascer feia?

Acusações de racismo e antissemitismo

Clodovil em Brasília - Givaldo Barbosa

Em outubro de 2006, logo depois de eleito, Clodovil se envolveu em uma polêmica com os judeus e os negros. Em entrevista à Rádio Tupi, ele declarou que os judeus teriam manipulado o Holocausto e forjado o atentado de 11 de setembro contra o World Trade Center. Na mesma entrevista, referiu-se a um negro como "crioulo cheio de complexo".

O presidente da Federação Israelita do Rio, Osias Wurman declarou-se na época indignado com as declarações, sobretudo por virem de uma pessoa advinda de uma minoria que também sofre preconceito. Wurman entrou com uma interpelação judicial contra Clodovil, acusando-o de racista, além de enviar cópias do áudio da entrevista à Secretaria Estadual de Direitos Humanos, a deputados estaduais e a organizações não-governamentais ligadas ao movimento negro.

Troca de partido um ano depois da eleição

Um ano depois da eleição pelo PTC, Clodovil decidiu se filiar ao PR, envolvendo-se em mais uma polêmica, já que a antiga legenda alegou que ele teria ferido as regras da fidelidade partidária e passou a tentar reaver o mandato. Clodovil se defendeu dizendo que fora abandonado pelos dirigentes do antigo partido nas eleições, quando não recebeu material de campanha, e depois já no mandato, quando, segundo ele, não lhe deram assistência jurídica. Julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o deputado foi absolvido por unanimidade. Ao fim do julgamento, disse que o processo serviu para o seu crescimento pessoal.

Apresentou projeto para instituir o Dia da Mãe Adotiva, a ser comemorado no terceiro domingo de maio. Em julho de 2008, surpreendeu ao protocolar na Mesa da Câmara uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) propondo o corte de 263 vagas na Câmara, reduzindo o número de deputados dos atuais 513 para apenas 250. Clodovil alegou que o corte permitiria uma economia grande de gastos e ainda reduziria o nível de corrupção no país.

Como estilista, rivalidade com Dener

Clodovil apresentando o programa TV Mulher - Arquivo

Adotado por um casal de imigrantes espanhóis, Clodovil nasceu no interior de São Paulo e nunca conheceu seus pais biológicos. Foi educado em colégio interno por padres católicos e falava fluentemente francês e castelhano. Era professor por formação, mas nos anos 19660 ganhou fama como estilista de alta costura, mantendo uma "rivalidade" com Dener, o mais famoso da época.

No início dos anos 80, apresentou na Rede Globo o programa feminino TV Mulher, considerado revolucionário na época, ao lado da então sexóloga Marta Suplicy. Trabalhou também na Rede Manchete, TV Gazeta, Rede TV e JB TV. Foi figurinista de teatro e também trabalhou como ator.

Sofreu o primeiro AVC em 2007, quando chegou a passar alguns dias internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O acidente ocasionou uma paralisia de leve intensidade no braço direito de Clodovil.

Na segunda-feira, ele voltou a sofrer um AVC e foi internado no hospital Santa Lúcia, em Brasília, onde passou por um procedimento cirúrgico. Após uma parada cardiorrespiratória, ficou em coma profundo até que veio a falecer . Ele tinha 71 anos.

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