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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O primo Basílio



Eça de Queiroz

Publicado em 1878, o romance O Primo Basílio é uma análise muito bem realizada acerca do casamento e do comportamento burguês.

Bastante influenciado por Madame Bovary , de Gustave Flaubert , Eça de Queirós tem em Emma Bovary o modelo para a construção de Luísa, personagem frágil, sonhadora, romântica.

EÇA DE QUEIRÓS

Vida


Nasceu na Póvoa de Varzim (1845) e morreu em Paris, em 1900. Filho natural, foi criado longe dos pais. Cursou Direito em Coimbra. Advogou pouco tempo em Lisboa. Fez carreira diplomática, tendo vivido em Havana, Bristol e Paris. Convivendo com Antero de Quental, acabou participando das Conferências do Cassino Lisbonense de 1871, desmembramento da “Questão Coimbrã”. Trata-se, seguramente, do mais importante escritor do Realismo-Naturalismo português e dos melhores ficcionistas de seu país, em todos os tempos. A crítica literária costuma identificar três fases distintas na obra de Eça de Queirós.

Características

A primeira fase compreende, basicamente, crônicas jornalísticas reunidas posteriormente em volume, sob o título de Prosas bárbaras . Nessa fase, Eça escreveu um romance, O mistério da estrada de Sintra , em parceria com Ramalho Ortigão. Um realismo ainda incipiente convive com heranças românticas mal disfarçadas. O próprio escritor tentou fazer com que esse início de carreira fosse esquecido. De fato, trata-se daparte menos significativa da sua produção literária.
A segunda fase tem início com a publicação do romance, O crime do padre Amaro , em 1875. Três anos depois, o autor daria continuidade a ela com O primo Basílio . Em 1880, escreve Os Maias , contando uma história incestuosa, bem ao gosto naturalista. Trata-se da fase mais caracteristicamente realista-naturalista do autor. Seus romances estão impregnados de elementos próprios do estilo, principalmente porque esboçam um panorama de crítica social e cultural da vida portuguesa, notadamente do ambiente burguês. A ironia utilizada nesses romances desmascara o comportamento hipócrita e ocioso da burguesia lisboeta. Destaque-se, contudo, a originalidade do estilo de Eça de Queirós, que dotou a língua portuguesa de um novo ritmo de frase, com uma adjetivação surpreendente.
A terceira fase mostra um escritor mais confiante em seus próprios recursos expressivos, dando livre vasão ao seu lirismo. Escapando da rigidez das normas realista-naturalistas, confere lugar de destaque à fantasia, sem abandonar o registro crítico realista. Em romances como A relíquia (1887), A ilustre casa de Ramires (1897) e A cidade e as serras (1901), o escritor se permite alguns vôos de imaginação. Acrescente-se a nota saudosista das tradições portuguesas. Eça, ainda e sempre um crítico do convencionalismo lusitano, agora, de longe (por força de suas missões diplomáticas), observa a pátria com mais complacência . Sua linguagem vai assumindo um registro cada vez mais pessoal, terminando por ser marcadamente impressionista, muito distante da objetividade exigida ao romance realista-naturalista típico.
A ilustre Casa de Ramires apresenta duas narrativas: a vida do fidalgo Gonçalo Mendes Ramires e a vida de seu antepassado Tructesindo. A obra satiriza a vida política provinciana de Portugal, mas é também uma tentativa de reelaboração do antigo nacionalismo colonizador. Portugal é representado pelo herói Gonçalo: entusiasta e inteligente, mas fraco, doce, ingênuo, isto é, sem a energia de seus ancestrais.
A Cidade e as Serras é um romance que defende a tese de que a vida no campo, na aldeia, é preferível à dos centros urbanos, caracterizados como mausoléus. A narrativa ironiza o progresso mecânico, o convencionalismo urbano e o desfibramento que vinha da ociosidade gerada pelo dinheiro.

Resumo do Enredo



Luísa casara-se com o engenheiro Jorge, apesar de não amá-lo. Tendo que viajar para o Alentejo, Jorge deixa a esposa em Lisboa, sozinha, entregue a uma vida de tédio, pois Luísa não tem nenhuma ocupação. Um dia, recebe a visita de seu primo Basílio, antigo namorado, recém-chegado do Brasil. Tornam-se amantes em pouco tempo, encontrando-se freqüentemente em um quarto alugado especialmente para esse fim amoroso.

Logo a criada Juliana descobre o relacionamento e intercepta a correspondência da patroa, escondendo as cartas comprometedoras de Luísa a Basílio. A criada passa a fazer chantagem com a patroa, e Luísa, desesperada, propõe a Basílio que fujam. Este não aceita a proposta da amante e parte sozinho para Paris.

À mercê da empregada, Luísa torna-se pouco a pouco uma verdadeira presa nas mãos de Juliana: é obrigada a fazer o serviço doméstico em lugar da criada e sua situação fica insustentável.

Jorge retorna do Alentejo e estranha bastante a situação da esposa. Luísa, desesperada, procura o amigo Sebastião e pede-lhe ajuda. Sebastião pressiona Juliana e recupera as cartas comprometedoras. A criada morre. Luísa fica doente em seguida. Um dia recebe uma carta de Basílio, que Jorge lê e toma conhecimento das relações entre a esposa e o primo. Quase convalescente, a moça tem uma recaída, delirando e entrando em estado irrecuperável. Termina por falecer.

Breves Comentários



Em O Primo Basílio , encontramos uma análise dos mecanismos do casamento e do comportamento da pequena burguesia lisboeta.

Eça deixa transparecer que escreve com o objetivo social, ao atacar a família lisboeta, que para ele é produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se contradizem e, ao atacar a pequena burguesia, através de um grupo social alicerçado em falsas bases no meio da transformação moderna.

No decorrer da história o narrador nos mostra como se deu o casamento de Luísa e Jorge : – Quanto a Jorge : "Ele, nunca fora sentimental (...) Quando a sua mãe morreu, porém, começou a achar-se só (...) Decidiu casar. Conheceu Luísa, no verão (...) Apaixonou-se pelos seus cabelos louros, pela sua maneira de andar, pelos seus olhos castanhos muito grandes. No inverno seguinte foi despachado, e casou."

E assim esse casamento sem maiores raízes, naufraga no adultério com a aproximação de um vulgar sedutor, o primo Basílio; o primeiro namoro de Luísa.

O Moralismo do Realismo Português



Eça de Queiroz não é apenas um analista (como propunha o realismo) nem apenas um artista, mas também um moralista.

Possuía uma finalidade ética e social a atingir, afirmando que "uma sociedade sobre estas falsas bases (analisadas no Primo Basílio), não está na verdade : atacá-las é um dever (...) Amaro é um empecilho, mas os Acácios, os Ernestos, os Saavedras, os Basílios são formidáveis empecilhos; são uma bem bonita causa de anarquia no meio da transformação moderna : merecem partilhar com o Padre Amaro de bengala do homem de bem."

Neste trecho acima, percebemos claramente, o objetivo social, altruístico, com intuitos essencialmente morais.

Entretanto, os psicanalistas observam que "as exigências morais do Super-Ego são satisfeitas por esse tom social altruístico e tornam possível a volta do recalcado, sob essa forma modificada."

Diante dessa afirmação, será que Eça ao tratar do seu mais íntimo e profundo problema não tenha colocado o moralismo, justamente, para censurar a si mesmo ?

Em O Primo Basílio encontramos a necessidade de se trabalhar pela moralização da sociedade portuguesa, principalmente através da crítica que se faz à pequena burguesia e à família. Como Eça disse : "... uma sociedade sobre falsas bases ..."

Muitas de suas personagens estão destituídas de força moral. O Cons. Acácio, por exemplo, que representando o "formalismo oficial", mantém um relacionamento, secreto, com a sua criada Leopoldina que representa a parte má que existe na alma da mulher e, também, a Luísa que, entregue à fantasia sentimental, é totalmente destituída de consciência moral, predispondo-se ao adultério.

Luísa adoece, com uma inesperada febre nervosa. Jorge toma conhecimento das relações da esposa com o primo, através de uma carta. Quanto Jorge mostra a carta a Luísa, esta, num gesto romântico, estatela-se ao chão

Tanto é assim, que quando doente, nos momentos de lucidez, Luísa pedia a presença do marido ao seu lado: é o lado moralizador do realismo português.

E, a morte de Luísa, é também muito significativa. Diante da tese desenvolvida em O Primo Basílio , achou-se necessário, como conclusão, castigar a heroína. O Castigo foi a morte.

Eça, como crítico, muitas vezes impiedoso, da sociedade portuguesa, sentiu a necessidade de reformas sociais, por isso, a tudo moralizou.

Eça de Queirós não é apenas um analista (como propunha o Realismo) nem apenas um artista.

Um Moralista

• possuía uma finalidade ética e social a atingir : "Uma sociedade sobre estas falsas bases (analisadas no Primo Basílio), não está na verdade : atacá-las é um dever."

• portanto, escreve com um objetivo social, altruístico, com intuitos essencialmente morais.

• o consciente de Eça trabalha pela moralização da sociedade portuguesa, por isso, é um crítico impiedoso da sociedade portuguesa e sente a necessidade de reforma sociais.

PRINCIPAIS PERSONAGENS

Dona Felicidade



representa a figura materna, simpatiza-se com Basílio





Acácio



figura paterna, destituída de força moral, simpatiza-se com Basílio





Leopoldina



representa a parte má que existe na alma da mulher





Jorge



irmão que ama honestamente - uma parte do irmão que protege





Sebastião



a outra parte do irmão que protege, linguagem do sentimento, protetor inconsciente, sabe que atrás daquele namoro se aninha um impulso incestuoso.





Basílio



figura do romancista "alto, delgado, um ar de fidalgo, o pequeno bigode preto levantado...", impulso sexual ilegítimo, irmão que deseja (leviano)





Juliana



censura corrompida (usa de chantagem)





Julião



potência consciente, linguagem da lógica, linguagem natural da consciência, não vê mais que um simples adultério, pouco lhe importa o que possa suceder entre Luísa e Basílio - Basílio o irrita.





Luísa



mulher romântica, sonhadora, frágil : "É mulher, é muito mulher... Não tem coragem para nada...", comportamento romântico que a predispõe ao adultério.





Realismo em Portugal

O Realismo-Naturalismo surgiu inicialmente como uma reação aos excessos sentimentais do Romantismo, que já tinha saturado a cena artística européia desde meados do século XIX. Romances como Madame Bovary , de Gustave Flaubert (1857), e Thérèse Raquin (1867), de Émile Zola, estão nas bases originais dessa reação. Em Portugal, o marco histórico que introduziu as idéias realistas-naturalistas foi a chamada Questão Coimbrã que, em 1865, opôs realistas a românticos. No Brasil, Realismo e Naturalismo tiveram trajetórias mais ou menos distintas: o primeiro iniciou-se com Memórias póstumas de Brás Cubas , de Machado de Assis, publicado em 1881, e o segundo, no mesmo ano, com O mulato , de Aluísio Azevedo.

Contexto Histórico

A partir da segunda metade do século XIX , o ambiente sociocultural europeu apresenta significativas mudanças. A civilização burguesa, industrial e mecânica, começa a se firmar. As idéias de liberalismo e democracia ganham dimensões cada vezmaiores. As ciências naturais desenvolvem-se e os métodos de experimentação e observação da realidade passam a ser encarados como os únicos capazes de explicar racionalmente o mundo físico. O desenvolvimento científico da época galvanizou a intelectualidade que, das cátedras universitárias aos bares boêmios, adere ao cientificismo e ao materialismo, opondo-se à metafísica, à religião e a tudo que escapasse dos limites da matéria.
Algumas doutrinas científico-filosóficas da época deixaram marcas visíveis na produção literária. Hegel divulga a sua Dialética do processo racional , segundo a qual qualquer raciocínio pode ser lógico, desde que seja estruturado na trilogia seqüencial “tese antítese síntese”.
O Positivismo de Augusto Comte defendia a importância da Ciência para a sociedade humana. Ele concluía que a Teologia e a Metafísica poderiam ser abandonadas, já que a realidade é concreta, objetiva e lógica, o que permitia a análise lógica e experimental; mais ainda: tudo poderia ser explicado e entendido por todos. Calcado nessa teoria, Proudhon lançou as bases do pensamento socialista da igualdade.
A publicação de A origem das espécies de Charles Darwin eliminou a aura de espiritualidade e misticismo que o idealismo romântico conferia ao ser humano, encarando-o como parte de uma grande cadeia alimentar, nivelando-o com outros seres vivos. O livro, que contou com a forte oposição da Igreja, teve um extraordinário sucesso de público, comprovando a curiosidade geral em torno do tema e das novas idéias evolucionistas.
Mas a teoria filosófica que mais influência teve sobre as artes desse período foi o determinismo de Hipólito Taine, que explicava todas as ocorrências humanas e sociais pelo condicionamento do indivíduo ao meio, à raça ou ao fato histórico . Por essas idéias, o homem é presa do ambiente em que vive ou viveu, ao qual se soma a hereditariedade. A partir daí, dimensiona-se o pessimismo de Schopenhauer , para quem o homem estava fadado à dor e ao sofrimento, já que a felicidade era sempre ilusória.

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