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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Oposição boliviana quer mediação da Igreja e países amigos


O prefeito (governador) do departamento (estado) de Tarija, Mario Cossío
Cossío quer diálogo formal envolvendo Igreja e embaixadores
O prefeito (governador) do departamento (estado) de Tarija, Mario Cossío, disse que pediu a participação da Igreja Católica e de embaixadores de países amigos como o Brasil nas negociações com o governo da Bolívia.

Igreja e embaixadores participariam como "observadores" no diálogo entre oposição e o governo do presidente Evo Morales.

"Falei com o cardeal da Igreja e também com embaixadores e eles mostraram disposição de participar deste diálogo", disse Cossío. "Se o presidente estiver de acordo, podemos instalar esse diálogo formalmente".

Ele fez as declarações ao chegar, neste domingo, ao Palácio presidencial Queimado, em La Paz, onde esperava reunir-se com o presidente Morales. "Hoje a presença do presidente é imprescindível", disse.

Testemunhas

Pouco depois, o vice-presidente Álvaro Garcia Linera disse que Morales só participaria do encontro se houvesse avanços.

Linera afirmou que o governo aceitaria a presença de "testemunhas" – não observadores – no encontro.

"O governo tem a disposição de ser flexível tanto na questão dos impostos petroleiros quanto das autonomias. Mas queremos que as autonomias dos departamentos sejam discutidas dentro da nova constituição", afirmou.

Segundo ele, o governo tem propostas que vão beneficiar as administrações regionais.

Linera fez duas ressalvas: "os crimes não são negociáveis. Ou seja, nem as mortes em Pando, cuja responsabilidade é do senhor prefeito (Leopoldo Fernández) e nem os delitos cometidos contra nosso sistema energético, com o fechamento de válvulas. Estes crimes serão apurados e os responsáveis presos".

O vice-presidente pediu que os manifestantes liberem as instalações energéticas que ainda estão ocupadas no país, além dos organismos públicos do governo central, controlados pela oposição na região governada pela oposição.

A Bolívia vive uma nova era de crise política e social que deixou vários mortos em Pando, na fronteira com o Acre.

Os jornais publicaram, neste domingo, o nome de 18 vítimas fatais, mas segundo o ministro de governo, Alfredo Rada, esse número poderia passar de trinta.

Essa tentativa de diálogo – a terceira em um mês – ocorre um dia antes da reunião dos presidentes da Unasul, em Santiago, no Chile. Morales participará do encontro, confirmou Linera.


Na entrevista em La Paz, os jornalistas perguntaram ao vice-presidente por que não se permite o desembarque de observadores e jornalistas em Cobija, capital de Pando.

"Em Pando existem quadrilhas de traficantes armados que atuaram com a permissão deste senhor prefeito", afirmou. "As Forças Armadas têm a obrigação de proteger o aeroporto da cidade e só quando a situação estiver normalizada permitiremos a chegada de observadores e organismos de direitos humanos".

Estado de sítio

Na semana passada, o governo decretou estado de sítio em Pando e acusou a presença de "sicários brasileiros e peruanos" entre os que teriam provocado as mortes de camponeses.

As declarações não caíram bem entre autoridades do Brasil e do Peru. Especula-se entre diplomatas dos países vizinhos que este seria um dos motivos para o presidente do Peru, Alan García, ter avisado que não comparecerá ao encontro da Unasul. Ele mandaria um representante.

Soldado guarda a refinaria de Guillermo Elder Bell, em Santa Cruz
Soldado guarda a refinaria de Guillermo Elder Bell, em Santa Cruz
"Decretamos o estado de sítio para evitar mais violência", disse o ministro da Defesa, Walker San Miguel.

O reitor da universidade Gabriel René Moreno, Reimy Ferreira, analisou: "Decretar o estado de sítio foi reconhecer que a situação estava fora de controle. Mas seria irresponsável não decretá-lo, depois de tantas mortes".

O prefeito de Pando disse, neste domingo, a diferentes emissoras de rádio do país que continua em sua casa, que não foi preso, como mandou o governo. "Sou inocente. E isso que disseram de sicários brasileiros e peruanos é filme".

Petrobras

Neste domingo, a Bolívia viveu um dia de melhores expectativas depois do anúncio do diálogo entre governo e oposição e o desbloqueio – ainda não colocado em prática – das estradas que estão ocupadas pela oposição.

Mas as empresas petroleiras no país continuam atentas à situação, como contaram assessores da Petrobras.

"Os campos de petróleo de San Alberto e San Antonio contam juntos com 472 soldados do Exército, protegendo as instalações. Mas, na semana passada, das 25 válvulas do gasoduto que chegam ao Brasil, 15 estavam sem proteção", disse o assessor.

Quando perguntado pela BBC Brasil, se ele poderia garantir que o Brasil não sofrerá novos problemas com o abastecimento de gás, o prefeito de Tarija, respondeu: "Estou preocupado com o abastecimento de gás para o Brasil e para a Argentina, mas hoje muito mais preocupado com a situação do meu país, a Bolívia"।


Oposição boliviana anuncia fim dos bloqueios


Da esquerda para a direita, os prefeitos bolivianos Rubén Costas, de Santa Cruz, Mario Cossío de Tarija, e o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic
Prefeitos de departamentos e Branko Marinkovic (dir.) querem facilitar diálogo
A oposição ao governo do presidente Evo Morales anunciou, neste domingo, a suspensão dos bloqueios das estradas nos quatro departamentos (estados) governados pela oposição e que juntos superam em mais de 60% o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

O anúncio foi feito pelo presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic, em Santa Cruz de la Sierra, capital do departamento. Os chamados "comitês cívicos" são redutos da oposição a Morales.

"Anunciamos essa medida para facilitar o diálogo (entre governo e oposição). Esperamos que os outros bloqueios (realizados por simpatizantes do governo) também sejam liberados", disse Marinkovic. "Esperamos ainda que se suspenda o estado de sítio em Pando".

Pando, na fronteira com o Acre, registrou pelo menos 16 mortes entre quinta e sexta-feira, mas o ministro de governo, Alfredo Rada, disse que o total de vítimas fatais poderia passar de trinta.

Reunião

O anuncio do fim dos bloqueios de estradas foi feito pouco depois de confirmada, neste domingo, a reunião em La Paz entre o presidente Evo Morales e o prefeito (governador) do departamento de Tarija, Mario Cossío. Ele representará a oposição, como fez na sexta-feira durante sete horas de reunião com o vice-presidente Álvaro García Linera.

Marinkovic não comentou, no entanto, se serão liberados os 24 prédios dos organismos públicos do governo central em Santa Cruz, ocupados há dias por seguidores da oposição.

Pouco depois do anúncio, diferentes grupos de simpatizantes de Morales e do partido oficial, MAS (Movimento ao Socialismo), reiteraram que vão manter os bloqueios de estradas.

"Quem nos garante que eles também vão devolver as representações do governo central", disse um deles.

Soldado guarda a refinaria de Guillermo Elder Bell, em Santa Cruz
Soldado guarda a refinaria de Guillermo Elder Bell, em Santa Cruz
Seguidores da oposição diziam que vão esperar um comunicado por escrito antes de liberar o trânsito, por exemplo, em Camiri, setor petroleiro em Santa Cruz.

La Paz

A expectativa é de que os dois últimos gestos – suspensão dos bloqueios e retomada do diálogo – aliviem a tensão no país.

"Esperamos que, aos poucos, aqueles que incentivaram a violência contribuam para que o país volte à normalidade. Que devolvam as instituições administradas pelo governo central e que a normalidade democrática retorne ao país", disse o vice-ministro de Descentralização da Bolívia, Fabian Yaksic.

Segundo ele, o encontro deste domingo em La Paz, entre Morales e Cossío, poderá ser o início de um entendimento com uma agenda conjunta da situação e da oposição.

A reunião entre Morales e os opositores esteve ameaçada. Na noite de sábado, numa entrevista à imprensa, três prefeitos de oposição - de Tarija, Santa Cruz e Beni – decidiram impor condições para participar da reunião.

"Que não ocorra mais nenhum ferido e nenhuma morte", disse Costas. O anúncio da prisão do prefeito de Pando, Leopoldo Fernández, também motivou a atitude. "Nos solidarizamos com Fernández", disseram.

Na sexta-feira, o governo Morales decretou estado de sítio em Pando, após os fortes confrontos na semana passada.

Ao mesmo tempo, neste domingo, as emissoras de televisão informaram que um jovem que apóia os comitês cívicos de Santa Cruz e de Cochabamba teve morte cerebral – resultado dos enfrentamentos ocorridos na véspera entre seguidores e opositores de Morales.

Num discurso de despedida, neste domingo, em La Paz, o embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, disse: "Espero que a Bolívia encontre um caminho de unidade e de paz, para o bem de todos". Ele foi expulso por determinação de Morales, que o acusou de contribuir para dividir o país.

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