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sábado, 9 de agosto de 2008

Repórter da BBC relata 'cenas de pânico' em cidade bombardeada

Georgiana observa prédios atingidos por bombardeio em Gori no sábado, 9/8
Geórgia diz que 60 civis morreram ou foram feridos nos ataques russos

A aviação russa bombardeou no sábado alvos na cidade de Gori, a cerca de 25 quilômetros do coração dos conflitos na província separatista da Ossétia do Sul, na Geórgia. O repórter da BBC Richard Galpin descreve o que chama de "cenas de pânico" no vilarejo.

Vimos o impacto dos ataques aéreos em Gori – edifícios em chamas. Podíamos ouvir a aviação russa sobre nós. Em um dos ataques, o piloto errou a base militar alvejada e atingiu dois blocos de apartamentos civis.

Quando chegamos à cidade, chamas saíam por janelas em apartamentos onde ainda havia pessoas presas. Uma mulher suplicava aos bombeiros e soldados que a ajudassem a encontrar sua família. Dizia que havia ido ao apartamento em chamas mas não conseguira encontrar os parentes.

Vimos civis feridos sendo retirados de prédios. Havia claramente feridas muito graves. Soldados georgianos na cena dos bombardeios nos disseram que civis haviam sido mortos naqueles apartamentos. Vimos pelo menos um homem ser retirado sem vida.

Uma investida aérea atingiu uma base militar da qual aparentemente a maioria dos soldados havia conseguido sair antes das bombas. Militares disseram à BBC que os alvos eram bases na cidade. Há três, nas quais milhares estão estacionados.

Soubemos que o principal hospital da cidade estava lotado de vítimas. Havia cenas de pânico na cidade. Um grande número de soldados também procurava abrigo. Militares corriam pelas ruas e civis fugiam em busca de segurança. Nuvens de fumaça tomavam os céus de Gori.

Georgiana chora em frente a hospital após bombardeios em Gori no sábado
'Vimos civis sendo retirados de prédios; havia feridas graves.'

Durante toda a noite, tínhamos visto um grande contingente de tropas georgianas chegar a esta cidade. Alguns eram reservistas, o que indica que existe uma mobilização em massa neste país.

Por ora, a situação mais crítica é na Ossétia do Sul. Bombardeios massivos atingiram a capital da província, Tskhinvali, nas últimas 48 horas. Moradores são obrigados a viver longos períodos de tempo em abrigos. Há combates também ao redor da cidade.

Autoridades da região dizem que 1,4 mil pessoas foram mortas nas primeiras 24 horas do conflito – o governo central da Geórgia diz que a estimativa não tem sentido.

Também na capital, os hospitais estão lotados de vítimas. Pelo menos cem pessoas foram internadas com ferimentos. Soubemos que cerca de 30 georgianos foram mortos – entendemos que são soldados, mas é difícil saber se isto é certo.

Na estrada da capital do país, Tbisili, para cá, havia ambulâncias indo e vindo, supostamente levando feridos para hospitais com mais infra-estrutura.

A Geórgia diz que diversas bases militares georgianas e um porto na costa do mar Negro, a centenas de quilômetros daqui, foram bombardeados pela aviação russa.

Claramente, os russos estão escolhendo alvos em diferentes partes do país.


Rússia e Geórgia se acusam por 'crimes' em conflito
Comboio de tanques russos se dirige à província separatista georgiana da Ossétia do Sul
Comboio de tanques russos se dirige à província Ossétia do Sul

A Rússia e a Geórgia trocaram neste sábado acusações mútuas de "crimes" graves, em meio à ampliação do conflito iniciado na província separatista georgiana da Ossétia do Sul.

O parlamento da Geórgia declarou estado de guerra depois que a Rússia passou a atacar alvos que estão fora da área de conflito.

Já o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, defendeu o direito da Rússia de intervir para proteger cidadãos russos na província e acusou a Geórgia de cometer "genocídio" e "crimes contra seu próprio povo" na luta contra rebeldes separatistas.

Os combates já fizeram centenas de vítimas, entre mortos e feridos, e há relatos que falam em até 2 mil mortos - nenhuma estatística confirmada.

Além disso, a situação se complicou neste sábado com o que pode ter sido a abertura de uma segunda frente contra o Exército georgiano, desta vez na região da Abecásia, também separatista.

Grupos rebeldes lançaram ataques aéreos e de artilharia contra militares da Geórgia. O governo diz que os rebeldes foram repelidos.

Ataques

O sábado foi marcado pelo ataque de jatos russos a alvos militares na cidade de Gori, próxima à capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, mas fora da província rebelde. Segundo o governo georgiano, 60 civis morreram ou ficaram feridos.

A Rússia diz que Tskhinvali está sob seu poder e que Gori é onde as tropas da Geórgia se concentram para tentar tomar a região separatista.

O ataque levou o parlamento da Geórgia a declarar estado de guerra, o que dá ao presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, autoridade para convocar reservistas e elevar os esforços militares na Ossétia do Sul.

Cerca de 2 mil homens que serviam no Iraque já foram reconvocados para lutar em casa.

Em uma entrevista à BBC, o presidente georgiano acusou a Rússia de crimes de guerra ao atacar áreas residenciais.

"Durante toda a noite, bombardeios russos tentaram atingir oleodutos que estão a centenas e centenas de quilômetros da zona de conflito", declarou Saakashvili.

"Não se trata apenas de parar os combates na zona de conflito. Eles estão destruindo meu país, minha democracia, controlando as rotas de energia para a Europa e fazendo tudo isto de maneira brutal, porque basicamente 90% das pessoas que eles mataram são civis que estão sendo deliberadamente atacados", acusou.

"Estamos efetivamente falando de crimes de guerra."

A recente explosão de violência começou depois de uma operação de forças da Geórgia contra rebeldes ossetas que, segundo a Rússia, estaria colocando em risco a vida de cidadãos russos.

"Historicamente, sempre que a Rússia atacou um país vizinho, afirmou que foi uma invasão provocada. Eles sempre disseram ter ido 'resgatar minorias' – na Polônia, na Finlândia –, sempre tiveram um pretexto para invadir – a Hungria, a Tchecoslováquia, o Afeganistão. Isso é a velha propaganda soviética", disse Saakashvili.

"Mas nós estamos no século 21, pelo amor de Deus. Apenas respondemos com nossas Forças Armadas depois que 150 tanques russos e carros blindados cruzaram a fronteira georgiana e entraram no nosso território."

Em outro momento, ele declarou a jornalistas enquanto visitava um hospital: "Fiz um apelo ao presidente russo Dmitri Medvedev propondo acabar com essa loucura".

'Genocídio'

Também neste sábado, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, acusou a Geórgia de cometer "genocídio" e "crimes contra seu próprio povo" no conflito.

"Atacando a integridade territorial da Geórgia e assim causando mais prejuízos à sua própria nação, é difícil imaginar como é possível convencer a Ossétia do Sul a fazer parte da Geórgia após esses eventos que ocorreram e continuam a ocorrer", afirmou Putin na cidade de Vladikavkaz, na fronteira entre a Rússia e a província georgiana.

"A agressão levou a inúmeras vítimas, incluindo a população pacífica e civil, e provocou uma verdadeira catástrofe humanitária. E isto é, claro, um crime contra seu próprio povo."

Mapa da Geórgia

Putin disse que o que está acontecendo na Ossétia do Sul "é um genocídio".

As declarações foram reproduzidas pela TV e a agência oficial russas. Mais cedo, ele defendeu a intervenção militar russa na província georgiana.

"Para a Rússia, do ponto de vista legal, nossas ações são absolutamente justificáveis e legítimas. Além do mais, são necessárias, em linha com acordos internacionais que nos obrigam a realizar não apenas tarefas de manutenção da paz mas proteger o outro lado se um dos lados do conflito desrespeitar o cessar-fogo, que é o caso na Ossétia do Sul."

Diplomacia

Uma delegação incluindo enviados americanos e europeus está se dirigindo à Geórgia para tentar negociar um cessar-fogo na região.

Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU não conseguiu chegar a um acordo sobre uma declaração pedindo o fim das hostilidades.

A Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a França afirmam que a agressão russa seria o principal fator do conflito, enquanto Moscou culpa a Geórgia.

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu que a Rússia retire suas tropas e respeite a integridade territorial da Geórgia.

O órgão de segurança da União Européia alertou que o conflito na região pode se transformar em uma guerra.

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