Na década de 60, a UNE foi um dos principais focos de resistência à ditadura militar. Em abril de 1964, quando a entidade era presidida pelo governador de São Paulo, José Serra, militares invadiram o prédio e o incendiaram, após agredir os estudantes que nele se encontravam. Dezesseis anos depois, o que restou das instalações foi demolido por ordem do então presidente João Figueiredo e no local fez-se um estacionamento.
Há anos, a UNE conta com um projeto de reconstrução de sua sede desenhado por Oscar Niemeyer, com um custo estimado em R$ 30 milhões. Em seu discurso, Lula prometeu ajuda financeira para a realização desse projeto. Mas, como o governo não pode transferir dinheiro do contribuinte para uma entidade que não é pública, ele recorreu ao expediente jurídico da "indenização". A mensagem que o Executivo enviará ao Congresso fixará o valor da reparação, que será usado para custear a obra.
"Não quero culpar uma ou outra pessoa, quero culpar o Estado brasileiro, do qual hoje sou o presidente da República. A UNE, por tudo que fez neste país, por tudo o que significou na luta pela democracia, jamais deveria ter sido destruída. Ela deveria ser sempre enaltecida", disse Lula, após uma confusa peroração sobre "vilões" e "heróis" na vida política brasileira, destinada a pôr água na fervura da polêmica sobre a Lei da Anistia. Na ocasião, ele também deu a entender que, se os dirigentes da UNE apresentarem ao governo algum tipo de projeto de natureza "social", ela poderá receber recursos de instituições financeiras oficiais a título de prestação de serviços.
No mesmo dia em que o presidente fez essa afirmação, o Ministério da Saúde assinou um convênio no valor de R$ 2,8 milhões para o projeto "Caravana da UNE". Trata-se de um ônibus que percorrerá todo o País para "discutir" temas de saúde, educação e cultura em 41 universidades.
Convênios desse tipo ilustram a estratégia que tem sido utilizada pelo governo para financiar ONGs vinculadas ao PT e entidades pseudofilantrópicas mantidas por centrais sindicais. Essa é uma forma de distribuição de dinheiro público para fazer política, o que levou o Senado a instalar no ano passado uma CPI para investigar esses gastos.
Desde a ascensão de Lula ao poder, em 2003, a UNE vem atuando como entidade chapa branca do governo. Entre 2004 e 2005, ela foi utilizada para mobilizar apoio para o polêmico projeto de reforma universitária elaborado pelo Ministério da Educação, que se encontra engavetado. Em troca, a UNE é beneficiada por convênios e outras benesses, como o monopólio na expedição de carteiras de estudante, o que rende uma vultosa receita para a entidade, há muito tempo controlada pelo PC do B, graças ao desinteresse da maioria dos universitários pela UNE.
Não é por acaso que antigos líderes estudantis estão criticando a entidade, acusando-a de ter se desfigurado por suas notórias vinculações com o governo. "A UNE não é exatamente o que foi no passado. Antigamente, era uma oposição intransigente. Hoje, ela não se manifesta muito, sobretudo nos momentos que envolvem alguma luta política em Brasília", diz, por exemplo, o deputado Fernando Gabeira. "A UNE teve uma posição muito branda, quase inexistente, no caso do senador Renan Calheiros. Isso mostra que ela perdeu um pouco daquele impulso que tinha no passado."
Na mesma solenidade em que Lula discursou, a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, afirmou que a entidade representa "o simbolismo de resistência contra a ditadura". Desde que antigos opositores do regime militar passaram a receber generosas compensações financeiras do Estado por sua militância política, esse tipo de argumento se desmoralizou.
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