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quinta-feira, 17 de abril de 2008

OS MAIAS - Minissérie Especial da Rede Globo

Os Maias, minissérie em 44 capítulos da Rede Globo de Televisão,é uma adaptação de Maria Adelaide do Amaral do livro homônimo do escritor português Eça de Queiroz.

A história, exibida de terça a sexta a partir do dia 9 de janeiro de 2001, conta a história de uma família de aristocratas do século XIX marcada pela paixão e pela tragédia.

Dom Afonso, patriarca da família Maia, lamenta o catolicismo obtuso que guiou a educação dada por sua mulher a seu filho Pedro. A isso atribui a paixão desmedida que acomete Pedro, até então um jovem melancólico, por Maria Monforte, uma filha de um traficante de escravos que sofre com o preconceito da aristocracia lisboeta.

Os jovens decidem se casar mesmo contra a vontade de Afonso, que não aceita o passado que macula o nome Monforte. Os dois vivem anos de plena felicidade conjugal - têm um casal de filhos - e boa convivência social. Um acidente envolvendo um nobre italiano, no entanto, vem mudar o destino dos dois. Pedro o fere durante uma caçada e, culpado, o leva para sua casa. Maria se apaixona pelo belo jovem e deixa Lisboa, levando a filha.Pedro retorna ao Ramalhete, nome da casa do pai, mas não consegue aceitar as condições da partida da esposa e se mata.

A Afonso resta, assim, cuidar do neto Carlos Eduardo, o que o faz segundo suas convicções racionalistas na propriedade de campo dos Maia. Carlos vai estudar medicina na Universidade de Coimbra, o que muito espanta a aristocracia carola e parasitária que o cerca. Durante este período, conhece seus primeiros amores e os amigos que o acompanharão de volta a Lisboa: João Ega - uma espécie de alter ego do próprio Eça de Queiroz que conduz discussões literárias com Alencar, poeta romântico - e Teodorico - cômico personagem extraído do hipócrita universo religioso de outro romance queiroseano, A Relíquia.

Afonso decide retornar ao Ramalhete para viver ao lado do neto, que, após graduar-se, monta um consultório em Lisboa onde atende gratuitamente. Com toda sua força de caráter, porém, Carlos não resiste à paixão por Maria Eduarda , uma moça que se faz crer casada, mas, na verdade, vive em concubinato com o brasileiro Joaquim Castro Gomes.

Carlos suporta a mentira e o passado da amada, mas o destino é mais forte que o amor que os une. Mariia Monforte volta de seu auto-exílio decidida a conhecer seu filho e compreende a fatalidade que assolou a vida da família: Carlos e Maria Eduarda são irmãos. Afinal - já havia vaticinado Manuel Vilaça, antigo administrador da família -, "Sempre foram fatais aos Maias as paredes do Ramalhete".

Ciente da tragédia, Carlos faz amor com a irmã uma última vez. Não tarda, entretanto, e ele participa o fato a Maria Eduarda. E a última imagem que ela guarda da cidade que foi palco de tal drama é a do amado que a levara à estação de trem.

OS PERSONAGENS

OS MAIAS - PRIMEIRA FASE

Afonso da Maia (Walmor Chagas)

O patriarca da família Maia, pai de Pedro e avô de Carlos, é um velho racionalista, que na juventude foi um jacobino, cujo furor consistia em ler Rousseau e a "Enciclopédia". Optou pelo exílio voluntário com sua família, na Inglaterra e na Itália, voltando para Portugal com Pedro já crescido. É um homem rígido, de idéias firmes, muito liberal em suas convicções políticas mas extremamente conservador quanto aos valores familiares.


Por trás de seu aspecto rijo e austero, revelava-se terno e generoso: "era dos que não pisam um formigueiro e se compadecem da sede de uma planta".

Pedro da Maia (Leopnardo Vieira)

Desenvolvera-se lentamente, sem curiosidades, indiferente a brinquedos, a animais, a flores, a livros. Nenhum desejo forte parecera jamais vibrar naquela alma meio adormecida e passiva. Era em tudo um fraco.

Filho único de Afonso da Maia, Pedro é um belo rapaz, com seus olhos que parecem sempre prontos a umedecer. Criado num ambiente lúgubre, às voltas com a mãe, uma fervorosa beata, e educado por padre Vasques, que tratou de imbuir no seu espírito o temor a todas as coisas materiais e espirituais, tornou-se um rapaz pequenino e nervoso, com pouco da raça e da força dos Maias.

Taciturno e melancólico, cultiva aos poucos um temperamento romântico: não o romantismo impetuoso e viril que veremos mais tarde em Carlos,mas passional e mórbido - próprio dos românticos da época. Vai se apaixonar por Maria Monforte, e este sentimento violento o levará, mais tarde, ao suicídio.

Maria Monfort (Simone Spoladore)

Seus olhos maravilhosos iluminavam-na toda; e com o seu perfil grave de estátua, o modelado nobre dos ombros e dos braços que o xale cingia - pareceu a Pedro nesse instante alguma coisa de imortal e superior à Terra

A grande paixão de Pedro da Maia, é uma menina impulsiva, romântica, que gosta de ler novelas e pretende transformar a sua vida em uma. Filha de Manuel Monforte, um homem mal-visto, Maria vê em Pedro não só um homem que possa lhe trazer o romance necessário em sua vida, mas também uma vida social alegre, chique e agitada - afinal, ele pertencia a uma família conceituada. Dá ao filho o nome - Carlos Eduardo - de um príncipe, personagem que enfrenta aventuras e desgraças, amores e façanhas, tão a seu gosto.

De temperamento esfuziante, contagia a todos ao seu redor. É, porém, uma alegria coquete e superficial. Pelo próprio gênio impulsivo e rasteiro, está sempre à procura de novidades, de novas emoções, nada a contenta ou a satisfaz em longo prazo. A partir desse temperamento inquieto e volúvel, é fácil prever que ela não se acomodará à vida de casada e não será fiel a Pedro durante muito tempo. De fato, ao conhecer o italiano Tancredo, apaixona-se por ele e foge de casa levando consigo a filha Maria Eduarda, deixando o primogênito com Pedro. Vinte e cinco anos depois, ela volta para um acerto final de contas.

Manuel Monforte (Stênio Garcia)

Pai de Maria Monforte, é um homem de passado nebuloso, pois, comenta-se, ele matou um homem a facadas em uma briga e fugiu a bordo de um brigue americano. Manuel, porém, ao contrário da imagem truculenta que se faz a seu respeito, mostra-se sempre um homem calmo, quase bovino, que pouco aparece em público.

Tem uma grande paixão pela filha, que funciona como que uma "vitrine" para ele, e faz gosto em seu casamento com Pedro, ciente de que ele pode abrir as portas da conservadora sociedade local.

Tancredo (Fábio Fulco)

Homem com quem Maria Monforte foge, levando a filha Maria Eduarda. Napolitano, muito belo e formoso, entra na vida de Maria Eduarda. Napolitano, muito belo e formoso, entra na vida de Pedro e Maria após levar um tiro acidental de Pedro. Ao se hospedar na casa de Pedro, não tarda a se interessar por Maria, que se faz de difícil a princípio, mas não resiste à possibilidade da aventura.

Tomás de Alencar (Osmar Prado)

Um indivíduo muito alto, todo abotoado numa sobrecasaca preta com uma face escaveirada, olhos escovados, e sobre o nariz aquilino, longos, espessos, romântico bigode grisalho

Amigo de Pedro da Maia, esse jovem poeta reencontra Carlos, que conhecera criança, de-pois de 25 anos e por ele nutre um carinho paternal. Homem sentimental e extremamente e-motivo, é uma soberba encarnação do lirismo romântico. Tem horror ao naturalismo literário e é um patriota à antiga, que não admite ouvir falar mal de sua terra natal.

Dono de uma voz cavernosa e lenta, é impecavelmente honesto, generoso e dotado de uma alta cortesia de maneiras. Tem uma paixão platônica por Raquel Cohen à quem dedica poe-mas românticos. Indigna-se ao saber que João da Ega é amante da moça.

OS MAIAS - SEGUNDA FASE

Carlos da Maia ( Samir Alves (criança) / Fábio Assunção)

Filho de Pedro da Maia e Maria Monforte, é criado pelo avô após a fuga da mãe e o suicídio do pai. Afonso o cria sob métodos ingleses, deixando-o livre para brincar e sem se preocupar em fazê-lo temer a Deus.

Rapaz de intenso charme pessoal, puxou da mãe o gênio apaixonado, intenso, exacerbadamente romântico. Do avô, tem a rigidez de valores, a honra, o caráter. Do pobre pai não tem nada.

Imbuído de grande vontade de ser útil ao mundo, forma-se médico, sendo o primeiro membro da família a trabalhar. Mais tarde, apaixona-se por Maria Eduarda e vive com ela uma tem-pestuosa história de amor.

João da Ega (Selton Mello)

queria o massacre das classes médias, o amor livre das ficções do matrimônio, a repartição de terras, o culto de satanás. Desde a sua entrada na universidade, renovara as tradições da antiga boemia: trazia os rasgões da batina cosidos a linha branca. E no fundo era muito sentimental, enleado sempre em amores

O melhor amigo de Carlos, ele se forma em Direito a duras penas. Filho de uma beata, que mora numa quinta ao pé de Celorico de Basto, Ega é o desgosto da mãe, sempre escandalizada com sua irreligião e suas facetas heréticas. Sua imagem rebelde é apenas uma fachada para o seu nunca assumido romantismo. Vai se apaixonar por Raquel Cohen e sofrer muito com a não-correspondência. Será, também, ao longo da trama, o principal ombro de Carlos, o confidente, o amigo de todas as horas, solidário, firme, compreensivo. Divertido sem ser cômico, logo conquista a simpatia do avô de Carlos, Afonso, quando este vê em Ega um retrato seu quando jovem.

O melhor amigo de Carlos, ele se forma em Direito a duras penas. Filho de uma beata, que mora numa quinta ao pé de Celorico de Basto, Ega é o desgosto da mãe, sempre escandali-zada com sua irreligião e suas facetas heréticas. Sua imagem rebelde é apenas uma fachada para o seu nunca assumido romantismo. Vai se apaixonar por Raquel Cohen e sofrer muito com a não-correspondência. Será, também, ao longo da trama, o principal ombro de Carlos, o confidente, o amigo de todas as horas, solidário, firme, compreensivo. Divertido sem ser cômico, logo conquista a simpatia do avô de Carlos, Afonso, quando este vê em Ega um retrato seu quando jovem.

Maria Eduarda Mc Gren ( Ana Carolina Herquet (criança) / Ana Paula Arósio)

Os cabelos não eram loiros, como parecia à claridade do sol, mas de dois tons, castanho-claro e castanho-escuro, espessos e ondeando ligeiramente sobre a testa. Na grande luz escura dos seus olhos havia ao mesmo tempo alguma coisa de muito grave e de muito doce. Por um jeito familiar cruzava às vezes, ao falar, aos mãos sobre o joelho

É a heroína da nossa história, a paixão da vida de Carlos. Seu passado, sua origem, tudo é um mistério a ser pontuado no decorrer da trama. Chega em Portugal acompanhada do "marido" Castro Gomes e da filha Rosa. Muito bonita e atraente, é uma mulher cheia de inteligência, gosto e bondade. Sofreu muito, mas não é estóica. Ao contrário, tornou-se mais madura e serena, embora não prática e realista.

Joaquim Álvares de Castro Gomes (Paulo Betti)

Era um dândi, fútil, um gommeux, um homem de sport e de cocottes. Bastava olhar para ele, para sua toalette, para os seus modos, e compreendia-se logo a trivialidade daquele caráter. (...) Os cabelos rareavam-lhe na risca; e mesmo a sorrir tinha um ar de secura, de fadiga

Marido de Maria Eduarda e antagonista de Carlos, constitui o terceiro vértice do triângulo central da história. Apesar do ar de fadiga, é um homem de espírito empreendedor: está sem-pre viajando, embora nem sempre consegue levar Maria Eduarda consigo. Tem um inequívo-co afeto por ela. Por isso, quando se sente ameaçado de perdê-la, faz chantagens friamente calculadas; tudo nele, aliás, é medido, polido, exato e preciso.

É um homem essencialmente racional, e, apesar da aparente frieza e do cinismo cortante, não é propriamente mau, e portanto não chega a ser um vilão.

Rosa (Isabelle Drummond)

A filhinha de Maria Eduarda, vive num mundo fantasioso, sempre conversando com a boneca Cricri. Terna e encantadora, fascina
Carlos e traz, mesmo nos momentos de maior tensão, algo de lúdico que ameniza o ambienteResumindo e trocando em miúdos

Em nossa história, Pedro se apaixona por Maria quando a vê ao lado de seu pai na platéia que admira e vibra com os rituais e a exibição de força de uma tourada.

O evento foi gravado no real local onde ainda hoje ocorre semanalmente: a Praça de Touros de Campo Pequeno, em Lisboa. Essa arena foi construída no século XIX e guarda as características originais de sua arquitetura mourisca. A mistura de culturas se explica: as praças que abrigam tais espetáculos são o resultado dos templos celtas e ibéricos de adoração ao touro, redesenhados durante a ocupação árabe na península e "adocicadas" com o caráter de espetáculo atribuído pelos romanos. Ao contrário do que se imagina, portanto, as touradas não são uma tradição exclusivamente espanhola. Elas também fazem parte da cultura portuguesa, e constituem quinhão significativo do imaginário nacional.

Reservada, durante séculos, ao regozijo da nobreza, que conhecia bem os segredos da montaria a cavalo, a atividade tornou-se popular após o século XVIII, embora por muito tempo ainda tenha guardado elevado grau de ostentação e riqueza. Proibidas por Dona Maria I, a louca, as touradas voltaram ao gosto português com Dom Manuel, ele próprio um exímio toureador. Hoje, as "corridas" ainda existem, embora um sem número de manifestações clame pela abolição do que consideram um exemplo de barbárie. Os toureadores portugueses, no entanto, defendem-se alegando que os toureios lusos, ao contrário do que ocorre na Espanha, não culminam com a morte do animal. Outras diferenças em relação às touradas espanholas são a permanência do cavalo durante o ritual e o fato de que os forcados portugueses se valem apenas das mãos para imobilizar o touro, o que lhes exige ainda maior habilidade e coragem.

A platéia é um show à parte. Os homens jogam seus chapéus aos destemidos heróis; as mulheres lhes oferecem flores. Todos torcem ardentemente por sua gloriosa vitória sobre o touro, que deixa a arena humilhado mas com um séquito de vacas como compensação.

A caça (tradição inglesa) e a corrida de cavalos (cuja versão moderna foi instituída no século XVII também na Inglaterra) são outros sports com animais tematizados na obra de Eça, ilustrando alguns dos divertimentos preferidos da então ociosa e parasitária aristocracia portuguesa.
O Autor Eça de Queiroz

Muitos críticos tentam atribuir à literatura de Eça de Queiroz explicações relacionadas a fatos de sua biografia. A primeira delas começa já na infância, quando o menino, fruto de uma aventura amorosa, teria desenvolvido uma espécie de psicologia da rejeição, supostamente evidenciada mais tarde em sua literatura.

Se o relacionamento entre a realidade e ficção é válido, não se pode afirmar com certeza. Mas de fato Eça foi criado quase como bastardo, já que a mãe, Carolina Pereira de Eça, envergonhada com a gravidez, refugiou-se na pequena Póvoa de Varzim, apenas retornando ao Porto para finalmente casar-se com o delegado de comarca José Maria Teixeira de Queiroz, pai de Eça.

Mesmo assim, o menino continua distante, criado em colégio interno e passando férias com os padrinhos. Mais tarde, cursa a faculdade de Direito em Coimbra, onde toma conhecimento dos ideais iluministas, evolucionistas e positivistas que então afloravam em outros países europeus. Já aí começa a viver um dilema que carregou para o resto da vida: enquanto lê Vitor Hugo, trava relacionamento de admiração com escritores como Antero de Quental, que constituem a chamada Geração 70, opositores ferrenhos justamente dos românticos. Esta "briga" literária fica também conhecida por A Questão Coimbrã.

Após sua formatura, Eça vai morar em Lisboa. Começa a trabalhar como advogado e colaborador da Gazeta de Portugal. Muda-se para Évora, onde funda sozinho um jornal combativo que dura poucos números. Reencontra Antero e com ele integra um grupo literário chamado Cenáculo.

Em 1869, viaja ao Egito para cobrir pelo Diário de Notícias a inauguração do Canal de Suez. No ano seguinte, publica no mesmo jornal, em parceria com Ramalho Urtigão, As Farpas, uma pândega revista de cunho revolucionário. Com o mesmo espírito, pronuncia uma palestra sobre o Realismo em um ciclo conhecido por As Conferências do Cassino, em que tem oportunidade de bradar contra a decadência dos povos peninsulares, pregar a isenção do escritor e aconselhar apenas a crueza dos fatos. Mais do que a Escola realista, já se via aí indícios do estilo naturalista na literatura.

Na província de Leiria, já atuando como diplomata, inspirou-se para escrever seu primeiro grande livro: Os Crimes do Padre Amaro. Três anos depois, viria O Primo Basílio, que de tal modo assustou a crítica com a novidade da técnica narrativa, que a fez calar (com exceções como a de Machado de Assis, a quem desagrada a construção da adúltera Luísa). O romance, porém, atingiu estrondoso sucesso de público, um feito que o escritor obteria novamente apenas dez anos depois, com a publicação de Os Maias, o terceiro membro de uma trilogia que se faz clara nos subtítulos: respectivamente, Cenas da Vida Devota, para O Crime..., Cenas da Vida Portuguesa, e Cenas da Vida Romântica, para Os Maias. Nesse último, já não demonstra a mesma acidez utilizada nos anteriores, sintoma da desistência da luta reiterada por seu ingresso no grupo literário Vencidos da Vida e, na vida pessoal, até mesmo por seu casamento aos 40 anos. Finalmente, obtém o sonho de sua geração galófila: é nomeado cônsul de Portugal em Paris. Já no fim da vida, recebe uma herança que o torna rico. Escreve ainda A Ilustre Casa de Ramirez e A Cidade e as Serras, às vésperas de sua morte, há exatos 100 anos. O conjunto de sua obra, incluindo artigos e cartas, traça um panorama crítico da cultura e dos problemas sociais e políticos de seu tempo. Seu estilo, que modernizou a prosa portuguesa, é límpido e preciso e seu tom, cáustico e mordaz, desnuda os vícios da sociedade portuguesa do fim do século XIX.

Publicado em 1888, Os Maias é um retrato da decadência da aristocracia portuguesa na segunda metade do século XIX, sendo considerado por muitos a mais perfeita obra literária produzida em Portugal depois de Os Lusíadas (1572), de Luís de Camões.

Trata-se, na verdade, "de um grande melodrama - um melodrama deliciosamente bem escrito melodrama dentro do realismo contundente de Eça e com um pano de fundo retratando de maneira impecável a sociedade e todos os vícios morais de Portugal do século passado, através dos tipos criados e das situações que cercam cada um dos personagens", descreve a autora desta minissérie, Maria Adelaide Amaral.

Embora se constitua em um romance realista, Os Maias não apresenta grande número de personagens populares. Centrada na aristocracia portuguesa, a história, porém, traça com destreza um perfil psicológico verossímil, de pessoas comuns não na classe ou no modo de vida, mas ao menos no caráter e na falibilidade de atitudes. E elas tomam consciência de suas fraqueza, de seus defeitos, da vitória do instinto sobre a civilização ao se verem impotentes diante do poder maior do destino: à moda das tragédias clássicas, inocentes são castigados em tempo (um ano) e espaço (o Ramalhete) concentrados. Essa consciência é capaz de modificar o próprio aspecto físico da personagem, como o que ocorre com Carlos, que se percebe gordo apenas após cometer o pecado do incesto.

Mas mesmo nos momentos de maior tensão emocional, Eça não deixa sua tradicional ironia. Riso e Choro se misturam como suas próprias convicções em relação aos estilos literários. Em Os Maias, por exemplo, retoma o diálogo com o Romantismo através do subtítulo "Cenas da vida romântica". Sem o saber, ele resgata nesse estilo algo que transcende a rixa entre escolas: pois não é senão a própria crise do sujeito moderno o que se está a descrever no romance?

As idéias por vezes contraditórias de Eça, além de seus questionamentos acerca de temas como a validade de uma invasão espanhola, o papel das mulheres e dos judeus, estão manifestos nesse romance através da figura de João da Ega, que até nas fisicamente se assemelha ao autor do livro.

Os Maias na TV

Antes de começar a adaptação do romance para a tevê, um antigo projeto de Maria Adelaide, a autora foi ao cemitério onde Eça está enterrado para obter sua "permissão". Ela conta que, enquanto estava rezando diante de seu túmulo, pediu a ele um sinal de sua aprovação. Quando se voltou para ir embora, leu o nome Adelaide de Jesus na primeira lápide que avistou. "Coincidência ou não, pouco importa. O fato é que a visão do nome Adelaide soou como uma espécie de "vão em frente". E fomos.

Para a minissérie, ela optou por uma estrutura em flashback em função do deslocamento da cena do retorno de Carlos ao Ramalhete para o início da história. Além disso, ela precisou dar maior importância aos personagens femininos, uma minoria no livro de Eça. Para acabar de ajustar o livro às exigências da linguagem audiovisual da televisão, Maria Adelaide "pediu ajuda" a dois outros livros do autor: A Relíquia, de onde extraiu a sátira de Teodorico e Titi, e A Capital, de onde retirou Artur, um aspirante a artista que busca a fama na cidade.

Resumo dos Capítulos

Capítulo 05
Terça, dia 16/01

Durante a festa de batizado de Carlos Eduardo, Maria Monforte conhece Tancredo e fica encantada com o estrangeiro. Sob pretexto de tentar conquistar o sogro, decide mudar de vida e dedicar-se mais ao lar e à caridade. Toda Lisboa a considera uma santa. No entanto, Maria encontra-se com Tancredo e se entrega a ele secretamente. Aproveitando a ausência de Pedro, em viagem de negócios, ela foge com o amante, levando a filha.

Capítulo 06
Quarta, dia 17/01

Pedro fica desesperado com a fuga de Maria, cede o orgulho e procura o pai. Afonso fica encantado com o neto, a quem, finalmente, conhece. Pedro não resiste ao sofrimento e se suicida com um tiro no peito. Xavier e Teodorico pedem esmola nas ruas. Xavier é preso por roubar um frango para saciar a fome do filho, que, assim, fica aos cuidados de Amélia. Com a morte de Pedro, Afonso decide mudar-se com o neto para a quinta de Santa Olávia, às margens do rio Douro. Sete anos se passam e Carlos Eduardo se transforma em um rapazinho esperto. Seu preceptor inglês, Mr. Brown, educa-o com muitos exercícios e horários rígidos, apesar dos protestos de todos os amigos do avô. A pedido de Afonso, Manuel Vilaça, administrador da família, parte à procura de Maria Monforte com a missão de tentar resgatar a neta.

Capítulo 07
Quinta, dia 18/01

Por coincidência, Alencar encontra-se com Maria em Paris. Vendo a foto de uma menina adornada com símbolos de luto, o poeta presume que a neta de Afonso morrera. Amélia se apaixona por um argentino e parte com ele, deixando Teodorico aos cuidados de Padre Vásques. O eclesiástico leva o menino para sua "titi" Dona Patrocínio, que o aceita acreditando na sua propensão a seguir a vida sacerdotal. Vilaça confirma a desconfiança de Alencar em relação à morte da menina de Maria e Pedro. Carlos Eduardo demonstra sua precoce vocação para a medicina ao brincar com a amiguinha Teresinha, filha de Dona Eugênia.

Capítulo 08
Sexta, dia 19/01

Alguns anos se passam. Teodorico, cada dia mais religioso, vai estudar em Coimbra. Carlos e Euzebiozinho também partem para esta cidade. Na universidade, Carlos é procurado por Ana, que precisa de cuidados médicos. Apesar de ser casada, Ana entrega-se à paixão por Carlos. O romance dura pouco; logo ele se encanta pela bela espanhola Encarnación. Preocupada com a falta de notícias, Teresinha e Dona Eugênia viajam para a cidade para saber de Carlos. Eusebiozinho as leva até a casa do rapaz, onde encontram Carlos nos braços de sua amante. Teresinha fica decepcionada com Carlos, que na infância lhe prometera casamento.

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