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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ana Paula Arósio & Fábio Assunção

Depois de 8 anos sem fazer uma novela de época - a última havia sido Salomé -, a Globo decidiu investir numa superprodução, que teria a missão de levantar a audiência, há muito enfraquecida, do horário.

Alcides Nogueira havia escrito a sinopse de Força de um Desejo há muitos anos e, na década de 80, ela foi aprovada pela direção da Globo para ir ao ar, sob o título de Amor Perfeito, com Maria Zilda Bethlen (originalmente a protagonista se chamaria Ester Donabelli), Leonardo Villar (à época como Roberto de Sobral) e Thales Pan Chancon (o Inácio estava batizado como Trajano, seguindo a obra de Taunay) como os principais protagonistas.

Depois que a sinopse foi aprovada em 1998, Gilberto Braga recebeu a missão de desenvolvê-la, enquanto Alcides ainda colaborava com Sílvio de Abreu em Torre de Babel. Na verdade a trama seria ambientada nos anos 50 (do século XX), mas a ação acabou sendo situada no século XIX.

A trama foi inspirada em três romances de Visconde de Taunay: "A Retirada de Laguna", "Inocência" e "A Mocidade de Trajano".

A produção é formada por números grandiosos. São 60 figurantes, centenas de mulas e cavalos, mil peças de roupa e 25 cenários que criam 60 ambientes diferentes. Há ainda duas cidades cenográficas - uma reproduz uma vila fictícia do interior e outra, a Corte.

Numa semana de gravação, foram queimadas cerca de mil velas, espalhadas em candelabros e lustres, para dar um clima mais real às tramas.

Somente as externas na gravação do primeiro capítulo, feitas em Lumiar, região serrana do Rio de Janeiro, envolveram mais de 100 profissionais, outros 100 figurantes, 44 mulas, 15 cavalos e 23 veículos. Foram gastos mais de R$ 2 mil por dia em cachê e cerca de R$ 18 mil em diárias de hospedagem. Isso sem contar gastos extras, alimentação e transporte (trecho de uma reportagem, leia aqui).

As cenas suntuosas da inauguração da estaão de trem Rio-Vassouras foram gravadas numa estação antiga na região serrana do Rio.

Foi realizado um workshop com os atores, para que tivessem uma melhor compreensão do Brasil do século XIX. Em pauta, a História (Segundo Reinado, abolicionismo, republicanismo, economia cafeeira) e os costumes dos barões do café. Além disso, vários atores tiveram aulas de equitação, esgrima, caligrafia e trabalhos de voz e corpo.

Os figurinos, criados por Beth Filipecki, foram inspirados em filmes como O Leopardo, de Luchino Visconti, e (especificamente os de Ester) no guarda-roupa deslumbrante da famosa Elizabeth da Baviera, conhecida também como Sissi.



Cenas de O Leopardo (1963)


A bela e fascinante Sissi, imepratriz da Áusrtia: grande semelhança com o visual de Ester Delamare

E para conferir às roupas a beleza necessária, gastou-se muito: cerca de meio milhão de reais para confeccionar 2.500 peças.

Vários filmes serviram de inspiração também para a produtora de arte, Denise Carvalho, reprudizir peças antigas, como máquinas da redação de um jornal, moedas, notas, apólices, grilhões, etc.

Para viver a Ester, Gilberto Braga tinha em mente Ana Paula Arósio mas, comprometida com Benedito Rui Barbosa (ela protagonizaria, no horário nobre, Terra Nostra), a atriz não pôde aceitar o papel.

Mesmo assim, Fábio Assunção - que desde o início seria o Inácio - e Ana Paula Arósio fariam par romântico, dois anos depois, na minissérie Os Maias (inclusive ao lado de Salton Mello).

Sem Ana Paula, Malu Mader foi convidada para dar vida à deslumbrante Ester Delamare. Gilberto Braga confessou que Malu não estava em seus planos, "apesar de Malu fazer sempre parte do meu time", como disse, mas a atriz caiu como uma luva. Ester era prostituta sim, mas elegantíssima, nem um pouco vulgar ou escandalosa, tinha porte de rainha, além de ser inteligente e íntegra. É difícil - para não dizer impossível - imaginar outra atriz interpretando Ester.

E pensar que Malu por pouco também não integrou o elenco de Força de um Desejo. Ela estava comprometida com o autor Euclydes Marinho e iria estar de Andando Nas Nuvens. Mas felizmente - e como! - Malu acabou não participando da novela - por motivo que desconheço - e pôde nos brindar com a mais charmosa cortesã das telenovelas.

Aliás as prostitutas parecem perseguir Malu. Antes de Ester, ela já havia interpretado a Márcia de O Dono do Mundo e a Paula Lee de Labirinto, todas moças que levavam a difícil vida fácil das prostitutas - embora a primeira tenha ficado no "ramo" apenas um curto período. E depois da Ester, Malu fez ainda uma outra, a Fátima, de Bellini e a Esfinge, adaptação para o cinema do livro de seu marido, Tony Belotto.

Malu e Fabio Assunção, aliás, já haviam formado um casal apaixonado no ano anterior, na minissérie Labirinto, do mesmo Gilberto Braga.

Depois de quase 20 anos afastada, Sônia Braga voltava às novelas brasileiras. Marcada por papéis de mulheres sensuais e alegres, ela retornava para viver uma mulher e oprimida e culpada, que sofria com as humilhações impostas pelo marido e se torturava por tê-lo traído. Sônia mostrou mais uma vez que não é apenas um rosto e um corpo bonitos, mas sim uma atriz de primeira categoria, uma atriz soberba. Todas as suas cenas foram profundamente emocionantes, sobretudo a última, em que contracenou com Reginaldo Faria (ouça).

Antes de Helena, Gilberto Braga já havia reservado três outros papéis para Sônia: a Luíza de Brilhante, a Ester de Pátria Minha, que acabou sendo reescrita para Patrícia Pillar e a Betty de Labirinto (a personagem acabou ganhando o nome de Leonor porque, como as negociações com Sônia deram em nada, Betty Faria acabou ficando com o papel, mas se sentiu incomodada por interpretar uma personagem com seu nome).

Em entrevista a um jornal carioca, Gilberto fez um comentário curioso: disse, em tom de exemplo, que poderia na reta final da trama, revelar que Helena não tinha morrido de morte natural. Como era apenas um exemplo que o autor estava dando, para dizer que escrever uma novela é como entrar num labririnto onde nem mesmo ele sabe como chegar ao fim, ninguém levou muito a sério, mas no fim foi justamente o que aconteceu: a morte de Helena era o ponto de partida para todas as outras mortes misteriosas que ocorreram em Santana e que estavam previstas na sinopse.

Júlia Feldens seria na verdade a escrava branca Olívia. Acabou ficando com a Juliana e deu graças à Deus: chegou à conclusão de que não daria conta do papel.

Se ela daria conta ou não, não sabemos, mas certamente sua Juliana foi impecável. Júlia conseguiu passar uma doçura e um romantismo impressionantes, conquistanto para si a simpatia do público.

A novela revelou o talento de vários atores negros, entre eles Sérgio Menezes, Ana Carbatti e Alexandre Morenno (leia reportagem) e representou uma ótima oportunidade para fazer outros já conhecidos brilharem, como Chica Xavier e Isabel Fillardis.

Isabel Fillardis, aliás, estava confirmada no elenco de Suave Veneno, novela de Aguinaldo Silva, mas, sem mais nem menos, foi substituída por Patrícia França. Tanto melhor, já que Isabel acabou se revelando uma atriz ainda melhor do que se pensava, pois sua Luzia era ao mesmo tempo má, nos fazendo sentir raiva dela, e cômica, nos fazendo rir. Já Patrícia França caiu numa fria em Suave Veneno e sua Clarice, que era em tese o centro do grande mistério da novela, acabou se apagando em meio a uma trama confusa - ainda que na teoria fosse brilhante - e foi assassinada bem antes do previsto.

Cláudia Abreu foi unanememente aclamada por sua Olívia, a escrava branca que sofreu horrores nas mãos do vilão Higino Ventura, mas nem por isso caiu na mesmice de uma lacrimejante moça sofrida. Olívia era ladina, inteligente, sensual, decidida. Cláudia encontrou o tom exato e fez rir, chorar e vibrar numa interpretação memorável.

Outra que roubou a cena foi a grande Nathália Timberg. Sua Idalina reinou absoluta e a atriz esbanjou talento, como aliás sempre faz. A personagem circulou por diversos núcleos, deixando sempre o seu rastro de maldade e arrogância.

O vestido de noiva de Alice, desenhado pelo figurinista Otacílio Coutinho, foi inspirado no traje que Claudia Cardinale usou em O Leopardo. Com tule rebordado com miçangas e vitrilhos e prgas que valorizam o decote, se fosse vendido nas lojas, esse vestido não sairia por menos de 350 mil reais - "o que encarece a roupa são os bordados, todos feitos à mão", diz o figurinista.

Ao contrário de outras novelas, que utilizam os persoangens escravos apenas como meros coadjuvantes que compõem de forma pouco presente as tramas, em Força de um Desejo os escravos tinham importância capital, com tramas próprias, além de ser mostrada sua cultura e religião.

Mais uma vez Iaçanã Martins fez uma novela de Gilberto Braga: ela entrou na trama como a ambiciosa Socorro, que chatageou e arrancou muitas lágrimas - e um broche de brilhantes, diga-se de passagem - de Juliana.

Para o papel do conde Pedro Afonso, foi cogitado o nome do ator Marcello Novaes.

Foi a última novela de José Lewgoy, que faleceu em 2003.

As novelas globais são estruturadas para 180 capítulos, em princípio. Força de um Desejo teve 226, o que desgastou bastante os autores que, mesmo assim, não deixaram aparecer a famosa "barriga".

Força de um Desejo foi uma novela curiosa. Tinha texto brilhante, elenco afinadíssimo, figurinos deslumbrantes, cenários suntuosos, direção perfeita, enfim, tudo impecável, foi elogiadíssima pela grande maioria dos críticos, mas a audiência ficou muito aquém do esperado. O "trilho" da Globo era de 35 pontos, mas Força patinava nos 25, conseguindo ter média pior que a de sua antecessora, Pecado Capital, já considerada fracasso. Depois de algumas pesquisas, a emissora descobriu que o defeito da novela era ser sofisticada demais. Daí conclui-se: jogou-se pérolas aos porcos.

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