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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Maria Adelaide Amaral – A emoção libertária.

la escreve magnificamente, tem uma capacidade de produção invejável, é corajosa, leal, amiga, bom caráter... “Uma guerreira”, como definiu a atriz Tuna Dwek na recente biografia Maria Adelaide Amaral – A emoção libertária. Discreta, a premiada escritora e dramaturga declarou que se sente constrangida quando é alvo de elogios. Mas como não expressar admiração por sua rara sensibilidade ao retratar emoções e conflitos, situações e relações humanas?

De peças como A resistência, Bodas de papel, De braços abertos, Para tão longo amor, Intensa magia, Tarsila e Mademoiselle Chanel, entre outras que mereceram o aplauso do público e da crítica, às prestigiadas minisséries de tevê – A muralha (baseada na obra de Dinah Silveira de Queiroz), Os Maias (Eça de Queiroz), A casa das sete mulheres (Letícia Wierzchowski), Um só coração –, todos os seus trabalhos se tornaram marcantes, seja pela força dos diálogos e das seqüências, seja pela fantástica precisão e reconstituição de época. Sem esquecer os romances publicados, entre eles Luísa – Quase uma história de amor (Prêmio Jabuti), O bruxo, Aos meus amigos, Querida mamãe, Ó abre alas, Estrela nua.

No momento, a autora está mergulhada num novo projeto, que considera um dos mais significativos de sua carreira: a minissérie JK, que estreou em janeiro na Rede Globo, sobre a trajetória do presidente Juscelino Kubitschek. “Estou possuída, só penso nisso dia e noite, só leio sobre isso. É a bendita paixão que move meu trabalho; não conheço outra forma de atingir o coração das pessoas.”

Maria Adelaide se encantou pela literatura ainda menina. Portuguesa de nascimento, paulistana de coração, ela se acostumou, desde cedo, a buscar refúgio nos livros de história. “Minha realidade era tão complicada e sofrida que eu precisava inventar um mundo melhor para mim. Quer um mundo melhor do que o da ficção? Eu embarcava nas narrativas sobre fadas e princesas e passava a viver o que lia num exercício de pura evasão. Era algo compulsivo – eu adorava, sorvia, vivia emocionalmente de leitura. Meus pais estavam muito ocupados com a questão da sobrevivência, então, aprendi a viver com os livros. Foram eles que me ensinaram a pensar, a discernir, me deram princípios, formaram meu caráter. E foi graças a eles que me desenvolvi profissionalmente. Com certeza, esse conhecimento é o que faz a diferença nos meus trabalhos.”

Foram as dificuldades também que a impeliram a escrever: “Quem nunca enfrentou problemas não tem motivação para fazer ficção e poesia. Fazer ficção é um mecanismo de compensação extraordinário. Agradeço todos os dias a Deus e aos meus santos por esse dom. Escrever, para mim, é uma necessidade vital. Escrevo para dizer o que não consigo de outra maneira, para saber como sou e o que penso. Escrevo para ser amada, para não enlouquecer, para resgatar e transmutar através da ficção o que não foi possível transmutar na vida real.”

Seu percurso no universo da leitura começou de forma caótica, como diz. “No início, o que me atraía era apenas um bom enredo. No fim da adolescência, passei a exigir também qualidade de linguagem e de estilo. Muitos autores conseguem essa junção perfeita. Machado de Assis e José Saramago, por exemplo. Mas eu lia de tudo, com sofreguidão, desordenadamente. De J. Cronin a Jorge Amado, passando por Eça de Queiroz, Pitigrilli e Maria José Dupré (Sra. Leandro Dupré).”

“Houve uma fase em que meu amigo Décio Bar, um intelectual brilhante, resolveu me orientar e fez uma lista dos autores fundamentais, incluindo Sartre, Simone de Beauvoir, Fernando Pessoa, Erich Fromm e muitos mais”, conta. “Adorei Com a morte na alma e Sursis, de Sartre. Simone de Beauvoir sempre me fascinou. Sua biografia, Memórias de uma moça bem comportada, é um livro essencial, que me abriu os olhos e a cabeça. Eu sentia um prazer imenso também em escolher um tema, época ou autor e mergulhar fundo. Fazia até roteiros sentimentais literários nas minhas viagens, visitando as casas onde os escritores haviam morado e os lugares que freqüentavam. Assim foi com Proust, Flaubert, Balzac, Shakespeare...”

Quando alguém lhe pergunta o que é preciso para se tornar um autor, Maria Adelaide responde: “Leia muito”. E, seguindo a iniciativa de Décio Bar, faz uma lista dos escritores que contribuíram para a sua formação, entre os quais Dostoiévski, Machado de Assis, Thomas Mann, Tolstói, James Joyce, Joseph Conrad, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Virginia Woolf, Stendhal, Gustave Flaubert, Marcel Proust, Lawrence Durrell. Para os leitores do Cultura News, indica algumas leituras prediletas:

Ricardo III, o melhor drama histórico de Shakespeare.

Ligações perigosas, de Pierre Choderlos de Laclos. Um tema eterno, exemplo perfeito de literatura epistolar.

O vermelho e o negro, que alia romance histórico, acuidade psicológica e o precioso estilo de Sthendal.

Educação sentimental, de Flaubert. Menos conhecido que Madame Bovary, é um grande romance de fundo biográfico desse garimpeiro da palavra certa.

Guerra e paz. Grande Tolstói, grande galeria de personagens de um misógino que conhece e traduz como ninguém a alma feminina.

Os Maias, obra-prima de Eça de Queiroz. Uma trama esplendidamente narrada, com um rico painel de personagens e o característico pathos lusitano.

No caminho de Swann, primeiro volume de Em busca do tempo perdido. Uma bela introdução a Proust, cuja obra eu levaria para uma ilha.

O quarteto de Alexandria – os quatro volumes (Justine, Balthazar, Mountolive, Clea) de Lawrence Durrell. Sua melhor obra, tradução perfeita do mundo entre as guerras. Um dos momentos mais belos: a volta de Darley a Alexandria.

A montanha mágica. Este, assim como qualquer outro romance de Thomas Mann, eu levaria não para uma ilha, mas para um sanatório.

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