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terça-feira, 17 de maio de 2011

Ser rico não é pecado

12/05/2011 - 07h07


O Brasil ama odiar as tais "elites". Elas são, a priori, culpadas por todas as mazelas do país. Um populismo ingênuo que precisa ser superado.

Veja o caso da mudança da estação do metrô em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo entre o Centro e a Paulista.

Moradores e empresários locais são contra a instalação de estação do metrô na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, onde há décadas funciona uma loja da rede de supermercados Pão de Açúcar.

A pressão da comunidade, sim, "ricos" também formam comunidades com direitos iguais às outras comunidades segundo a Constituição brasileira, pode ter influído na decisão do Metrô de mudar a estação do bairro habitado por eles para perto do estádio do Pacaembu.

Isso gerou em alguns uma reação histérica, preconceituosa e errada no mérito. Como se os moradores locais, apenas por terem renda mais elevada que a média, não pudessem ter voz no destino de seu próprio bairro.


Rodrigo Capote/Folhapress
Esquina da avenida Angélica com rua Sergipe, na rgião de Higienópolis. Local iria receber estação do metrô.
Esquina da avenida Angélica com rua Sergipe, na região de Higienópolis; local iria receber estação do metrô

Morei muito perto dessa esquina por muitos e muitos anos. Meus pais ainda moram lá. Posso falar com propriedade que a mudança de local da estação faz bastante sentido. Já está sendo construída uma estação ali perto, no colégio e universidade Mackenzie, a poucas quadras.

Faz mais sentido a nova estação atender à região do Pacaembu (com os enormes fluxos ao estádio, à universidade Faap, aos bairros do Pacaembu e das Perdizes) do que replicar uma estação a poucas quadras em Higienópolis.

E a loja do Pão de Açúcar pode não ser arquitetonicamente relevante, mas ela há décadas faz parte da vida cotidiana do Alto Higienópolis, é peça fundamental do corpo vivo do bairro e perdê-la seria descaracterizá-lo um pouco.

A associação de moradores de Higienópolis já se equivocou antes, quando atacou a construção de shopping no bairro, que ao final trouxe serviços e valorização à região. Mas desta vez ela parece ter razão.

A pegada histórica de nossas elites tem episódios arrepiantes. Colonialismo, escravismo, autoritarismo, extrativismo humano, desigualdade extrema. Os pobres de fato sempre foram oprimidos, reprimidos, explorados, forçados à ignorância, ao silêncio, à miséria.

Mas isso também está mudando. Sob Lula, e esse foi seu grande legado, aprendemos que o capitalismo é bom para todos. O Brasil encontrou seu caminho justamente quando ricos e pobres começaram a enriquecer juntos.

Nascem uma nova elite e novos ricos. Balzac dizia que atrás de toda fortuna havia um crime. Mas isso foi no século 19. Estamos no século 21, pós Lula e FHC, pós-consenso capitalista.

Ser rico no Brasil não é mais só pecado, é também virtude.

Justiça para todos.

Sérgio Malbergier

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.








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