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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Crime de intolerância vai a júri após 7 anos



  • 19 de maio de 2011 |
  • 0h14 |

CRISTIANE BOMFIM

Depois de sete anos e cinco meses, o crime de intolerância que chocou São Paulo será levado a júri popular. O skinhead Juliano Aparecido de Freitas, de 26 anos, um dos três acusados de obrigar dois rapazes a saltarem de um trem em movimento da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana, começa a ser julgado amanhã.

O crime ocorreu em dezembro de 2003. Uma das vítimas, Cleiton da Silva Leite, com 19 anos, morreu uma semana depois por traumatismo craniano e perda da massa encefálica. Seu amigo, Flávio do Nascimento Cordeiro, então com 16, perdeu o braço direito.

Além de Freitas, são acusados Vinícius Parizzatto, de 31 anos, e Danilo Gimenez Ramos, de 24. O processo foi desmembrado e os julgamentos serão separados. O trio é acusado de homicídio e tentativa de homicídio triplamente qualificados: motivo fútil, impossibilidade de defesa das vítimas e meios cruéis. O julgamento está marcado para as 13h, no Fórum Brás Cubas, em Mogi das Cruzes.

Para o jurista Luiz Flávio Gomes, mesmo depois de tanto tempo, julgamentos de casos de grande repercussão como esse são importantes para diminuir a sensação de impunidade. “É um absurdo um julgamento demorar sete anos, mas mesmo assim é importante pois diminui a sensação de impunidade”, diz. Gomes afirma que cerca de 158 mil inquéritos criminais estão parados no Brasil.

O julgamento de Vinícius está marcado para 28 de setembro. O de Danilo ainda não tem data. “São anos de espera, vendo esses criminosos soltos. Eles cometeram essa maldade juntos e tinham de ser julgados e presos juntos”, diz Olivina Rosa da Silva Leite, de 66 anos, mãe de Cleiton.

Os pais do rapaz precisam de remédio para dormir, mas o sono é interrompido por pesadelos. Depois de tanta espera, o medo é que o julgamento seja adiado. “A gente deveria acreditar na Justiça, mas ela acontece só para alguns”, chora Olivina. Segundo o advogado das famílias, Paulo Roberto da Silva Passos, o julgamento de Freitas já foi adiado três vezes.

Na casa de Flávio, a angústia é a mesma. “Queria esquecer, mas não posso. Lembro como se fosse hoje da expressão de fúria deles. Das facas e armas usadas e eles dizendo que iam nos matar se não pulássemos.” Ele será uma das testemunhas de acusação.

Neste tempo, a vida mudou. Flávio aprendeu a escrever com a mão esquerda, mas não pode mais tocar guitarra. Neusa Maria do Nascimento Cordeiro, de 60 anos, lembra da força para incentivar o filho a se recuperar e depois, escondida, chorava baixinho. “Ele era perfeito. Não é fácil para uma mãe vê-lo nessa situação.”

Hoje, Flávio é comprador em uma empresa de produtos químicos e tem namorada. “A gente aprende a viver. Triste é saber que perdi meu melhor amigo e ver o quanto a família dele sofre.”

A maior tristeza da mãe de Cleiton é não ter impedido a morte do filho. “Se eu estivesse lá, meu filho estaria vivo, casado e feliz.”

No dia 7 de dezembro, Cleiton e sua noiva Adriana decidiram jogar boliche com os amigos Flávio e Michele. Ao entrarem em um trem na estação Brás Cubas, na Linha E, foram abordados por três skinheads vestidos com coturnos e jaquetas verdes.

Um deles tinha uma machadinha e outro, uma arma usada em lutas marciais – feita com dois bastões ligados por uma corrente de ferro. O trio obrigou os rapazes a saltar do vagão em movimento. Eles caíram entre o trem e a plataforma.

Quem vai defender Freitas no tribunal é o advogado Adriano Hisao Kawasaki. Ele assumiu o caso no último dia 10, após desistência da advogada anterior. Procurado, disse que não comentará a linha de defesa de seu cliente.







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