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sábado, 5 de março de 2011

E os alcoólatras?


Autor(es): Vivina do C. Rios Balbino
Correio Braziliense - 04/03/2011


Vivina do C. Rios Balbino
Psicóloga, mestre em Educação e professora da Universidade Federal do Ceará

O dado é assustador. O pesquisador Pablo Roig estima, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que o número de usuários de crack hoje no Brasil está em torno de 1,2 milhão. O álcool tem 16 milhões de dependentes e nada se faz? De acordo com o Ministério da Saúde, um levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em 108 cidades brasileiras sobre consumo de drogas em 2005 aponta que 0,1% da população fumou crack nos 12 meses anteriores à pesquisa. No mesmo período, 2,6% haviam fumado maconha, 1,2% tinha utilizado solvente, 0,7% havia usado cocaína, enquanto 49,8% das pessoas consumiram álcool. Dados defasados, mas altíssimos. Pesquisa recente da prefeitura de São Paulo aponta 18% de alcoólatras.

Analisando estudo da Organização Mundial de Saúde, os psiquiatras Ronaldo Laranjeira e Nino Meloni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), concluem que o alcoolismo é o principal problema de saúde pública no Brasil. Segundo eles, mais de 10% de toda a mortalidade ocorrida no país é consequência do consumo excessivo de álcool. Dados recentes do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas da instituição mostram que 22 milhões dos homens abusam do álcool, 16 milhões são dependentes e 12 milhões são efetivamente alcoólatras — um aumento de 30% em 10 anos. E mais: 8 milhões de mulheres abusam do álcool e 5 milhões são alcoólatras — um crescimento de 50% em 10 anos. Fato também grave. Cerca de 30 milhões de brasileiros são bebedores de risco. Segundo a Associação Brasileira de Alcoolismo, aproximadamente 5% dos trabalhadores são alcoólatras, sendo a terceira causa de falta ao trabalho, comprometendo o Produto Interno Bruto (PIB).

Além do mais, o álcool associado ao volante é de altíssimo risco. Sandra Pillon, da Universidade de São Paulo, mostra que 72% dos carreteiros ingerem bebidas alcoólicas e, em 51% dos casos, o uso é abusivo. Com a Lei Seca, o uso rotineiro do bafômetro no Brasil confirma o altíssimo consumo de bebidas pelos motoristas no trânsito. Lei que precisa ser aprimorada para reeducar e punir motoristas alcoolizados. Em geral, o álcool é também causa de crimes como estupros, agressões diversas, violências domésticas, sexo desprotegido, contágio de DSTs e gravidez precoce. Levantamento da OMS aponta o consumo excessivo de álcool como responsável por mais de 10% dos problemas de saúde pública no Brasil.

As doenças decorrentes do álcool são terríveis. E os sofrimentos e custos? Entre 2002 e 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou mais de R$ 40 milhões no tratamento de dependentes e procedimentos hospitalares. E hoje, gasta-se quanto? O Movimento Propaganda sem Bebidas, criado pela Unifesp e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) buscam aprovação de Projeto de Lei que regulamenta esse tipo de propaganda.

Enquanto isso, em 2010, a AmBev produziu 5,9 bilhões de litros de cerveja e a produção nacional foi de 12,4 bilhões. O Brasil, grande consumidor, tem atraído outras marcas e, com concorrência acirrada, as propagandas são cada vez mais apelativas. Pouco valem os slogans “Beba com moderação” e “Se beber não dirija.” As apelações são fortes. No tratamento de dependentes químicos, o mercado de trabalho requer profissionais experientes, mas e os “especialistas e bons gestores de políticas eficazes de prevenção” do grave problema? Com certeza, nessa área falta melhor ação governamental. Prevenir ainda é o melhor remédio. O recente Decreto n. 7.179 de 2010, que cria o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, é um sinal importante de que políticas públicas eficazes, principalmente na prevenção, logo virão para solucionar o grave problema nacional.







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